sábado, 11 de março de 2017

O Papel dos Partidos Democratas-cristãos na Europa. Selvino Antonio Malfatti



Atualmente no Brasil a instituição considerada mais espúria é a classe política. Não  se atribui a mínima credibilidade. Pensa-e em algo nojento, degradante, explorador, sem moral e sem ética.
No entanto, se pergunta o porquê disso quando em alguns lugares e algum tempo não foi assim, como foi o caso da democracia cristã europeia. É o que vamos discorrer sucintamente através do papel desempenhado pelos partidos cristãos na Europa no pós-guerra. 
Após duas guerras, a sociedade europeia estava farta de ódios, vinganças e mortes. Almejava por fraternidade, perdão e paz. O conteúdo da democracia cristã acenava exatamente para estes valores. Encontraram-se, neste momento, apelos de partidos com expectativas da sociedade. Isto se converteu imediatamente em votos e estes proporcionaram o poder. E enquanto durou a conjuntura externa e aqueles anseios se mantiveram acesos os diversos partidos democristãos mantiveram-se no poder. 
Várias razões podem ser arroladas para explicar o sucesso político alcançado. Primeiramente, os democratas cristãos encontraram-se na Resistência aos regimes fascista e nazista. Em segundo lugar, os partidos de direita tradicional desapareceram no período bélico. Em terceiro, a rejeição ao comunismo e por último, o apoio expresso da Igreja aos partidos democratacristãos. Destacaram-se como lideranças em seus países e europeias Alcide De Gasperi, na Itália, Konrad Adenauer, na Alemanha e Robert Schuman, na França. Embora na França a democracia cristã tenha sido meteórica, isto é, com rápida ascensão e queda, em outros países, como Bélgica, Holanda, Alemanha e Itália, conquistam posições políticas duradouras. 
Exporemos a seguir algumas experiências partidárias bem sucedidas dos democratas cristãos na Europa, para demonstrar que quando um partido está em sintonia com a sociedade  e com ela assume o compromisso da responsabilidade, o partido não é algo descartável ou odioso, mas uma instituição proeminente. 
Isto é verdadeiro até que os partidos e seus filiados seguiram estes princípios. A partir do abandono inicia-se o ocaso.
Escolhemos o critério alfabético.

1. Alemanha
A Alemanha dividida em oriental e ocidental em 1949, pouco a pouco, cada uma delas inicia uma vida política própria. A oriental praticamente se torna satélite da URSS, subordinando-se às decisões superiores de Moscou e a ocidental, paulatinamente retoma vida autônoma. Neste contexto, o renascimento dos partidos políticos, na ocidental, ocorreu com as primeiras eleições administrativas em 1946 apresentando-se na disputa os democratas cristãos, os sociais democratas e os liberais, permanecendo por quase meio século na arena política. Na zona dominada pelos soviéticos, os sociais democratas e os comunistas são obrigados a se fundirem dificultando a competição para os demais partidos, como os democratas cristãos.
Em 14 de agosto de 1949 realizam-se as eleições na República Federal da Alemanha que dão a vitória aos democratas cristãos e, sob a liderança de Konrad Adenauer, em setembro, forma o primeiro gabinete de centro-direita, juntamente com os liberais e outros partidos conservadores. Adenauer escolhe como ministro L. Erhard que leva adiante uma proposta político-econômica de economia social de mercado. Há que se frisar que a economia social de mercado não se identifica com o liberalismo econômico. A proposta é originária de ideias político-econômicas da própria Alemanha. A economia social de mercado pode ser entendida como uma combinação de liberdade de mercado com a eficiência proveniente da competência, bem como garantir uma existência digna para os setores menos favorecidos da sociedade.
O sucesso do plano foi secundado por alguns fatores que não dependeram diretamente do ministro Erhard. Entre eles pode-se destacar que a situação catastrófica que se encontrava a Alemanha não era da responsabilidade de nenhum partido recém-constituído. Em segundo, havia um ambiente cultural propício para a implementação de novas ideias econômicas, desenvolvidas durante o período nazismo, com o objetivo de reorganizar a Alemanha após o fim da guerra .
Com o democrata cristão Adenauer no governo, no cargo de chanceler e Erhard como ministro da economia, a Alemanha reingressa na concerto das nações democráticas ocidentais. A União Cristã Social – CDU e CSU – permanece hegemônica até 1966 quando se inaugura um governo de coalizão com os sociais democratas.
Do mesmo modo que em outros países da Europa, a partir da década de sessenta começa o período de decréscimo em termos eleitorais, com momentos de recuperação, mas em franca queda.
A queda maior, porém, ocorrerá a partir de 1998, com a vitória do partido social-democrático e de seu candidato Gerhard Schoeder, termina a era de Helmut Kohl, chanceler desde 1982.  E em novembro de 1999 explode o escândalo dos “fundos negros”, depois da descoberta de uma colossal evasão fiscal e uma das partes teria ido parar na CDU, liderada por Helmut Kohl. O acontecimento colocou em xeque o próprio partido, deixando dúvidas sobre sua sobrevivência. Embora Kohl tenha chamado toda culpa sobre si mesmo, os inquéritos judiciais encontraram indícios de outros membros do partido também envolvidos em corrupção . 


Postagens mais vistas