O sociólogo italiano Domenico de Masi, autor do livro O Futuro Chegou sustenta a idéia de que
o Brasil pode inspirar um novo modelo de sociedade. Acha ele que, após analisar
15 sociedades precedentes, encontrou a fórmula para ser feliz.
Constata que atualmente as pessoas estão muito confusas,
já não distinguindo o certo do errado, o belo do feio, o falso do verdadeiro, o
sacro do profano e mesmo o que é homem e o que é mulher. Em economia, por
exemplo, não se distingue o que compete ao Estado e o que é de competência do
mercado. Pensa que isto é devido ao fato de que pela primeira vez na história
surge um tipo de sociedade sem projeto anterior. Para ele Roma nasceu de um
projeto cristão, a sociedade árabe do Alcorão, a sociedade industrial do
liberalismo. A atual surgiu espontaneamente.
Só para contribuir com o debate, penso que nossa
sociedade não nasceu de um projeto justamente por que os propostos mostraram-se
inviáveis, falsos. Foram propostos projetos de sociedades comunistas, mas
fracassaram. Tentou-se implantar modelos nazistas, fascistas e positivistas mas
não deram certo. Todos foram descartados. Em resumo, os modelos propostos foram
o coletivistas mas, todos eles, foram rejeitados por incompatíveis. Daí que o
modelo de sociedade atual não tem modelo.
Voltando ao raciocínio de De Masi, pensa ele que o Brasil
pode dar uma significativa contribuição para uma sociedade mais feliz no
futuro. Este país tem uma cultura peculiar que pode amalgamar os ingredientes
para um futuro melhor. Entre eles podem ser citados a miscigenação e a mistura
de culturas as mais diversas e que convivem pacificamente. Há cultura indígena,
negra, branca e asiática, bem como as respectivas raças. Inclusive o tão
criticado “jeitinho brasileiro” para ele tem aspectos positivos, como para dar
flexibilidade diante à rigidez das normas. O Brasil, para ele, tem senso de
vida, tem ritmo e música, as relações interpessoais têm beleza, é extrovertido,
é sensual. Isto é positivo e pode ser imitado e com isto se introduz a
felicidade na convivência social.
O grande problema é que o Brasil não assume sua própria
cultura. Primeiramente passou 450 anos imitando a Europa e agora ultimamente só
pensa nos Estados Unidos. Este é seu maior entrave: imitar os outros. Há uma
tendência de “bostonizar” a economia, de “rocalizar” a arte e “inglesar” o
língua. Isto destrói e descaracteriza a própria cultura.
Um dos aspectos que mais se destaca é da questão da
“felicidade no trabalho”. Esta advém da autorrealização criativa, presente no
trabalho que depende da mente e ausente no braçal. A felicidade advém quando o
trabalhador atua com liberdade, tem mútua ajuda dos demais, a incerteza é
reduzida, percebe a correlação entre o trabalho e a vida, o conflito é
substituído pela cordialidade. Só então as probabilidades de um trabalho
prazeroso aumentam.
Ora, para se atingir isso é preciso substituir o controle
pelo incentivo. O primeiro impõe, escraviza, subjuga. O segundo valoriza,
dialoga, liberta. Um trabalho livre e espontâneo faz as pessoas crescerem e por
isso trabalham felizes. Há, porém, um enorme entrave para isso: o trabalho
braçal. Enquanto houver necessidade deste, as pessoas que o exercem
dificilmente serão felizes. Não é a mesma coisa um trabalho de complemento da
automação (rotineiro e repetitivo) e a atividade de um designer, essencialmente
criativo. O primeiro tem um lugar fixo e o cumprimento no horário
pré-estabelecido. O segundo pode acontecer em qualquer lugar e qualquer tempo.
Dificilmente alguém se sente feliz com o trabalho preso a um lugar e a um
horário. Quando a máquina conseguir substituir esta atividade, então é possível
abrir as portas da felicidade laboral também ao trabalhador braçal.