Não é razoável aceitar a violência ou se
acostumar com ela, pior quando a violência é praticada sem outro propósito que ampliar
o mal no mundo: a violência para roubar, violentar, vingar, matar, etc. Nem falo
aqui da violência realizada contra uma ordem jurídica ou política com o
propósito de modificá-la, pois ela também produz o mal, mas tem a ilusão, de que
se vai por caminhos tortos até o bem. Essa forma de violência, associada ao que
se denomina ética dos fins, parece fora de moda por aqui. Do outro lado do
mundo a encontramos viva. Não julgando suficiente o que fizeram os nazistas e
as guerras mundiais no século passado, o Estado Islâmico tomou para si a cota
da barbárie do novo século. Seus membros se esbaldam degolando, matando, violentando,
torturando com a desculpa da religião. No entanto, não é um caminho aceitável buscar
o bem fazendo o mal, pior ainda em nome de Deus.
Aqui entre nós a expressão atual da
violência é o ataque a faca. Quanto mais a imprensa noticia, mais se multiplicam
os ataques. Nos últimos dias aumentou essa forma de barbárie praticada em
contato direto com a vítima, agressão em que se olha para dentro dos olhos da
vítima. E, em meio a um Estado que não
funciona, autoridades perdidas, pobreza das teorias sociológicas e jurídicas que
justificam a violência com a pobreza, do aumento da ganância desmedida da corrupção,
jovens são criados à margem dos valores humanos. Eles descobriram na faca um
novo e velhíssimo instrumento para propagar o terror. Com a faca nas mãos se
sentem fortes para dar curso à animalidade. A faca tornou-se o mais novo pavor do cidadão
comum. Ele pode, a qualquer momento e sem esperar, ser esfaqueado por alguém que
o golpeia mesmo sem lhe falar. Depois do ataque, com a vítima ferida, arranca-lhe
o que desejam e fogem, deixando-a morrer lentamente à espera de um socorro que
sempre tarda quando vem.
Não parece que ajuda a enfrentar o
problema o discurso moralista tão forte em nossa tradição cultural. Também não
serve a simples exigência de punir jovens cada vez mais novos, discurso que se
multiplica entre a elite econômica (e só entre ela e seus empregados) em nosso
país. Isso não significa ser contrário à redução da maioridade penal aos 16
anos, mas a certeza de que ela sem educar os jovens é ação perdida. Estamos
vendo a violência ser praticada por jovens cada vez mais novos e se for para
levar a sério o argumento da punição pela punição, com oito anos um menino tem
plena consciência do certo e do errado, então é melhor colocar a maioridade penal
aos 8 anos. Se ele não tiver consciência do certo e errado aos 8 anos, também
não terá aos 16 ou 18 anos e provavelmente terá menos medo da punição.
O problema tem raiz na falta de educação
moral, que não é sinônimo de escolarização, mas ausência de valores. O
significado moral das ações somente se esclarece para a pessoa quando ela pode pensar
nas consequências dos seus atos, quando ouve que algumas ações são más, isso se
ainda for pequena e perceber o mal praticado. Então a pessoa, diante das
pequenas falhas, aprende que deve procurar fazer o bem. Porque entenderá que praticando
o mal ele irá alcançá-la ou aos que ela ama mais cedo do que imagina.
O Reino de Deus que Jesus de Nazaré se
esforçou para ensinar equivale ao Reino da moralidade. Somente nele encontramos
resguardo para uma vida verdadeiramente humana, um reino em que o homem seja o
valor central, somente nele estamos verdadeiramente seguros contra o mal. É o
que pede a oração que Jesus ensinou, mas o Reino da moralidade (ou o Reino de
Deus) somente virá a nós se cada homem ou a grande maioria deles se dispuser a construí-lo
e a educar as próximas gerações. Não é fácil, mas é possível respeitar a
humanidade em si e nos outros.