A
comemoração de datas significativas é uma interessante estratégia humana de repensar
a vida e seus significados. Sendo histórica a consciência humana, ela renova e
aprofunda o entendimento dos fatos vividos quando a eles volta. Sendo histórica
a própria vida, torna-se possível rever explicações e renovar convicções. Como
celebração cristã, a festa da Páscoa é o centro da fé, pois se Cristo não
ressuscitou é vã nossa fé (1 Cor. 15, 14). A recordação da morte de Jesus
anuncia sua ressurreição e a lembrança de sua morte e ressurreição ressignificam fatos que não foram compreendidos enquanto ele vivia: a palavra proferida, o
batismo e o enfrentamento do mal.
Este
último aspecto é oportunidade para comentar bobagens que ultimamente povoaram
as redes sociais. Depois do lamentável assassinato da vereadora carioca
Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes, a mais idiota geração de
direita que esse país já produziu, decidiu denegrir a imagem da moça.
Veicularam que ela mereceu morrer porque defendia bandidos e marginais, dos
quais acabou vítima. Ao fato respondeu a não menos dotada parcela da esquerda brasileira
dizendo que igualmente não se devia lamentar a morte de Jesus, pois Ele também
defendia bandidos e prostitutas. Nunca imaginei que ouviria um diálogo desse nível
nas redes sociais, mais sua existência não pode ficar sem ser comentada.
Um
comentário que começa com a constatação de que o tempo das massas ignorantes identificadas
pelo filósofo espanhol José Ortega y Gasset, constituída por homens cujo
conhecimento não estava à altura do seu tempo, produziu outra ou outras gerações
igualmente ruins, provavelmente piores. A triste morte da vereadora carioca foi
resultado da soma de corrupção policial, desmando político, descontrole público
e injustiça social. O Rio de Janeiro, uma unidade do Estado Brasileiro, perdeu
o controle da vida social, permitindo uma sequência de fatos desastrosos
(assassinatos, furtos, roubos, violência crescente, tráfico de drogas, etc.).
Essa realidade se implanta em sociedades submetidas a sérias catástrofes. Algo
semelhante ocorreu depois do terremoto do Haiti, quando o Estado Nacional
perdeu o controle da sociedade. Retomar esse controle é o que se tenta hoje com
a intervenção federal no Rio. Porém, a situação de calamidade do Rio é difícil
de ser enfrentada porque além da desorganização social há quadrilhas armadas
que funcionam como poder paralelo. A vereadora foi vítima desse estado
lamentável de coisas. Quando o crime atinge um agente do Estado como ocorreu
com Marielle é sinal de que o descontrole chegou a um ponto gravíssimo.
Quanto
a Jesus, a parte de haver sofrido um julgamento injusto, do qual nos tornamos cúmplices
com nossas injustiças, nunca pactuou com o mal. No seu julgamento enfrentou líderes
religiosos que reduziram a fé num instrumento de poder; autoridades civis que
abdicaram da justiça por medo e o povo que testemunhou a injustiça por inércia.
Essas coisas são próprias de quem é incapaz de viver o verdadeiro amor de Deus.
A incapacidade de vencer o mal é própria do homem. É o que nunca faltou em
Cristo, coragem e força para enfrentá-lo. Se Ele aceitou Paulo de Tarso,
assassino de Estevão; Agostinho de Hipona, egoísta, ambicioso e libidinoso e Mateus,
corrupto cobrador de impostos, não apadrinhou esses erros. Os perdoou porque
eles passaram a lutar contra o mal, neles mesmos e no mundo.
Á
parte do significado salvífico do sacrifício de Jesus, sua morte foi um decisivo
passo no enfrentamento do mal de um modo que não somos capazes de fazer, Jesus
é o que de melhor podemos desejar ser. E ao reaparecer, depois da horrorosa
morte, para um grande número de testemunhas, Ele realizou o que nenhum homem
conseguiu. Ele voltou da morte. Por isso, sua ressureição trouxe esperança e um
significado para viver que somente Deus pode oferecer.