Paira no ar de forma liquida, no dizer Baumann, um conflito ora aberto,
ora velado entre gêneros, sob a forma e matéria de feminismo e machismo.
Concretamente mereceu uma análise por parte do sociólogo Alexis Lara, com o
título: ‘Negacionisme de génere. Auge, expansió i mites de l’antifeminisme. Auge, expansió i mites de l'antifeminisme (Institució Alfons el
Magnànim, 2024).
No México também é reconhecido o feminicídio como constata Marcela Lagarde quando o governo reconheceu a responsabilidade sua no assassinato de mulheres e meninas na cidade de Juárez entre 1995 e 2003. O mesmo aconteceu com a Corte Interamericana dos Direitos Humanos que condenou o Estado mexicano pelos mesmos delitos.
O feminismo consta como negacionismo na agenda de seus opositores,
fazendo vistas grossas da realidade histórico-social.
Se num determinado momento e lugar uma sociedade aceita determinadas
crenças e valores termos a janela de Overton. Quando alguma razão contrariar
estas crenças apresenta-se o negacionismo. Isto ocorre com a questão de gênero,
ou o papel de cada gênero tido como “certo” para uma determinada sociedade. Historicamente
para mulher, por exemplo, cabiam as funções de garantir os valores da sociedade
e da família, educar os filhos, desempenhar as tarefas domésticas. Enfim, à mulher
cabiam funções da vida privada.
Politicamente só começa mudar no Brasil com a lei da participação
política com o direito de votar, em 1932, pelo estatuto eleitoral e em 1934
pela constituição.
Após a conquista do voto, que seguiu os passos da Inglaterra, o
movimento feminista avançou nestes 100 anos. Atualmente há o feminismo negro, o
feminismo LBTI+ e de jovens. Por isso, o feminismo é um movimento disperso.
A disparidade de gênero acontece máxime nos cenários profissionais. Nos
altos escalões é onde repousam as maiores disparidades. Na direção os homens
ganham 51% a mais que as mulheres. Nas coordenações e supervisões, a diferença
baixa, mas ainda assim ficam 31% a mais em favor do homem.
Por outro lado, o machismo, embora não tenha um movimento organizado, se
manifesta de forma latente na disparidade de direitos entre homens e mulheres,
índices elevados de violência de gênero, assédio, estupro, objetificação da
mulher, disparidade de remuneração entre homens e mulheres nas mesmas funções.
Ainda assim há formas veladas de manifestação social de machismo. Alguns
exemplos. 1. Alguém trata de um tema e quando se depara com a figura feminina
coloca um “MAS”..2. Quando acontece algo envolvendo homens e mulheres, há
alguém que lança a culpa nas mulheres. Acontece um estupro e alguém comenta:
“mas o jeito que se veste!” 3. Perante um fato, como de uma manifestação forte
de uma mulher, costuma-se dizer: “só mulher pensa assim”. 4. Em algum acidente
envolvendo mulher sempre tem alguém que
diz: “só podia ser mulher”. 5. Há uma distinção entre assuntos de homens e
mulheres. “Não te meta, isto é assunto de mulher”.
Diante do quadro exposto sobre feminismo versus machismo o que se pode
concluir da relação homem-mulher é de: exclusão radical, de amor, de autonomia entre ambos?
Para o
machismo o homem é superior e a mulher subalterna, para o feminismo o homem é
visto como uma relação de igualdade. Portanto, para o feminismo não há uma
exclusão do masculino, mas uma relação de igualdade. Para o machismo, o
feminismo é motivo hilário. A mesma conclusão chegou uma pesquisa entre homens
e mulheres. Portanto, não passa de estereotipada a ideia de conflito
irreconciliável entre homem e mulher ou de misantropia ou misoginia. Comprova
uma pesquisa de 10.000 homens e mulheres em países diferentes, liderada pela Aífe
Hopkins-Doyle, docente junto à l’Università di Surrey, a PsyPost.
Esperamos,
através desta análise, ter contribuído em clarear os conceitos das relações
entre homens e mulheres enriquecendo o debate entre os gêneros. Neste contexto
o machismo na sua forma mais radical é o que mais acirra as relações de gênero,
enquanto o feminismo quer a igualdade sem conflitos.