Somos desiguais
Somos Iguais
De tempos em tempos surgem modas, na maioria das vezes
sem fundamento científico mas que ganham foros de verdade sagradas. É o que
aconteceu, por exemplo, com o “século da criança”, “sua majestade o bebê”, “o
poder jovem”. Adotado o estereótipo e sem passar pelo crivo da crítica, passa-se
a agir de conformidade com o refrão repetido por todos. Quem ousar contradizer
é pichado de conservador ou retrógado.
Um desses modismos que se introduziu sorrateiramente na
família, na escola e no convívio social foi que não se deve negar nada à
criança. Deve-se explicar, explicar, explicar “ad nauseam”, mas se ela não
quiser paciência. A conseqüência foi que, quando chegou à idade de jovem e
adulto e precisar batalhar para conseguir o que quisesse não estava preparado
para os limites. Agora todos estão diante de uma geração que não sabe
privar-se. Se tem uma bicicleta quer uma moto, se tem esta quer um carro,
conseguido esta pede um iate até exigir um jatinho. E se não for atendido? Chantageia, rouba ou
mesmo mata. E de repente todos estão se dando conta da necessidade de ser
educado para os limites.
Mas aí surge o problema. Quem imporá limite? E quem
impuser deve ter legitimidade para isto. E para tanto é necessário reconhecer
uma autoridade. Acatando esta é preciso reconhecer a desigualdade, isto é, que
as pessoas não são iguais.
Claro que todos são iguais na essência. Todos são
humanos, racionais, igualmente dignos. Mas fora daí a desigualdade está
escancarada em toda parte. É como a parte física do corpo. O esqueleto é igual
para todos. Mas só até aí, depois, que cara, que bumbum, que barriga se porá nele
é outros quinhentos.
Estabelecer uma igualdade unilateral entre pais e filhos
significa o desvirtuamento das funções ou status específicos entre ambos. Se
igualar pais com filhos aqueles deixarão de ser pais e e os filhos deixarão de
ser filhos. Isto não significa que não possa haver amizade entre eles. Mas não
se deve entender amizade como igualdade. Ser amigo do filho é transformá-lo na
pessoa que ele tem dentro de si.
A função dos pais é de orientar, guiar e estabelecer
regras claras de posturas e comportamentos. Como orientadores devem esclarecer
qual o melhor rumo a ser tomado. Como guia é ir na frente mostrando o caminho,
ensinar como agir. E como legislador tem a obrigação de estabelecer limites e
parâmetros de conduta.
Fundamentalmente a questão da igualdade envolve uma ética
de comportamento. Mas há um aspecto ainda mais profundo: além da igualdade é
preciso salvar a liberdade ou a partir da liberdade é que a igualdade pode ser
estabelecida. Pais e filhos, assim como todas as pessoas são iguais em alguns
aspectos, os essenciais, mas nos existenciais são diferentes exatamente para
salvar a liberdade. Se forem nivelados pais e filhos sufocamos a liberdade dos
pais e dos filhos. Por isso podemos dizer que as pessoas são iguais na
liberdade, mas fora disso são diferentes.