A psicóloga
Regina Beatriz de Resente Silva fez o lançamento da segunda edição do seu livro
A mulher de 40, em outubro próximo
passado. O livro resume as transformações físicas e emocionais pelas quais
passa a mulher na meia idade, faz um histórico da vida sexual feminina na
sociedade ocidental destacando as mudanças ocorridas no último século, aborda a
experiência da sexualidade neste período da vida e finalmente, apresenta os
quarenta anos como o começo da nova etapa da vida, ocasião da experiência mais
próxima do envelhecimento. Quando do lançamento da primeira edição fizemos um
comentário da descrição de Regina Beatriz sobre este momento da
existência. Falamos das partes do livro.
A segunda edição permite tocar numa questão específica que se tornou urgente e
que a autora faz com rara felicidade: situar a passagem pelos quarenta sem
fantasias, sem falsos consolos, mas apresentando-a como um tempo onde é possível estar bem.
O que faz da
abordagem de Regina Beatriz uma leitura tão feliz? Ela não fantasia os 40.
Trata-se de um tempo onde “a textura da pele muda, bem como o tônus muscular”
(p. 57). É o momento da vida em que a mulher vive o climatério e a maioria
passa pela menopausa. O corpo já não é mais o mesmo e o fato afeta o modo de
viver a sexualidade. Contra esta posição serena e objetiva da autora a pressão
irreal da mídia e da indústria de cosméticos que apresentam a mulher de
quarenta como uma espécie de extensão das de quinze ou vinte. Há pouco tempo
uma revista de circulação nacional destacou na capa o que denominou de geração
sem idade, comparando mãe e filha, apresentando-as como companheiras de baladas,
igualmente belas, igualmente disponíveis para o sexo. Nada mais falso, irreal e
gerador de frustrações.
A abordagem é
feliz porque apresenta a passagem pelos quarenta como um tempo de sofrimentos e
perdas, mas principalmente de mudanças, ocasião de “estabelecer prioridade,
rever valores, usufruir conquistas, dar uma reviravolta” (p. 113). Não se é
mais o que se foi na juventude, a nossa história nos fez diferentes.
A leitura de
Regina Beatriz é feliz porque mostra que se o corpo não é mais o mesmo e o
desejo sexual também não, isto não significa que a mulher não possa viver a sexualidade
de forma prazerosa. Em certo sentido a vida sexual pode ficar mais leve, quer
porque o medo da gravidez já não está presente, quer porque os anos e a
história pessoal permitem olhar de forma mais serena os medos e fantasias da
sexualidade. A mulher ainda tem medos, mas os enfrenta com mais serenidade.
Compreendeu que a vida, inclusive a sexual, é singular. Pode contar com ajuda
médica e psicológica para lidar melhor com as limitações da idade e das
fantasias. Pode estimular o desejo e desmistificar os preconceitos. Ela pode
descobrir que “o sentido de suas ações, tanto no sexo como na vida, não está em
evitar o fracasso, mas em ousar experimentar” (p. 79). Ela pode fazer muito se
souber escolher com o que dispõe como corpo e experiências. Há uma frase linda
que merece ser repetida: “À mulher de 40, mais consciente que aos 20 e aos 30,
fica a sugestão: aproprie-se de sua vida, seja autora de sua história. As
escolhas são suas” (p. 81). Clara percepção daquilo que o filósofo Ortega y
Gasset ensinou no último século, a vida é o que fazer com a circunstância de
que dispomos.
A
interpretação da autora é feliz porque mostra os quarenta como um momento de
passagem para a velhice. A mulher então “chora mais, ri mais, seleciona mais,
lê mais, pensa mais, pois sabe que não tem o tempo todo ao seu dispor” (p. 85).
Experimenta então o que a analítica existencial propõe, a consciência da morte é
um estímulo para uma vida mais autêntica, uma vida com escolhas que têm mais a
ver mais conosco e menos com o outros. Ela conclui: “o processo de
envelhecimento é gradual, é lento e decorre de uma sucessão de acontecimentos
(...) que transcorrem de modo vagaroso ao longo da vida. Envelhecer é um
processo (...), não é uma doença” (p. 87).