Há certos conteúdos filosóficos, sociológicos e
antropológicos que numa determinada época assume importância hegemônica em
relação aos demais. Na antiguidade podem ser citados os debates teológicos como
gnosticismo, pelagianismo, milenarismo. Na Idade Média os albigenses e mais
atual as novas religiões decorrentes do protestantismo despontaram no debate.
Uma dessas questões da idade contemporânea é A
INFALIBILIDADE PAPAL, trazida ao debate por Hans Kung. Com efeito, foi
instituído pelo Concílio Vaticano I (1869-70) convocado por Pio IX. No
documento Pastor Aeternus ficou definido que quando o papa se pronuncia em
questões de fé não pode errar. O documento admite que haver opiniões
divergentes quanto a questões seculares, mas em princípios de moral e fé é infalível.
Questões políticas e científicas fogem desta regra.
No entanto, nada menos que a infalibilidade papal é
debatida por HANS KÜNG, teólogo, contemporâneo e colega de Ratzinger, papa
renunciante com o nome de Bento XVI na atualidade.
O ano de 1968 é o epicentro do clima antiautoritário
europeu. No entanto não é esta a origem da contestação à infalibilidade papal
da parte de Kung. Ao contrário, remonta ao século XVI no debate entre católicos
e protestantes sobre a questão da justificação: pela fé ou pelas obras. E este
é precisamente a tese de doutoramento do década de Cinquenta. O autor chega à
uma conclusão inesperada, isto é,
Hans KUNG morreu aos 93 ANOS, em casa, em Tübingen,
Alemanha. Nasceu em 19 de março de 1928 e ordenado padre em Roma em 1954. Sua
atividade pastoral foi de curta duração passando então a dedicar-se à pesquisa
teológica. Seu tema predileto era a relação entre Ciência-Fé.
Após um período de notoriedade que se estende até 1970,
começa a retração com a publicação da obra: Infallible? An Inquiry
(Infalibilidade? Uma pergunta).
Como consequência em 1979 foi revogada a licença de
ensinar teologia em nome da Igreja católica. Em 1996 aposenta-se. Em 2005
encontra-se com Bento XVI para discutir teologia.
Küng defendeu o fim da obrigatoriedade do celibato, maior
participação laica feminina que, conforme ele seria um retorno à teologia
primitiva da Igreja.
Em 2015, sofrendo de Mal de Parkinson, admitiu a
possibilidade de ser submetido a um suicídio assistido.
A exclusão de Küng de professor do Instituto de teologia
criou um mal estar. O mundo acadêmico da intelectualidade católica alemã
dividiu-se em pró e contra o intelectual.
A crítica à infalibilidade papal remonta ao contexto da
Reforma Protestante. O maior teólogo protestante do século XVI foi o calvinista
foi Karl Barth. Para Kung existem diferenças entre a posição de Barth e a
católica,mas não em questões de fé. Tudo é semelhante como a terminologia, as
categorias, as formas de pensamento, mas são simplesmente diferentes. Usando
uma metáfora é como se a mesma coisa fosse dito em línguas diferentes. Era
preciso que as teologias das várias confissões cristãs fossem traduzidas para
uma língua comum. Esta seria a conclusão sobre a questão da justificação.
A infalibilidade é apenas uma etapa de um percurso mais
geral como a reforma da Igreja, a reflexão sobre as estruturas visíveis e
espirituais. Temas como a Reforma da Igreja e o cristão. A década de Setenta
envolveu Kung no conflito com Roma nos grandes temas teológicos como
Cristologia (Ser Cristão), Deus (Deus Existe?), Escatologia (Vida Eterna),
sempre numa perspectivas com as demais confissões religiosas.
Kung não se limita somente às religiões cristãs, mas
estende a mão a todas as religiões que pretendem a paz a dignidade humana, bem
como as disciplinas científicas (Teologia do Caminho).
Após tantas polêmicas o reencontro de Kung com a Igreja
de Roma, foi selado através do encontro com o antigo colega Ratzinger, ainda papa
em 2005, ratificado através da carta de Francisco por ocasião do octogésimo
aniversário, na qual o chama de “Lieber Mitbruder”, caro irmão.