1ª.
A Filosofia é guardiã da razão e como tal não se desprega da verdade que se
observa nos fatos e nem da boa lógica de pensar. Dispensar de ensiná-la porque
se vai gastar esse dinheiro com outras formações, com retorno financeiro
imediato, é esconder que hoje no país pessoas com todas as formações estão
entre as desempregadas, boa parte delas sequer pagam o FIES (índice do próprio
governo) e não têm condição de levar para casa o seu sustento e nem de pagar
imposto. Não é o dinheiro gasto nos poucos e baratos cursos de Filosofia que
mudará esse cenário. Os profissionais que trabalham com a Filosofia e estão
empregados, pagam, como todos os trabalhadores seus impostos. E também levam
honestamente o sustento para suas famílias.
2ª.
Reconhecida como guardiã da razão, a Filosofia é solidária da boa prática de
pensar. Então é inadequado dizer que se vai ensinar alguém a escrever bem, na
própria ou em outra língua, se não se ensinar a esse estudante, ao mesmo tempo,
a pensar e a desenvolver bons argumentos. Por isso, o médico e filósofo Karl
Jaspers lembrou que a Filosofia “é um ato de concentração pelo qual o homem se
torna autenticamente no que é e participa da realidade”. E essa é também a
razão pela qual a Unesco considera a Filosofia essencial na formação dos
jovens.
3º.
A boa prática de pensar implica não só no compromisso com a verdade, mas também
na liberdade e capacidade crítica para pensar, negá-la aos estudantes é negar a
mais essencial de todas as liberdades. Não faz sentido falar em liberdade de ir
e vir, liberdade de empreender, liberdade de organização política, se não se
ensina a primeira e a mais radical, a liberdade de pensar. E para ser livre e
pensar criticamente é preciso estudo sistemático e planejado. Por isso, a
tradição liberal nunca abriu mão do pensamento livre. Olhando a História se vê
que apenas os tiranos, os ignorantes e os fanáticos temeram a Filosofia e o
livre pensamento. Os bons governantes como Marco Aurélio, bem-sucedido e culto; dedicou-se à Filosofia. Não é necessário ser filósofo para
ser político, mas os melhores escutam os filósofos e fazem questão de tê-los em
sua companhia.
4ª.
A Filosofia não tem, como as ciências modernas, a tarefa de ensinar uma
atividade prática imediata, mesmo essas ciências têm fundamento teórico que não
prático e nem imediato. Contudo, a Filosofia ensina a mais essencial de todas
as artes, a de viver, ensina que vida é procurar um sentido para ela mesma e
para o mundo, sem os quais viver é triste, leva à depressão e outras doenças,
como ensinou o médico e filósofo Viktor Frankl. Significado para a vida que se
renova pela História e exige constante revisão e análise. Atualmente não se faz
Filosofia sem considerar os resultados da Ciência. Ao lado das Artes e das Religiões, a
Filosofia ensina que sobreviver sem o belo, o bom e o justo não vale a pena. E
mais, Religião que não respeita a boa prática da razão crítica se torna
fanatismo, ignorância e leva a muitos males como temos visto no fanatismo
religioso vestido de terrorismo espalhado pelo mundo. O físico Einstein, o mais
brilhante dos cientistas no século passado, nunca abriu mão de suas crenças
religiosas e nem de pensar filosoficamente. Miguel Reale, nosso maior jurista
nunca deixou de cultivar a Filosofia, fato que o projetou internacionalmente.
Por sua vez, experiência estética sem pensamento não se firma, as escolas de
arte e literatura acompanham os movimentos da Razão pela História da Cultura. Leonardo
da Vinci e seus contemporâneos da Renascença ensinaram que a ciência não pode
se despregar das humanidades ou se empobrece.
5ª.
Embora em Filosofia gente que nunca a estudou se considere em condições de
opinar, porque ninguém está impedido de pensar, mesmo aqueles que não o fazem
corretamente e contam apenas com opiniões mal fundamentadas, o bom uso da razão
e os bons argumentos acabam, em algum momento, sendo reconhecido. É o que
ensina uma tradição de 2600 anos iniciada na antiga Grécia. Portanto, quando os
tiranos, fanáticos e ignorantes perseguem a Filosofia e/ou matam os filósofos,
a Filosofia ressurge das cinzas. Isso ocorreu depois da morte de Sócrates, de Sêneca
e de Giordano Bruno. Durante a história é mais longa a lista de filósofos
perseguidos, dizia Voltaire no século XVIII. Homens como Baruch Spinoza,
perseguido pela religião e Karl Jaspers, perseguido pela política nazista são
mais comuns que filósofos reconhecidos.
6ª.
A ilusão de que a simples prática da ciência produz progresso econômico e
social, desvinculado das humanidades e, em especial da Filosofia, foi o erro da
reforma e da geração formada no espírito do iluminismo pombalino. O empirismo
mal justificado foi uma das razões importantes pelas quais o Brasil ficou com
dificuldade e se apropriar dos valores modernos. Essas limitações do
pombalismo, repetidas no positivismo mostram um pensamento que sob a capa de democrata
e honesto, reflete as insinceridades e fake
news. É esse positivismo mal ajeitado que está na raiz de nossa escola,
instituição pouco dedicada a formação cidadã e a consciência social com tão mal
resultados, mesmo no muito estudado campo das ciências.
7º.
As disciplinas filosóficas estão nas bordas das ciências, ajudando-as a caminhar
e a se desenvolver. Exemplos são a meditação ética entorno às pesquisas na área
da saúde e no direito, da lógica nas engenharias, da metafísica nas discussões
sobre a realidade, da História da Filosofia e Filosofia da História ao lado da
História.
Nota:
sombrios são os tempos de massas ignorantes onde prevalece a irracionalidade e
a violência.