quarta-feira, 9 de junho de 2010
NAMORADOS
Atração cega. A razão escurece, embota, embaça. Subjuga e anula como faz o lutador com seu adversário. Reage, quer pensar. Reúne forças para raciocinar. Diz para si: vamos ponderar e pesar os prós e os contras. Afasta o esforço de pensar. É enlaçado, enredado, enrodilhado. O corpo da sucuri empacota o corpo da vítima. Chama por socorro, o eco responde que não quer o socorro. Não quer o que quer. Sente o veneno doce fluindo pelo pelas veias do corpo. É pleno gozo do não gozado. É o gozo do não gozo, mas que o sente, presente, aumenta, avoluma-se, agiganta-se. Está aí, poderosa, bela, escondida, encontrada e novamente escondida. Ajoelha-se impotente, suplica, agradece, quer ficar longe, mas não quer perdê-la. Ela deleita, é néctar porque se saboreia apenas aquilo que se imagina. É bela e sórdida, é sórdida porque é bela.
Começa pequenina, torna-se grande. É apenas uma menina, torna-se uma mulher que faz secar a boca, tremer a pele, arrepiar os pelos. Quer a mulher, mas gosta da menina. Quer a mulher na menina, mas se encanta com a menina e se prostra perante o corpo sedutor da mulher. Refugia-se da perseguição fora de sua alma. O corpo carrega a alma de volta porque não há gozo de corpo sem a conivência da alma. Quer resguardar a alma deixando-a fora do pecado. Mas a alma busca o corpo e ambos se entregam ao êxtase daquilo que não se quer, mas se agarra. Contudo se é possuído por aquilo que ser a posse. O sofrimento é condimento do prazer como sal é para os alimentos. A dor é dolorida, mas a dor da dor refina o gozo da alegria. Tudo estremece quando se mesclam sofrimento e felicidade. O prazer é o suco da uva triturada, esmagada. O vinho levita a alma porque esmigalhou o corpo. Mas não é a alma que goza, ela é insensível.
O sofrimento do corpo é a vibração da dor da alma. Quem tem prazer com o vinho não é a alma, mas o corpo que foi triturado. O sofrimento da alma não dá prazer ao corpo, deprime-o. Mas o sofrimento do corpo purifica a alma e dá prazer ao corpo. O desejo do objeto não possuído faz surgir o vazio na alma. A ausência da presença desejada na alma faz o corpo sofrer. Mas alma mostra ao corpo toda graça, prazer, alegria que aquela presença poderia lhe trazer. O corpo a sente através da alma e se deleita mais do que se o objeto estivesse presente e fosse sentido pelo seu corpo. O sofrimento da alma é transferido para o corpo e passa a sentir a beatitude da ausência do desejado.É A PAIXÃO?
Assinar:
Postagens (Atom)
Postagens mais vistas
-
Com certeza todos se lembram do belíssimo filme “O Nome da Rosa“ baseado no romance de Humberto Eco, filósofo e literato italiano. Nesse fil...
-
Por ocasião das cerimônias fúnebres do ex-presidente Itamar Franco, (falecido em 2 e cremado em 4 de julho deste) a cujos atos fúnebres c...
-
Resumo: Paolo Rossi foi um pensador sui generis. Ao mesmo tempo em que se preocupava com a questão da ciência procurava extrair desta...