No dia 18 deste mês, o papa Francisco, Jorge Mario
Bergoglio, editou uma Encíclica intitulada “Laudato Si” (Louvado Seja), cujo título é uma
referência ao Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis.
Possui 192 páginas e 246 parágrafos e é dedicada à
ecologia. É uma alusão ao “oikos”, (οἶκος), (casa,
em grego) para significar a morada comum da humanidade sob a ameaça de
autodestruição. Inicia com a citação do Cântico das Criaturas como protótipo de
uma ecologia integral que se manifesta na natureza, o livro pelo qual Deus se
manifesta. Diz o papa Francisco, toda criatura é um valor e um fim em si. No
contexto da natureza o homem é um ser pessoal, mas não o proprietário da
natureza. E a natureza não é uma matéria bruta a nossa disposição. Os seres
viventes não são meros objetos de desfrute e proveito do homem, mas um valor
próprio perante Deus.
A ecologia é sempre uma ecologia humana. Conforme o papa,
no mundo, tudo está interligado: a fragilidade da terra e fraqueza dos pobres,
os desequilíbrios ambientais e as disparidades sociais, as especulações
financeiras às armas e estas às guerras. A terra, citando São Francisco, é mãe
e irmã e, conforme ele, quando dizia isto seu olhar voltava-se para os pobres. Qualquer
conotação ecológica é também uma aproximação social. A justiça deve integrar os
debates sobre o ambiente e escutar como os mesmos, os brados da Terra e os
brados dos pobres. Lançar a culpa ao incremento demográfico e não ao consumismo
exacerbado de alguns é uma forma de querer fugir do problema.
O papa faz um levantamento das crises ecológicas da
atualidade. Naturais: aumento da temperatura global, mutações climáticas,
aumento dos mares, empobrecimento da biodiversidade. Sociais: distribuição
injusta dos alimentos, insuficiência de água e ao direito de todos a ela. Falta
de equidade planetária. Considera que a dívida externa dos países pobres
transformou-se num instrumento de controle, mas não acontece o mesmo com a
participação dos recursos. Há uma dívida pendente entre o norte e o sul do
mundo. Há uma fraqueza na política internacional. É preciso criar um sistema de
normas que prevejam limites invioláveis e assegurem a proteção dos ecossistemas,
antes que as novas formas de poder oriundas do paradigma técnico-econômico
terminem por destruir não só a política, mas a liberdade e justiça. Este
paradigma tecnocrático tende a sobrepujar a política e estender-se para o
aumento do consumismo obsessivo.
Há trechos duríssimos e por isso mesmo havia certa
relutância nos meios de comunicação em publicá-la. Pode-se citar a denúncia da
especulação, aliada à pesquisa de lucros os quais ignoram qualquer contexto e
os efeitos perversos sobre a dignidade humana e o ambiente. Diante deste quadro
é muito provável que, com a exaustão dos recursos, vai-se delineando cenários
favoráveis a novas guerras de formas e conseqüências imprevisíveis. Para tanto,
todos devem ter coragem de se propor projetos a longo alcance e pleitear o
poder. Isto irá depender de nossa sobrevivência e a harmonia da criação.
Lembremo-nos, diz Francisco, “o objetivo das demais criaturas não somos nós”.
Avaliação: o
que de novo Francisco traz é uma valorização das demais criaturas viventes,
além do homem. Tradicionalmente dizia-se que só o homem era um valor em si,
agora Francisco estende este conceito aos demais seres vivos. Isto fica
evidente a partir do Capítulo II, 5, parágrafo 89:
“As criaturas deste mundo não
podem ser consideradas um bem sem dono: « Todas são tuas, ó Senhor, que amas a
vida » (Sab 11, 26). Isto gera a convicção de que nós e todos os seres
do universo, sendo criados pelo mesmo Pai, estamos unidos por laços invisíveis
e formamos uma espécie de família universal, uma comunhão sublime que nos
impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde”. (http://w2.vatican.va/content/dam/francesco/pdf/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si_po.pd)