sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

AS TEODICEIAS DA SALVAÇÃO. Selvino Antonio Malfatti



Em algum momento os homens tomaram consciência de suas fraquezas: perante a doença, a fome, desastres naturais ou a morte. Como não podiam enfrentar sozinhos as debilidades levantaram os olhos para o céu infinito, olharam a força do mar, o mistério das florestas e pouco a pouco veio à mente a ideia de um ser superior. Este poderia ser a força para suprir a fraqueza. Este seria o seu SALVADOR.

Além disso, viu-se o homem desamparado, impotente e só. Era preciso encontrar alguém que o socorresse, ajudasse e lhe desse forças. Precisava de um SALVADOR.

Ao se examinar sentiu que nem sempre acertou nas escolhas, mas que podia ter acertado. Disso surgiu o sentimento de culpa. Por mais que se queira explicar a si mesmo que não há motivo de culpa, ela reaparece enchendo a alma. Desde que o homem teve consciência de si, sentiu-se culpado. Para se livrar da culpa era necessário um SALVADOR.
Nossa posição não significa nenhuma crítica a qualquer religião e nem inclinação por alguma. Apenas procuramos explicações dedutíveis da razão e, quanto possível, argumentos empíricos. Estes podem ter tido pistas religiosas, mas nunca premissas. 

Por isso, a ideia de um SALVADOR foi buscada na consciência humana. 
Conforme a sociologia no seio das grandes civilizações emergem três grandes teodiceias que apontam para a SALVAÇÃO. 


1º O Dualismo. É uma das formas mais difundidas e existe em diversas religiões. O zoroastrismo talvez fosse o modelo mais perfeito desta forma de teodiceia. O conteúdo religioso contempla a dualidade entre o bem e o mal religioso. Nesse sentido há o puro e o impuro. O deus do bem e o do mal, o virtuoso e o pecador. O problema é que esta crença ou teodiceia envolve uma contradição. Há um deus que possui seus poderes limitados por um rival. A ideia de salvação, através de um Salvador, como na teodiceia cristã, avançou esta concepção para a vitória do bem. Para os bons ficaria reservado o céu e para os maus o inferno. O responsável pelo inferno é uma criatura subordinada ao Deus do céu. O Deus do céu, superior, castiga o deus do inferno com todos os seus, condenando-os ao sofrimento infinito e eterno. 


2º Predestinação. Nessa teodiceia se acredita que o homem é incapaz de conhecer qualquer desígnio de Deus. E por isso nada de bom pode fazer, cabendo a Deus a liberdade de escolher quem quer para a salvação. O condenado é um réprobo que merece este castigo e nada pode reclamar.


3º Salvação universal. Esta crença se poderia encontrar na religiosidade dos intelectuais indianos. A auto realização do homem está garantida na salvação universal. Destes três modelos de teodiceias advieram as quatro grandes religiões:


 1º confucionismo e taoísmo. O universo era visto como uma ordem eterna – Tao. Desenvolveu através de Lao-tsé uma mística que evoluiu para a magia. 

Salvador Confúcio.


2º hinduísmo e budismo. Era praticado por casta hereditária de letrados, que, embora não tivessem cargos, atuavam como conselheiros ritualistas e espirituais para indivíduos ou comunidades. Era uma sociedade de castas, as quais formavam uma ordem hierárquica, cujo topo era ocupado pelos brâmanes. Depois vinham os guerreiros, comerciantes, agricultores e por fim os trabalhadores. O intercâmbio entre as castas era proibido. Acreditavam na reencarnação e como todas as religiões orientais eram místicos.  Os brâmanes constituíam um centro em torno do qual gravitava toda a organização social. Os brâmanes, educados nos Veda, era o estamento plenamente aceito. Mais tarde surge outro estamento, não brâmane, que passou a competir com eles. O budismo era constituído por monges contemplativos, mendicantes e errantes. Eram considerados membros integrais das comunidades religiosas. Os demais eram considerados inferiores, objetos e não sujeitos de religiosidade.

Salvador Buda.


3º O islamismo. Inicialmente uma religião de guerreiros cujo objetivo era conquistar o mundo. Eram como os cruzados cristãos, mas sem o seu ascetismo sexual. Em torno do século VII d.C, surgiu o misticismo maometano, cujo resultado foi um simbolismo complexo muito utilizado pelos poetas.

Salvador: Maomé


4º judaísmo. Após o exílio, o judaísmo perambulou como um povo pária, isto é, o único vínculo era o Deus comum, Javé. Com a elaboração de uma lei sacerdotal, levada adiante pelos levitas, juntamente com a pregação dos profetas, abriu espaço para um caráter prático e ético, expurgando as crenças de magias que grassavam no meio do povo. Durante a Idade Média conseguiu que uma camada de intelectuais que imantava os diversos grupos esparsos pelo mundo.
Salvador: ainda estaria por vir.


4º O cristianismo. O cristianismo iniciou como uma doutrina de artesãos jornaleiros itinerantes. Permaneceu sempre como uma religião urbana e cívica. Em todos os períodos manteve este caráter: antiguidade, Idade Média e Época moderna com o puritanismo. A cidade do ocidente, diferente de todas do mundo da época, com um corpo de cidadãos, foi o palco do cristianismo. Isto pode ser aplicado às comunidades religiosas, ordem de monges mendicantes da Idade Média.

Salvador: Jesus

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