Moda é realidade interessante, representa uma mania de certa geração. Uso comum é também sinônimo de moda, mas a melhor forma de explicá-la é estatisticamente, moda é o que mais se repete numa geração. A combinação dessas variáveis: moda e geração é necessária, pois, como mostrou o pensador espanhol Ortega y Gasset, em cada época convivem três gerações distintas, uma que ainda não assumiu o protagonismo da sociedade, outra que o detém e uma terceira que está deixando esse protagonismo. Essa convivência de gerações é comum em todos os tempos.
A
moda se mostra na forma de vestir de uma geração, frequentemente serve para
distingui-la, outras vezes são hábitos que a diferenciam. Moda está associada a
coisas novas. A vida renova problemas e costumes, o que não é mal, a vida muda.
Novos problemas exigem que as pessoas orientem a bússola do sentido existencial
para reorientar a sua trajetória de vida. Os filósofos, nesses últimos séculos,
mostraram que ter um sentido na vida é condição para uma existência
verdadeiramente humana, pois ajuda a distingui-la das outras. O psiquiatra
Viktor Frankl entendeu ser necessário ter um sentido para ter vida saudável.
A
moda promove coisas interessantes, mas frequentemente estimula o ridículo, o
sem sentido e o estranho. Para percebê-lo é necessário viver um pouco. É que
novidades atraem os mais novos e se elas estão bem embaladas, muita gente adere.
E pouquíssimos se dão ao trabalho de submeter o novo à crítica. Isso para não
falar da renovação da embalagem de coisas bem antigas. Um exemplo de nova
embalagem vivi recentemente. Fui educado nas aulas duríssimas do Sr. Juca,
professor de ginástica do antigo Colégio São João. Sem dispor de muitos meios para
conduzir a atividade enchia latas de tinta com massa de cimento, levava pneus
velhos de trator ou caminhão para serem levantados ou carregados, utilizava-se
de cordas para os alunos subirem. E para dar um certo dinamismo àquela coisa
horrível chamada treino, ele punha os alunos para correr em volta do campo de
futebol, enquanto distribuía a sequência de maldades pelo trajeto. Outro dia
assisti à última novidade fitness da geração saúde, chama-se treino funcional. Coisa
novíssima. Descobri boquiaberto que o tal treino são as aulas do Sr. Juca, sem
tirar nem por. Foi apenas embalada de novo.
Outras
vezes a moda promove absurdos e lança uma geração inteira no consumo de novos produtos,
frequentemente sem sentido. Eu adorava manteiga na infância e passei metade da
vida comendo margarinas, verdadeiras pastas sem gosto definido. Tudo em nome da
saúde, manteiga fazia mal. Depois de três décadas eis que o recomendado é, de
novo, a velha manteiga. E o tal adoçante? Era necessário banir o açúcar e usar adoçante.
Açúcar era veneno. Agora se diz que adoçante é pior do que o açúcar. Isso para
não lembrar do ovo. Houve épocas que era sinônimo de colesterol ruim, fonte
inesgotável do malvado LDL (logo Deus leva), hoje recomendadíssimo. Carne
vermelha também já foi banida e agora voltou a ser recomendada. Hoje a moda é
reduzir o carboidrato, pois engorda e faz mal. Multiplicam-se as receitas de
pouco carboidrato. Daqui a algumas décadas voltará, provavelmente, a ser
recomendado por algum nutricionista famoso. Enfim, a moda, quando renova
hábitos sem crítica promove esse vai e vem. Vinho já fez mal e já fez bem. Tudo
com pesquisas científicas sérias.
Depois
de alguns anos de vida aprende-se a relevar as modas e a viver conforme a
velhíssima máxima aristotélica, identificar um justo meio entre comer e não
comer, beber e não beber, vestir ou não vestir, exercitar-se ou não. Um justo
meio que é fazer um pouco ou comer um pouco, segundo o gosto e possibilidade de
cada um.