Uma convivência política não precisa necessariamente ser
regida pela Verdade absoluta, mas não pode prescindir da verdade
alética. As duas verdades podem estar
não sintonizadas. Um exemplo ilustra. Na
cena entre Pilatos e Jesus. O primeiro queria se livrar de um inocente
inoportuno e lhe diz que pode livrá-lo ou condená-lo. Falou uma verdade ética.
Jesus responde que se conhecesse a Verdade...Jesus estava falando da Verdade.
Pilatos responde o que é a verdade? A de Jesus é a Verdade, a de Pilatos é a
verdade aleteia. A Verdade absoluta é uma só, as verdades da aleteia podem ser
múltiplas. Por isso Pilatos perguntou o que é a verdade: de Jesus, dos
sacerdotes judeus, de Barrabás?
A Verdade absoluta pertence à dimensão religiosa, e por isso não está aberta à discussão. Existem concepções filosóficas que se arvoram de Verdades, também não se discutem por que são dogmáticas. A verdade como aleteia está no convívio humano, e por isso é ética.
A Verdade absoluta pertence à dimensão religiosa, e por isso não está aberta à discussão. Existem concepções filosóficas que se arvoram de Verdades, também não se discutem por que são dogmáticas. A verdade como aleteia está no convívio humano, e por isso é ética.
Como diria Platão: verdadeiro é dizer as coisas como são;
falso é dizer como não são. Mais explícito Aristóteles que diz que negar aquilo
que é e afirmar aquilo que não é, é falso; mas negar aquilo que não é, e
afirmar aquilo que é, é verdadeiro. Mas o quê que é? O que não é? É verdade
aquilo que tenho convicção que é? E se minha convicção estiver errada, mas
penso que esteja certo? No meio grego não havia tradição de verdade absoluta, apenas a aleteia.
Quando pensamos amiúde acontece que o conceito de verdade
funciona de forma crítica em nossos pensamentos, ora criticando, ora raciocinando
e discutindo. Colocamos uma pergunta forçando dúvida: “esta verdade pode não
ser verdade, e se isto pode ser verdade então aquilo também é, e se as duas
forem verdadeiras, então à qual daremos razão?” Durante muito tempo nos
acostumamos a pensar numa única verdade, isto é, diante de proposições
contraditórias somente uma é verdadeira. Seria a forma dogmática da verdade, a
qual gerou e gera conflitos insolúveis. No entanto, não é a verdade que gera o
conflito, mas a possibilidade de considerar o que não é de todo verdade ou
confundir as opiniões pessoais como verdade. O conflito é originário de um
discurso distorcido, com aparência de verdade, mas não verdadeiro ou, ao menos,
não de todo verdadeiro.
No momento atual da convivência, na qual não se sabe o
que verdadeiro e o que é falso, através da proliferação maciça de fake News,
nos encontramos num ambiente, completamente desorientados. Não há mais ética
que se detenha perante o verdadeiro e o falso. Falamos aqui do que externamos que
pode ser verdadeiro ou falso. Não falamos do conhecimento científico, mas da
verdade ética. Se eu for um heliocentrista e disser que o sol gira em torno da
terra estou mentindo, embora cientificamente seja verdade. Se for geocentrista
e disser que o sol gira em torno da terra, estou mentindo também.
A verdade ética só será verdadeira quando externo o que
penso. E todo cidadão tem este direito e dever. De ouvir de outrem a verdade
ética, evidentemente a científica também. E ele, pessoalmente, agir da mesma
forma.Talvez seja este o maior direito dos cidadãos contemporâneos, isto é, o que ouvir do outro seja idêntico a um selfie de sua mente. Este é o direito à
verdade ética. Pode ser desdobrado em diversas situações de e para cada um desde
sua relação com os outros até sua relação com a mídia e todo sistema
informativo.
Vejamos:
Vejamos:
1. Informação.
Este direito se refere a poder ser informado sem ser enganado. Se ler jornal,
vir televisão, acessar internet possa ter a segurança de que a informação
repassada não for falsa por parte de quem a dá.
2. Educação.
Esta deve ser crítica no sentido grego (Κριτήρια), isto é, ter capacidade de discernimento do que for
verdadeiro e do que for falso.
3. Confiabilidade.
Este direito se refere a ser reconhecido como fonte de credibilidade, além de
não sofrer discriminação por qualquer condição: mulher, migrante, crente e
outras.
4. Fontes.
Este direito se refere poder ter acesso a fontes confiáveis de informação com
autoridade suficiente e neutralidade científica não submissa a interesses
econômicos ou ideológicos.
5. Ambiente.
Ter o direito de viver num meio político-social aleteico, protegido por
pessoas, instituições e leis que prezem a verdade na vida pública e privada.
6. Cultura.
A aleteia é também um ambiente cultural pelo qual o conjunto espiritual
favoreça a verdade.
Nossa hipótese é de que a verdadeira democracia é a verdade
no poder. Diante disso infere-se que a democracia não é propriamente as pessoas
ou seus representantes, mas do que cada um e todos acreditam e sabem, ou forma
como raciocinam e decidem com base no que sabem e creem ser a verdade. Por isso
é crucial para a democracia que os cidadãos cheguem a um consenso de verdade.
Se não se chegar a isso, não haverá democracia e, sim, guerra de opiniões e com
ela desilusão e triunfo do erro.