Na concepção liberal, o individualismo é no sentido de
libertar cada ser humano das cadeias que o prendiam dentro do sistema feudal em
suas várias dimensões: política, econômica, religiosa, moral e jurídica. Foi de
propiciar às pessoas a possibilidade de fazer suas escolhas de como viver em
sociedade. Em nenhum momento negou-se a vida social, ao contrário sempre se a
pressupôs. A meta era como sair do estado de natureza (sem nexos sociais) para
viver em sociedade. O individualismo liberal quer uma convivência social
pautada pela racionalidade.
Por sua vez, uma parcela do existencialismo - o ateu,
como em Jean-Paul Sartre - nega qualquer liame social pulverizando os
indivíduos. Para esses, o lema é “proibido proibir”. . Então, cada um pode
seguir seus próprios impulsos e instintos. Deste pensamento emergiu uma
desconfiança generalizada sem esperança de salvação. Os valores são abolidos,
aliás, o único valor é apropria vontade. Neste afã, os indivíduos lançam-se ao
consumismo e na busca de compensação nos bens materiais. Como consequência
nasce uma sociedade psicopática, “impolítica”, que se alimenta da raiva social.
Termos, então, um ambiente que cada um individualizou para si o conflito e ao
mesmo tempo tornou-se incapaz e administrar os problemas. Tudo o que se opuser
à satisfação individual deve ser destruído. Esta proposta de um existencialismo
nihilista produz o “abestamento” social, o único guia comportamental é o
instinto.
Em hordas ou individualmente estes grupos destroem tudo o
que encontram pela frente: praças e calçadas, ornamentações. Jardins e árvores
são arrancados ou pisoteados. Picham
prédios e residências, sujam calçadas, inclusive fazem necessidades em locais
públicos. Todo cidadão evita-os.
Onde estão o uso de álcool e drogas é generalizado.
Famílias não podem mais usufruir de lugares públicos como
praças, pois estão tomadas de pessoas nuas, outras fazendo sexo explicitamente e
publicamente. Associam todo tipo de droga com prostituição, tanto homo como
heterossexual.
Armas de fogo ou armas brancas são vistas ostensivamente
, com fogos de artifício e explosivos
Veículos com capôs abertos e som ligado às alturas. Nas
redondezas ninguém consegue ter sossego e muito menos descansar. Carros em alta
velocidade colocando em risco pessoas e outros veículos. Quem se atrever chamar
atenção é agredido brutalmente.
Todos são obrigados a desviar ou se afastar destes grupos
ou indivíduos. É o que está acontecendo com boa parcela de nossa sociedade. Para
eles o importante é viver o agora, sem se importar com os demais. Valores são
abolidos como ponderação, respeito, bom senso. Ninguém pode atravessar seu
caminho. Ninguém pode negar nada. O objetivo deles é usufruir ao máximo de si,
dos demais e do ambiente.
Há esperança de sair deste estado hobbesiano? Pode-se pensar num abandono pacífico destes
princípios, ou através de um rígido stalinismo, ou, quem sabe, os acenos
neonacionalistas? Qual a alternativa capaz de romper o círculo vicioso?
Se analisarmos a fundo a questão o problema reside não só
na ignorância como no “abestamento” social. Alguém pode ser ignorante, mas não
agir como irracional, guiado pelos instintos. Abestamento social é quando uma
determinada sociedade abandona a racionalidade e se deixa guiar pelos
instintos. Neste sentido por mais ingênuo que pareça, a única saída ainda é a
tradicional, isto é, instituir a racionalidade pela educação e ensino na
produção de bens, serviços, cultura, informações, como afirma o sociólogo Mauro Magatti, no livro Mudança de Paradigma.
. É preciso contrapor a
racionalidade ao abestamento. Se alguém disser que determinado produto é
artístico, submeta-se ao critério racional e não ao emotivo. Por que o nu do
Davi de Miguel Ângelo é uma obra de arte? E outros nus não são? Por que,
aplicando-se a análise racional, se chega a esta conclusão. O objetivo de
Miguel Ângelo não é o erotismo, mas a beleza da criatura humana, como obra
prima divina.
Evidentemente que isto não acontece do da noite para o
dia. Leva tempo. Talvez a geração que inicia não veja os frutos. Mas é preciso
algum dia iniciar.