Pouco
a pouco o clima natalino vai tomando conta dos cenários. Inicia com as chamadas comerciais,
com a ornamentação, com a música, TV, rádios, jornais revistas. Expande-se e envolve todo o ambiente e quando se vê se está dentro do Natal.
Não
é deste Natal, porém, que queremos falar, mas do outro, daquele da Fé. Esta
entendida como uma aceitação de outra dimensão da realidade. Pela fé se
acredita no sobrenatural. É
a mensagem deixada por Bento XVI em Porta
Fidei - por ocasião do anúncio do Ano da Fé - convidando o mundo para ingressar na fé proclamada pelo
Cristianismo.
Há
diversos modos de chegar à fé e também de perdê-la. A primeira forma de fé é
aquela que se instala nas pessoas ao natural. Quando se dá conta faz parte da
vida. Ela penetra na alma através do leite materno, do ambiente familiar e
social. Esta fé não se adquire, nasce-se com ela. É uma fé sem ruptura,
pacífica. As decorrências e conseqüências seguem um fluxo normal dentro do meio
que se vive. É uma fé de Santo Tomás, de São Francisco, de Santa Clara e de
Santa Ana.
A
outra se origina do conflito. Há um passado que precisa ser sepultado para
poder dar espaço a ela. Esta fé nasce da violência consigo mesmo e com o meio. A
partir da opção pela fé passa-se a queimar os antigos deuses e adorar o que se
queimou no passado. É uma fé de São Paulo e de Santo Agostinho.
Há
então duas direções na relação entre fé e razão: uma que parte da fé para a razão e
outra da razão para a fé. Geralmente quando se chega à fé pelo segundo caminho,
ao da razão para a fé, esta não se a perde jamais. O primeiro caminho, o da fé
para a razão, é aquele que mais leva a perda da fé. Pelo segundo, a razão
sente-se insatisfeita, inquieta, frustrada pelas respostas às questões
existenciais. Pela primeira, a razão se sente quase traída pelas soluções
propostas pela fé. A razão que busca a fé dificilmente voltará atrás, mas a fé
que busca a razão às vezes retrocede e se torna descrente ou ao menos sente
mais dificuldade para conciliar razão e fé.
A
fé é a transposição da incerteza do fenômeno para a certeza da verdade. A razão
é a dúvida da certeza perante o fenômeno. A fé faz a passagem daquilo que é
apenas uma hipótese, uma aparência, um indício para uma certeza. A razão se
nega a atravessar o mundo do fenômeno e acatar a certeza. A certeza para a
razão nunca existe a não ser a certeza da incerteza. A fé faz a passagem e após
ela encontra a razão. A razão não encontra a fé, mas esta encontra a razão. A fé
é uma antinomia da razão, mas a razão não o é da fé.
Feita a transposição
da razão para a fé, tudo se torna mais fácil. A mente parece iluminar-se e a
razão passa a perscrutar com infinita liberdade as magnas questões da ciência.
A discussão atual, por exemplo, sobre a origem do universo através do Big Bang
foi antevista por Santo Agostinho há quase dois mil anos: a ausência de tempo e
espaço antes da criação. Tudo era nada e Deus não fazia nada e não, como diziam
os céticos, preparava o inferno para os descrentes, como alguns queriam brincar
com questões tão sérias. Se a fé precede a razão cronologicamente, a razão,
posteriormente, fundamente cientificamente a fé. E enquanto houver fé, haverá
sempre esperança de caridade.O Natal é um ato de fé, quer entendamos e cremos, quer cremos e entendamos, numa nova relação entre Deus e o homem.