sexta-feira, 6 de maio de 2011

JOAO PAULO II - SANTO SUBITO. Selvino Antonio Malfatti



No dia 1º de maio deste ano realizou-se a beatificação do falecido papa João Paulo II. Vendo a cerimônia, meu pensamento viajou pela Polônia, fixando-se na Cracóvia. Lembrei-me que, por ocasião de minha visita,  estava ansioso para chegar à terra onde João Paulo II residiu, fora sacerdote, bispo, arcebispo. Do estacionamento até a Igreja percorremos a pé por umas ruas estreitas. Chegamos à praça e defronte dela a Igreja, onde tantos anos o futuro João Paulo II havia atuado como religioso. Atrás da praça havia uma confeitaria e era um dos lugares mais freqüentados, pois todos queriam comprar o ”bolo do papa”, uma guloseima apreciado por Karol Wojtyla. Ao lado da Igreja uma foto enorme estampada na janela do quarto que Karol havia alugado.
Comecei a me perguntar o que tinha aquele homem que transmitia uma atração profunda? Bastava sua presença para imantar a atenção. Não precisava dizer nada. Cada um tinha a sensação que podia entrar nele e vê-lo por dentro. Bastava um sorriso para levar às multidões à euforia. Mesmo após a morte, na Praça São Pedro, em Roma, quando Bento XVI pronuncia as palavras da beatificação, quase dois milhões de pessoas gritam em coro: SANTO SUBITO, SANTO SUBITO, SANTO SUBITO! (Santo já)
Que mistério envolvia este homem que, quando jovem, gostava de divertir-se, dançar e namorar? De ir à praia no verão e patinar no inverno? Que encenava e escrevia teatro? Que publicava em folhetins considerados pela Igreja como demasiado “liberais”? Que dialogava de coração aberto com os hebreus? Que achava que ciência e religião não deviam manter-se distantes e neutras? Que corajosamente enfrenta o comunismo do leste europeu exigindo liberdade religiosa? Que obriga a Rússia a reconhecer o sindicato “Solidariedade”?
Sociologicamente poderíamos caracterizar a autoridade de Wojtyla de tipo carismática, na classificação de Max Weber. Este modelo de autoridade se embasa na  pessoa, isto é, decorre da crença de  sua sacralidade. A pessoa irradia confiança e credibilidade. A liderança exercida por esta pessoa não é dominadora, mas encantadora. As pessoas sentem-se atraídas pela pessoa na crença de que poder realizar seus sonhos, concretizar cenários ideais tanto tempo acalentados. Tem o poder de transcender os interesses pessoais e fixar-se nos coletivos. A relação entre liderança e liderados é moral, e não racional ou mesmo sentimental. Os liderados crêem na santidade da pessoa de quem os lidera. São capazes de morrer por ele.



Assim era João Paulo II. Mas de onde provinha este carisma? Da formação intelectual, de sua arte cênica, da ciência da comunicação? Pode ser que sim, mas como explicar então que muitos outros com todos estes dons, alguns até superiores, são desprovidos do carisma. Penso que quando João Paulo II olha o povo este  enxerga amor,  fé incondicional a Deus, ao Filho de Deus e à Igreja.

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