Se buscarmos o ideal de proeminência social entre as
diversas culturas certamente serão encontras muitas diferenças. Só para
citarmos alguns exemplos: os gregos e romanos tinham como ideal o herói, o
cristianismo celebra o santo e os hebreus cultivam o justo. Com efeito, a
Bíblia possui 215 versículos que mencionam o JUSTO, 106 versículos que se
referem ao SANTO. Por sua vez, Heróis bíblicos estão associados à fé e fora da
cultura judaico-cristã louvam a coragem bélica
Da ideia bíblica de JUSTO nasceu em Milão, na Itália, o
Jardim dos Justos ou Gardens of the Righteous Worldwide – GARIWO. O objetivo é fazer conhecer e difundir a memória dos Justos. Entende
que a lembrança do bem seja uma ferramenta educativa e serve para
dissuadir e prevenir genocídios e crimes contra a Humanidade. A exemplo do
cristianismo que possui o Dia de Todos os Santos, o Gariwo conseguiu criar pelo
Parlamento Europeu, do Dia dos Justos, celebrado anualmente nem 6 de março.
A atividade tem como suporte instituições, escolas,
voluntários, de uma Comissão Científica Internacional e de “embaixadores”.
O fundador do Jardim dos Justos é Gabriel Nissim,
intelectual hebreu, animado pela paixão social e senso de Justiça. Concebeu a
ideia de promover a figura do Justo, fora do âmbito israelita. Contudo, creditou para si críticas, ressentimentos, inveja, e inimigos, atitudes estas
bem contrárias ao Justo.
Evidentemente não é para menos. Quais os critérios para
enquadrar alguém como Justo? Valores hebreus, oriundos da Bíblia, que por sua
vez é essencialmente hebraica? Por que estes valores podem ser generalizados? E
as demais civilizações com seus valores ficam excluídas? As civilizações
indianas, japonesas, árabes por que são excluídas? E mesmo a cristã que em
alguns aspectos contradizem a hebraica?
Seja como for, no livro O Bem Possível -Ser Justos, defende a ideia do bem no seu próprio
tempo. Inicialmente a ênfase da ideia de
Justo recai sobre a defesa dos hebreus ameaçados de genocídio. Como por
exemplo, Justo foi o vice-presidente da Bulgária, Dimitar Peshev, salvando da
deportação todos os judeus de seu país ou Armin Vegner, que por primeiro denunciou
o genocídio dos armênios.
Gabriel, todavia, tomou consciência de era necessário o
salto do tempo para “aggiornare” o conceito de Justo e adequá-lo aos tempos
atuais. É o novo cenário onde se visualiza a internet, das redes sociais, do
smartfhone. O foco passou a ser os juveníssimos que não estão mais dispostos a
ouvir exemplos nobres, já encobertos pelo mofo do tempo e até mesmo atrelados
a conveniências. Diz ele:
“É necessário explicar - diz Nissim - que os Justos não
são santos e não são heróis. Os santos pertencem à transcendência e à fé religiosa.
Os heróis elevados à categoria de mitos,
de personagens ideais, nos quais cada um de nós, às vezes, se espelhou
ou se espelha, sonhando imitações improváveis. O Justo de Hoje, no entanto,
pode realmente ser cada um de nós, com méritos, fraqueza e misérias. Mas
disposto a ouvir o impulso mais humano. Um desafio que não conhece obrigações
ou conveniências, mas responde a um impulso que não pode ser retido "
Até mesmo um “boa vida” como Peshev pode ser Justo,
quando contribui para uma sociedade melhor, evitando o genocídio. Ou como
aquele muçulmano que salva pessoas dos ataques de ISIS ou Jihadistas contra o museu de Bardo. Ou
como a pobre mulher grega de Lesbo que abre as portas aos fugitivos. Nissim
concorda com Spinoza: “um homem Justo não o é por só um dia, mas por toda vida.