sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

O PENSAMENTO PEDAGÓGICO DE JACQUES RANCIÈRE. Selvino Antonio Malfatti.

 

                                        Foto Lana Lichtenstein

Desde os mais remotos tempos do pensamento ocidental é posta a questão da igualdade, como Sócrates Platão e Aristóteles. Na Idade Média a questão foi resolvida como igualdade em dignidade. Já na Idade Moderna provavelmente Jean-Jacques Rousseau tenha sido a maior expressão, com a igualdade natural. Com a Revolução Francesa ocorre um divisor ideológico: os da “esquerda” da Assembleia – grupo barulhento e exaltado, os literatos e os da “direita”, moderados e ponderados, cientistas iluministas. Os de esquerda passaram a designar os liberais e os de esquerda de socialistas, estes partidários da ideologia da prioridade da igualdade e aqueles da liberdade.  

  Mais adiante Marx a coloca a igualdade social e econômica. A partir daí a celeuma não se estingue: para a direita política a desigualdade é natural tendo em vista a individualidade. Para a esquerda é apenas um preconceito que emerge do pensamento da direita. Jacques Ranciere foca a questão da igualdade atrelando-a à educação.

O leiv motiv do pensamento de Jacques Racière encontra-se na experiência de um professor de francês, Joseph Jacotot, que na Holanda deveria ensinar aos alunos o Francês quando nem ele, nem os alunos, nada sabiam da língua. Aos alunos teria dado um texto bilíngue, Telêmaco, e solicitado por meio de intérprete que escrevessem em francês o que bem entendessem sobre o texto.

Ficou esperando o pior: que os alunos escreveriam tudo errado e distorcessem o texto. Mas qual não foi sua surpresa quando os alunos se saíram bem na tarefa.

Este fato mexeu com as teorias de Jacotot sobre o ato de ensinar. Os alunos haviam aprendido uma língua sem que ninguém lhes ensinasse sobre gramática e seus fundamentos. Por si mesmos haviam buscado as palavras francesas e combiná-las comas frases, com ortografia e gramática aumentando de exatidão à medida que avançavam no texto.

Com base nesta experiência Rancière elabora toda uma metodologia e mesmo uma teoria pedagógica. Conforme ele o professor que ensina é um opressor, um embrutecedor, pois parte do princípio de que ele, professor é sábio e o aluno ignorante. Para tanto é preciso embutir na mente do aluno os conhecimentos que o tornarão no futuro outro embrutecedor.

Isto porque, pressupõe como ponto de partida a desigualdade originária. Por que há um superior, professor, e um inferior, aluno. O primeiro ensina e o segundo aprende. Esta desigualdade é infiltrada de tal forma incutida no aluno que ele se sente inferior e isto continuará pela vida toda até que se torne um embrutecedor. Por isso em vez de o professor ensinar deve analisar.

A pedagogia tradicional, conforme Rancière, ao partir do pressuposto da desigualdade, incute a desigualdade como natural que só a educação fará buscá-la. Por esta concepção a igualdade é uma meta, e não um ponto de partida conforme Racière propõe.

Para que a igualdade originária possa ser efetiva deve-se ter em mente duas inteligências iguais com vontade próprias. A inteligência é uma capacidade de relacionar, observar, comparar, calcular e explicar como se fez. Quando não se deixar o aluno a fazer isto ou aquilo se estará embrutecendo e matando tanto a inteligência como a sua vontade.  

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