O Ciclo da Paixão de Jesus poderia ter como marcos: do domingo de Ramos
até a Ascensão. Este período foi crucial para a instituição do cristianismo. O núcleo aconteceu da sexta-feira até o domingo. Nesse tempo ocorreu a
entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, a Santa Ceia, a Crucificação e a
Ressurreição.
Vamos refletir um pouco na Crucificação, sexta feira.
Historicamente aconteceu que, um homem de nome Jesus, que se dizia Filho de Deus,
foi por isso crucificado a pedido de Herodes, rei dos Judeus, e Pilatos
representante do Imperador romano, Tibério. A crucificação teve enorme
repercussão principalmente pelas consequências. O crucificado ressuscitou. Os
apóstolos e centenas de pessoas começaram a pregar uma nova religião dentro do
judaísmo. A religião expandiu-se primeiramente pelo mundo grego e depois pelo
império romano. Milhares de seguidores aumentavam mais e mais. Quanto mais martírios, mais
seguidores.
Neste ambiente surgiram os escritos testemunhando a nova religião. Emergiram de toda ordem e com todos os fins. Uns para descreverem os acontecimentos, outros para provarem uma ideia particular, outros para se autopromoverem. Era necessário colocar ordem, pois começaram surgir contradições em toda parte. Daí que se convoca um Concílio.
Embora tenha sido apenas no concílio de Nicéia, 395 d.c., a definição dos
livros canônicos, anteriormente circulavam toda sorte de escritos a respeito de
Jesus e sua religião. Alguns, inclusive, atribuídos aos apóstolos, como é o
caso do Segundo Evangelho de Pedro. Abaixo transcrevo o livro o qual traz
detalhes importantes da Crucificação de Jesus. Só para citar: o impasse entre
Pilatos e Herodes no Lava Mãos, a morte deJesus na cruz volatizando-se e subindo ao céu, em seguida continua a narração até o sepultamento e Jesus subindo ao céu logo após a
ressurreição, sem os quarenta dias na terra.
O “Evangelho de Pedro”, é considerado apócrifo. Composto em meados do século II, oferece, ainda que com detalhes estranhos, uma descrição do momento preciso da Ressurreição de Cristo. O relato reflete a necessidade que as pessoas tinham, especialmente os cristãos ligados à figura de Pedro, de imaginar o momento que transformaria para sempre suas vidas e que constituiria o centro da sua fé.
Capítulo 1
DENTRE OS judeus, porém, ninguém lavou as mãos; nem
Herodes nem nenhum de seus juízes. E, por não quererem lavar-se, Pilatos
levantou-se.
2 Então o rei
Herodes mandou que se encarregassem do Senhor, dizendo-lhes: "Executai o
que acabo de ordenar que façais com ele".
Capítulo 2
3 José, o amigo
de Pilatos e do Senhor, encontrava. se ali na ocasião. E sabendo que iam
crucificá-lo, aproximou-se de Pilatos para pedir o corpo do Senhor para levá-lo
à sepultura.
4 Pilatos, por
sua vez, mandou um recado a Herodes e pediu-lhe o corpo de Jesus.
5 E Herodes
disse: "Irmão Pilatos, mesmo que ninguém o houvesse reclamado, nós mesmo
ter-lhe-íamos dado sepultura, pois já se aproxima o Sábado e está escrito na
lei que o sol não deve pôr-se sobre um justiçado". E com isto, entregou-o
ao povo no dia anterior ao dos Azimos, sua festa.
Capítulo 3
6 E eles,
segurando o Senhor, davam-lhe empurrões e diziam: "Arrastemos o Filho de
Deus, já que veio cair em nossas mãos".
7 Depois
vestiram-no de púrpura e fizeram com que se sentasse no tribunal, dizendo:
"Julga com eqüidade, ó rei de Israel".
8 E um deles
trouxe uma coroa de espinhos e colocou-a na cabeça do Senhor.
9 Alguns dos
presentes., cuspiram-lhe no rosto, enquanto que outros davam-lhe bofetadas na
face, e outro. ainda o feriam com um pau. E havia quem lhe batesse dizendo:
"Esta é a homenagem que rendemos ao Filho de Deus".
Capítulo 4
10 Depois,
levaram dois ladrões e crucificaram o Senhor no meio deles. Mas ele permanecia
calado como se não sentisse dor alguma.
11 E quando
prepararam a cruz escreveram em cima: "Este é o rei de Israel".
12 E,
depositadas as vestes diante dele, dividiram-nas em lotes e deitaram os dados
sobre elas.
13 Um daqueles
malfeitores, porém, repreendeu-os dizendo: "Nós sofremos assim pelas
iniqüidades que fizemos; mas este, que veio para ser
o Salvador dos homens, em que pode havê-los
prejudicado?"
14 E indignados
contra ele, ordenaram que não lhe quebrassem as pernas para que morresse entre
tormentos.
Capítulo 5
15 Era então
meio-dia, e a escuridão tomou conta de toda a Judéia. Foram então tomados pela
agitação, temendo que o sol se pusesse, pois Jesus ainda estava vivo, e a lei
dizia que "o sol não deve pôr-se sobre um justiçado",
16 Então um
deles disse: "Dá-lhe de beber fel com vinagre" (1). E, fazendo a
mistura, deram-lhe a beberagem.
17 E cumpriram
tudo, preenchendo a medida das iniqüidades acumuladas sobre suas cabeças.
18 E muitos
andavam por ali servindo-se de lanternas, já que pensavam que fosse noite, e
caíam por terra.
19 E o Senhor
elevou sua voz, dizendo: "Força minha, força minha, tu me
abandonaste". E, dizendo isto, volatilizou-se e subiu ao céu.
20 Naquele mesmo
momento, o véu do templo de Jerusalém rasgou-se em duas partes.
Capítulo 6
21 Então tiraram
os cravos das mãos do Senhor e o estenderam no chão. E a terra inteira tremeu e
um enorme pânico sobreveio.
22 Logo o sol
brilhou, e comprovou-se que era a hora nona.
23 Alegraram-se,
então, os judeus e entregaram o corpo a José para que lhe desse sepultura, uma
vez que este havia sido testemunha de todo o bem que Jesus havia feito.
24 E, pegando o
corpo do Senhor, lavou-o, envolveu-o num lençol e colocou-o em sua própria
sepultura, chamada de Jardim de José.
Capítulo 7
25 Então, os
judeus, os anciãos e os sacerdotes perceberam o mal que haviam acarretado para
si próprios e começaram a bater no peito dizendo: "Malditas as nossas
iniqüidades! Eis aqui que chega o juízo e o fim de Jerusalém".
26 Eu, de minha
parte, estava sumido na aflição juntamente com meus amigos, e, feridos no mais
profundo da alma, mantinham-nos escondidos. Pois éramos tidos como malfeitores e
como aqueles que pretendiam incendiar o templo.
27 Por todas
essas coisas, jejuávamos e permanecíamos sentados, lamentando-nos e chorando
noite e dia até o Sábado.
Capítulo 8
28 Entretanto,
reunidos entre si, os escribas, os fariseus e os anciãos ao ouvir que o povo
murmurava e batia no peito dizendo: "Quando de sua morte sobrevieram
sinais tão assombrosos, como dizer que não foi um justo".
29 fugiram de
medo e foram ter à presença de Pilatos em tom de súplica, dizendo:
30 "Dá-nos
soldados para que custodiem o sepulcro durante três dias, pois pode acontecer
que seus discípulos venham, retirem o seu corpo e o povo venha a nos fazer
algum mal, acreditando que ressuscitou de entre os mortos".
31 Pilatos,
então, entregou-lhes Petrônio e um centurião com soldados para que custodiassem
o sepulcro. E com eles foram também até o túmulo os anciãos e os escribas.
32 E, girando
uma grande pedra, todos os que ali se encontravam presentes, juntamente com o
centurião e os soldados, puseram-se na porta do sepulcro.
33 Além disso,
gravaram sete selos e depois de armar uma tenda, puseram-se a fazer a guarda.
Capítulo 9
34 E bem cedo,
ao amanhecer o Sábado, uma grande multidão veio de Jerusalém e das redondezas
para ver o sepulcro selado.
35 Mas durante a
noite que precedia o domingo, enquanto os soldados estavam fazendo a guarda de
dois a dois, uma grande voz produziu-se no céu.
36 E viram os
céus abertos e dois homens que desciam, tendo à sua volta um grande resplendor,
e aproximaram-se do sepulcro.
37 E aquela
pedra que haviam colocado sobre a porta rolou com o seu próprio impulso e
pôs-se de lado, com o que o sepulcro ficou aberto e ambos os jovens entraram.
Capítulo 10
38 Então, ao
verem isto, aqueles soldados despertaram o centurião e os anciãos, já que
também estes encontravam-se ali fazendo a guarda.
39 E, estando
eles explicando o que acabara de acontecer, viram três homens que saíam do
sepulcro, dois dos quais servindo de apoio a um terceiro, e uma cruz que ia
atrás deles,
40 E a cabeça
dos dois primeiros chegava até o céu, enquanto que a daquele que era conduzido
por eles ultrapassava os céus.
41 E ouviram uma
voz vinda dos céus que dizia: "Pregas-te para os que dormem?"
42 E da cruz
fez-se ouvir uma resposta: "Sim".
Capítulo 11
43 Então eles
passaram a combinar como contariam o ocorrido a Pilatos.
44 E, enquanto
se encontravam ainda confabulando entre si, novamente apareceram os céus
abertos e um homem desceu e entrou no sepulcro.
45 Os que
estavam junto ao centurião, vendo isto, apressaram-se a ir a Pilatos ainda de
noite, abandonando o sepulcro que custodiavam. E, cheios de agitação, contaram
o quanto haviam visto, dizendo: "Era verdadeiramente o Filho de
Deus".
46 Pilatos
respondeu desta maneira: "Eu estou limpo do sangue do Filho de Deus;
fostes vós que assim quisestes.
47 Depois, todos
se aproximaram e lhe pediram encarecidamente que ordenasse ao centurião e aos
soldados que guardassem segredo sobre o que haviam visto.
48 "Pois é
preferível — diziam — sermos réus do maior crime na presença de Deus a cair nas
mãos do povo judeu e sermos apedrejados".
49 Então,
Pilatos ordenou ao centurião e aos soldados que não dissessem nada,
Capítulo 12
50 Na manhã do
domingo, Maria Madalena, discípula do Senhor — amedrontada por causa dos
judeus, pois estavam cheios de ira, não havia feito no sepulcro do Senhor o que
costumavam fazer as mulheres pelos seus mortos queridos.
51 levou consigo
suas amigas e foi até o sepulcro no qual havia sido depositado.
52 Temiam,
porém, ser vistas pelos judeus e diziam: "Já que não nos foi possível
chorar e lamentar naquele dia em que foi crucificado, façamo-lo agora pelo
menos em seu sepulcro.
53 "Mas
quem removerá a pedra que foi deixada à porta do sepulcro, para que possamos
entrar e sentar junto a ele e fazer o que é devido?
54 "A pedra
é muito grande e temos medo de que alguém nos veja. E se isto não nos for
possível, ao menos joguemos na porta o que levamos em sua memória; choremos e
golpearemos o peito até voltarmos para casa."
Capítulo 13
55 Foram, então,
e encontraram o sepulcro aberto. E nesse instante viram ali um jovem sentado no
centro do túmulo, formoso e coberto de vestes alvíssimas, que lhes disse:
56 "A que
vindes? A quem buscais? Porventura aquele que foi crucificado? Já ressuscitou e
se foi. E se não quiserdes crer, acercai-vos e vede o lugar onde jazia. Não
está, pois ressuscitou e se foi para o lugar de onde foi enviado".
57 Então as
mulheres, aterrorizadas, fugiram.
Capítulo 14
58 Esse era o
último dia dos Azimos e muitos partiam de volta para suas casas uma vez
terminada a festa.
59 E nós, os
doze discípulos do Senhor, chorávamos e estávamos escondidos na aflição. E cada
um, desgostoso pelo sucedido, retornou para sua casa.
60 Eu, Simão Pedro, de minha parte, e André, meu
irmão, pegamos nossas redes e dirigimo-nos ao mar, indo em nossa companhia Levi
o de Alfeu, a quem o Senhor...