sexta-feira, 20 de maio de 2016

AS RELIGIÕES E SUAS ÉTICAS. Selvino Antonio Malfatti






1.    Modelos de Teodiceias
O pensamento religioso de Max Weber tem como pano de fundo as Três Formas da Teodiceia.  As teodiceias são grandes construções teóricas que tentam encaixar toda realidade existente dando-lhe coerência e sentido. São como as teorias, no entanto sob o ponto de vista religioso. Para Weber existem três grandes modelos de teodiceias:

1º O Dualismo. É uma das formas mais difundidas e existe em diversas religiões. O zoroastrismo talvez fosse o modelo mais perfeito desta forma de teodiceia. O conteúdo religioso contempla a dualidade entre o bem e o mal religioso. Nesse sentido há o puro e o impuro. O deus do bem e o do mal, o virtuoso e o pecador. O problema é que esta crença ou teodiceia envolve uma contradição. Há um deus que possui seus poderes limitados por um rival. A ideia de salvação, através de um Salvador, como na teodiceia cristã, avançou esta concepção para a vitória do bem. Para os bons ficaria reservado o céu e para os maus o inferno. O responsável pelo inferno é uma criatura subordinada ao Deus do céu. O Deus do céu, superior, castiga o deus do inferno com todos os seus, condenando-os ao sofrimento infinito e eterno.

2º Predestinação. Nessa teodiceia se acredita que o homem é incapaz de conhecer qualquer desígnio de Deus. E por isso nada de bom pode fazer, cabendo a Deus a liberdade de escolher quem quer para a salvação. O condenado é um réprobo que merece este castigo e nada pode reclamar.
3º Salvação universal. Esta crença se poderia encontrar na religiosidade dos intelectuais indianos. A autorrealização do homem está garantida na salvação universal.

2.    A Ética das Religiões Mundiais
Weber propõe, como hipótese, que a confissão religiosa cria uma ética e esta influi tanto na atividade como no desempenho econômico. Ele a denomina genericamente de “ética econômica”. Pensa que o que anda nas consciências tem eco na economia. Há, por isso, conforme ele, um imbricamento entre religião, ética e economia. Isto não significa que uma economia seja exclusivamente determinada pela religião. Não significa, igualmente, que uma determinada ética produzirá sempre a mesma atividade econômica e nem mesmo que uma determinada atividade econômica só pode adaptar-se a uma determinada ética.
Em cada sociedade, com uma determinada religião há camadas sociais. Entre estas camadas sociais há uma que se sobressaia e influencia a religião mais que as outras e, consequentemente, tem mais peso ético e em decorrência também é preponderante na economia. As grandes religiões mundiais também tinham uma determinada camada que era mais significativa que as outras.

 1º confucionismo e taoismo era a ética dos prebendários, cuja educação literária provocava o racionalismo secular. Quem não pertencia a esta camada culta não tinha influência. A ética desta camada determinou o modo de vida dos chineses para sua própria camada e das demais. Esta camada distribuía o poder dentro da sociedade. Determinava o papel do imperador e das províncias. As funções dos mandarins (burocratas). O universo era visto como uma ordem eterna – Tao. Desenvolveu através de Lao-tsé uma mística que evoluiu para a magia e como consequência impediu o surgimento de práticas racionais.

2º hinduísmo e budismo. Era praticado por casta hereditária de letrados, que, embora não tivessem cargos, atuavam como conselheiros ritualistas e espirituais para indivíduos ou comunidades. Era uma sociedade de castas, as quais formavam uma ordem hierárquica, cujo topo era ocupado pelos brâmanes. Depois vinham os guerreiros, comerciantes, agricultores e por fim os trabalhadores. O intercâmbio entre as castas era proibido. Acreditavam na reencarnação e como todas as religiões orientais eram místicas. Os brâmanes constituíam um centro em torno do qual gravitava toda a organização social. Os brâmanes, educados nos Veda, era o estamento plenamente aceito. Mais tarde surge outro estamento, não brâmane, que passou a competir com eles. O budismo era constituído por monges contemplativos, mendicantes e errantes. Eram considerados membros integrais das comunidades religiosas. Os demais eram considerados inferiores, objetos e não sujeitos de religiosidade.

3º O islamismo. Inicialmente uma religião de guerreiros cujo objetivo era conquistar o mundo. Eram como os cruzados cristãos, mas sem o seu ascetismo sexual. Em torno do século VII d.C, surgiu o misticismo maometano, cujo resultado foi um simbolismo complexo. 

4º judaísmo. Após o exílio, os hebreus perambularam como um povo pária, isto é, o único vínculo era o Deus comum, Javé. Com a elaboração de uma lei sacerdotal, levada adiante pelos levitas, juntamente com a pregação dos profetas, abriu espaço para um caráter prático e ético, expurgando as crenças de magias que grassavam no meio do povo. Durante a Idade Média conseguiu que uma camada de intelectuais que imantava os diversos grupos esparsos pelo mundo. Esta camada representou a intelectualidade pequeno-burguesa, racionalista, mas quase proletária.

4º O cristianismo. O cristianismo - pensa Weber-  iniciou como uma doutrina de artesãos, jornaleiros itinerantes. Permaneceu sempre como uma religião urbana e cívica. Em todos os períodos manteve este caráter: antiguidade, Idade Média e Época moderna. A cidade do ocidente, diferente de todas do mundo da época, com um corpo de cidadãos, foi o palco do cristianismo. A ética pregada era privação, do ascetismo. A verdadeira vida vinha após a morte.

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