“A raposa, de fato, pode fazer muitas coisas, enquanto o ouriço pode fazer apenas uma!” (Isahiah Berlin)
O pensador Isahiah Berlin
escreveu uma fábula interessante: O Ouriço a Raposa. A princípio, a moral da
história tem várias aplicações para as atividades dos humanos: pensadores, religiosos,
industriais, educadores. No entanto, parece que o endereço mais certeiro é para
os políticos.
Como em 15 de novembro
teremos eleições municipais vejamos se a fábula pode se aplicar.
Conforme a fábula os
candidatos pertenceriam a duas ideologias opostas: a das Raposas e dos Ouriços.
As Raposas parecem
dispersivas nas promessas de campanha. Não têm uma única resposta para cada
problema porque quase sempre paradoxais. Diz o pensador Isahiah Berlin: A
raposa conhece muitas coisas, mas o Ouriço conhece uma só e muito importante. As
Raposas aceitam projetos mais humildes, com menos esplendor, do dia a dia,
pragmáticos. Contentam-se com a monotonia do pragmatismo e seus seguidores um
grupo sem brilho. A raposa sabe muitas coisas. mas pensa com relativismo
gnosiológico. Acham que o entendimento das coisas é falível e que o
conhecimento perfeito é ilusão. Ao abordar o Plano estratégico as Raposas usam
a manha. Dividem suas propostas de governo em partes e analisam separadamente
cada uma delas. Tentam mostrar as características de cada uma e depois juntam
para formar o bloco nem sempre coerente. As partes constituem o centro. Então,
parece que quem se apodera do centro será dono das partes. Será bem assim?
Os Ouriços, ao invés, fixam-se
numa única ideia e através dela pretendem solucionar todos os problemas. Sentem-se
obcecados por um ideal grandioso, um farol que ilumina tudo. Os Ouriços atraem,
como eles, sonhadores revolucionários, ideólogos da perfeição. Possuem um conhecimento
monista e dele fazem derivar um absolutismo epistemológico. Para os Ouriços o
conhecimento é infalível e o erro é má fé. Eles propõem uma visão única,
central, um sistema coerente, sem contradições como um modelo centralizado. Não
há partes, o bloco é monolítico, impenetrável.
As duas plataformas estão
sobre a mesa. Cada eleitor poderá escolher seus candidatos. É preciso que os
eleitores constituam um executivo e um legislativo de Raposas ou de Ouriços.
Então, você decidirá se quer
um governo de Raposas ou de Ouriços. Uma Raposa ou um Ouriço para o Executivo e
maioria de Raposas ou Ouriços para o Legislativo.
Se optares por Raposas terás
um governo liberal, até com um pouco de anarquia. Mas poderás sentir o sopro do
vento da liberdade.
Se preferires os Ouriços,
terás governo centralizado, do qual tudo depende. Sentirás o peso da ordem e da
planificação. Em vez de liberdade, a submissão.
É dia 15 de novembro. Quase
8hs. Pegar o título de Eleitor, conferir a Zona e a Secção, dirigir-se ao
local, achar a urna e votar.
Aguardar o resultado: Raposa
ou Ouriço?
A Raposa e o Ouriço. ( Isaiah Berlin )
Mimì, a raposa de pelo vermelho, refugiou-se atrás de um
arbusto de amora-preta. Ela escutou um leve alvoroço no subsolo, então até
mesmo aquele barulho parou. Sua presa deve ter intuído o perigo, algo deve
tê-lo deixado desconfiado. Mimì a raposa se camufla, finge estar morta e
espera. Nem mesmo respira. Ela sabe que sua presa sairá assim que se sentir
seguro do esconderijo por isso tem que deixá-lo todo o tempo que precisar para
se mover. O tempo passa. Após uma longa espera paciente, um ouriço aparece na
boca da cova. Precisa de um espaço muito curto para entrar em outro túnel
escuro mais à frente, por isso olha em volta com cautela, examina o chão,
retrai-se para dentro da cova, reaparece hesitando. Que animal prudente, que
animal hipócrita, pensa a raposa. Raça de roedores de vegetação rasteira que
não gostam de andar ao ar livre. Ele prefere seus labirintos subterrâneos,
mesmo ao custo de escavá-los com unhas e dentes. Vai ter seu bom motivo para
evitar se expor ao sol, porém não o invejo. Enquanto isso, o ouriço decide-se e
já está finalmente a aberto. Ele parece ter acabado de sair da hibernação, ele
é desajeitado, lento, pesado. Mimì a raposa dá um bom salto e zac! Mas o ouriço
em um instante se transformou em uma bola espinhosa. A raposa grita de surpresa
e dor e com a boca sangrando retira-se.
- Que animal estranho! - pensa a raposa sem desistir. Deve
ter carne deliciosa embora a natureza a protege tão bem. Será muito melhor do
que a carne de uma toupeira ou de um pássaro. Como gostaria de saboreá-lo para
saber qual é o seu gosto!
E confiante em seus próprios recursos, Mimì, a raposa de pelo
vermelho, inventa recorrer a mil artifícios, truques, expedientes, um mais
engenhoso e sutil que o outro, para capturar o ouriço e devorá-lo.
No entanto, toda vez que o ouriço se enrola e assim
enrolado, ele é inexpugnável.
Afinal, um ouriço não vale tanto desperdício de truques e
nem tanta obstinação, diz ela a si própria raposa para se consolar. E cansada
dos inúmeros truques ela decide deixá-lo em paz, aquele bicho estúpido.