Trazemos esta semana para a reflexão um pensador holandês, Johan Huizinga (1872-1945), em (Sacro e quotidiano, i segreti del Medioevo - Sacro e cotidiano: os Segredos da Idade média).
Considerado eminente filósofo e
historiador da cultura do século XX, teve destaque em retratar os padrões
culturais: descrever pensamentos e sentimentos, e suas manifestações em obras
de literatura e arte.
Neste artigo comenta a Idade Média no período em que
foram lançadas as bases do mundo moderno. Com certeza não aceita a afirmativa,
sem comprovação científica, de Leonardo Bruni e Francesco Petrarca, de que a
Idade Média foi um período de trevas, uma Noite de mil Anos, um hiato de
barbárie do esplendor da cultura greco-romana e o alvorecer da Idade Moderna.
Huizinda se propõe a uma crítica. Primeiramente se pergunta pelo início e com
ele o quê e por quê? Não basta dizer quando começou, mas o quê começou? Explicar o conteúdo implica em explicar o quê
do conteúdo.
O que fez mover a engrenagem medieval?
A difusão do cristianismo? As crises demográficas, os
climas, a economia, a ética dos séculos II a VII? O fenômeno migratório? Se
colocados tais problemas não levarão ao “mito” evolucionista?
Parece que a Idade Média não fugiu à regra das sociedades
de nascer, se desenvolver e entrar em declínio, isto é, teve seu outono ou
ocaso.
Novamente a questão? O quê e por quê? Conteúdo e causas.
Podem ser apontadas: perda da importância das instituições eclesiais, perda de
confiança no modelo político, a substituição do universalismo pelos estados e
nações, a ordem cósmica substituída pela concepção humana e a consequente
secularização, a ética universal cede lugar ao individualismo, novos valores
éticos como econômicos e tecnológicos, dão lugar aos religiosos e
sobrenaturais.
Tudo isto nos leva a pensar em múltiplas intersecções de
formas dialógicas: unidade e diferença, homogeneidade e diversidade,
conservação e reforma, ordem e mudança, continuidade e descontinuidade e
permanência e ruptura.
Mas há um fato novo em tudo isto: a dilatação do mundo. O
pequeno mundo europeu com a parte conhecida do oriente, de repente, se expande
em continentes em proporções até então não imaginadas. Os novos mundos
abriram-se à exploração e o homem deixou para trás as antigas teorias e
lançou-se ao explorando. Este é o conteúdo e a causa da Idade Moderna. Como
diria Carlo Maria Cipolla: Foram os navios e os canhões que transformaram o mundo
antigo e medieval.
A Idade Moderna incorporou as concepções cosmológicas da
antiguidade e da Idade Média: pelo primeiro, um sistema de terras cercadas por
mares imensos, montanhas, pântanos, desertos e florestas habitados por feras ou
monstros. Jamais seria capaz de possuí-lo; pelo segundo uma imensa esfera,
agora com um homem determinado pela vontade e secundado pela tecnologia
conseguirá não só dominar, como possuir o sistema.
Frases famosas de Johan Uizinga:
La povera Europa si avviava verso la prima guerra mondiale
come un'automobile sgangherata in mano di un conducente ubriaco per una strada
tutta buche e cunette.
(A pobre Europa caminhava para a Primeira Guerra Mundial
como um carro em ruínas nas mãos de um motorista bêbado em uma estrada cheia de
buracos e buracos.)
Educators
are aware that they can reach the youth only by making use of gang spirit and
guiding it, not by working against it.
(Os educadores têm consciência de que só podem atingir os
jovens fazendo uso do espírito de gangue orientando-o, não o combatendo.)
These are
strange times. Reason, which once combatted faith and seemed to have conquered
it, now has to look to faith to save it from dissolution.
"Estes são tempos estranhos. A razão, que outrora
combateu a fé e parecia tê-la conquistado, agora deve recorrer à fé para
salvá-la da dissolução."
Revolution
as an ideal concept always preserves the essential content of the original
thought: sudden and lasting betterment.
(A revolução como conceito ideal sempre preserva o conteúdo
essencial do pensamento original: melhora repentina e duradoura.)
((“Fonte: https://le-citazioni.it/autori/johan-huizinga