"Cristo Ressuscitado no Túmulo"
A Páscoa é uma festa judaica
relatada na Bíblia. No Primeiro Testamento os livros relataram a história da
libertação dos judeus do Egito. Eles denominavam de Pessach ou "Festa da
Libertação", a celebração desse fato que se deu aproximadamente em 1446
a.C. O relato bíblico mostra que a efetiva presença de Deus representou uma
virada na vida dos judeus cativos no antigo Egito, introduzindo na vida do povo
uma vida nova cheia de esperança. O que significou isso? Que a presença de
Deus, quando invocada com fé consciente tem o poder de mudar as coisas do
mundo. Porém, o livro do Êxodo mostra também que a mudança não vem sem
sofrimento e que a libertação e a esperança são conquistas que incluem uma
transformação interna que o homem pode experimentar diante de Deus, se ele
superar o que o mantinha numa vida pobre e inautêntica. Uma vida que não
contempla todas as possibilidades de uma vida plena. Em Êxodo 16,3 se lê: “Quem
dera tivéssemos morrido por mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos
sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão até fartar! Porque nos
tendes trazido a este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão.” E
esse mesmo lamento da condição anterior, da perda da confortável prisão em que
viviam se repete no livro de Números 11:4-6: "Ah, se tivéssemos carne para
comer! Nós nos lembramos dos peixes que comíamos de graça no Egito, e também
dos pepinos, das melancias, dos alhos porós, das cebolas e dos alhos. Mas agora
perdemos o apetite; nunca vemos nada, a não ser este maná! "
O episódio da saída de uma
vida de escravidão para uma vida em liberdade, com a promessa de uma vida plena
numa terra de fartura mostra que o homem vive nesse mundo e que enquanto aqui
estiver deve construir um sentido para viver, mas um sentido que não se esgota
no dia a dia ou na fenomenologia da existência. Ele precisa descobrir para ter
vida plena um sentido que vá além dos objetivos imediatos.
O Segundo Testamento
considera também a Páscoa o momento de passagem para uma vida plena. Nela Jesus
recupera a vida depois de haver morrido. A fazê-lo acena para a continuação da
vida como está em Mt, 28, 1-7: “Passado o sábado, no domingo bem cedo, Maria
Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo onde Jesus tinha sido enterrado. 2
Naquela ocasião houve um grande terremoto, pois um anjo do Senhor tinha descido
do céu, removido a pedra que fechava o túmulo e agora estava sentado sobre a
pedra. 3 Ele se parecia com um relâmpago e as suas roupas eram brancas como a
neve. 4 Os guardas tinham ficado com tanto medo, ao ponto que ficaram tremendo
e, ao mesmo tempo, paralisados como se estivessem mortos. 5 Então o anjo disse
às mulheres:—Deixem de ter medo! Eu sei que vocês vieram procurar por Jesus,
aquele que foi crucificado, 6 mas ele não está mais aqui. Ele ressuscitou,
exatamente como havia dito que iria fazer. Venham ver o lugar onde ele estava
deitado. 7 Agora, vão depressa e digam aos discípulos dele o seguinte: “Jesus
ressuscitou dos mortos e vai adiante de vocês para a Galileia. Lá vocês o verão
novamente”.
As duas descrições bíblicas da Páscoa
representam a passagem de uma realidade para outra mais plena, que lhe dá
continuidade. E creio que se possa somar às duas descrições pois Jesus cumpriu
toda a Lei antiga e foi um judeu excelente como reconheceram Martin Buber e
Vilém Flusser, esse último considerou mesmo Jesus a figura central do judaísmo
porque nele via quem conseguiu modificar a consciência histórica dos homens com
a noção de fraternidade universal. Isso significava apresentar um projeto
existencial para todos os homens com termos universalmente judaicos.” E assim,
embora pregasse para os filhos perdidos da casa de Israel que viviam naqueles
dias, a mensagem de Jesus é transhistórica isto é, possui um sentido
existencial que não fica presa à contingências históricas. Jesus recolhe em si
toda a experiência judaica e depois a apresenta para o mundo todo e com
validade para todos os tempos. E como modelo Ele está além de toda realidade
concreta. Creio que a Páscoa traduz isso, a proposta de um grande sentido
existencial que vem da passagem de uma vida para outra mais plena.