sexta-feira, 9 de março de 2012

O BALANÇO DE 80 ANOS DE VIDA DE UM POLÍTICO INTELECTUAL. Selvino Antonio Malfatti.



O livro de Fernando Henrique Cardoso “A SOMA E O RESTO: UM OLHAR SOBRE A VIDA AOS 80 ANOS” é um depoimento a Miguel Darcy de Oliveira.
A trajetória deste intelectual e político poderia se resumir em dez linhas bem como estendê-la em dez volumes. Penso que a primeira alternativa é mais didática, deixando a segunda para especialistas. Fernando Henrique Cardoso experimentou nos grandes momentos de decisão de sua vida o inesperado. Quando tudo levava a crer que ocorreria um determinado desfecho, repentinamente surge outro, não previsto. O inesperado foi a marca de sua trajetória, tanto intelectual como política.
A perspectiva projetada pelos seus familiares era uma carreira brilhante como jurista. Não se concretizou: foi estudar ciências sociais. O mais lógico seria descobrir o mundo pelo viés do Brasil. Foi pelo da França. Para alguém que detestava a força se poderia desenhar uma vida pacífica. Ocorreu o contrário: foi obrigado por imposição a deixar o Brasil. O sonho era o mundo intelectual da Europa. A opção foi a América Latina. Em vez de um modelo de mundo dos antepassados, defronta-se com o Movimento estudantil de 1968 da França.
Sua carreira como intelectual estava praticamente consolidada na Europa. Abandona a vida acadêmica, sai do exílio e vem para a pátria. Luta com todas as forças para conquistar uma cátedra na USP e logo em seguida é cassado. O melhor seria ir embora, mas resolve ficar. Poderia ter se unido aos partidários da luta armada. Resolve criar uma resistência pacífica e por isso será criticado tanto pelo status quo político como pelos revolucionários.
O balanço da vida encontra-se no título “Sonho e Realidade”. Primeiramente justifica a crença no ideal, no sonho, que ele denomina. Conforme Cardoso os sonhos alimentam nossa ação. Embora nunca se realizem são um alvo, um norte que direcionam nossa ação. A realidade, por sua vez não é estática, mas fluida. Nem sempre a água está a 90º. Ela esquenta e esfria. Assim são as sociedades: ora fervem, ora esfriam.
A vida em sociedade tem regras. Sem elas as sociedades são impossíveis de existirem. É preciso que haja respeito à lei, às liberdades individuais e coletivas. Por isso as sociedades têm normas e os indivíduos, como membros delas, têm regras a serem seguidas. Mas individualmente têm direitos e como a vida é em sociedade esta também tem direitos. Por isso, tanto indivíduos como sociedade, ambos têm direitos e regras. Isto é o que faz o estado de direito, conforme ele.
Na última parte aborda questões que afetam a todos os povos. Um dos temas prediletos é a questão do novo que afeta as relações sociais e desestabilizam a convivência entre as novas gerações e as anteriores. Para ele, no passado projetava-se o modelo a ser seguido a partir do “anterior”: preparar-se, aplicar competentemente os conhecimentos, com isso estava garantido o sucesso e o futuro.
Como será lembrado FHC, como intelectual ou político? Até o momento prevalece o político. E no futuro? Penso que também como político, pois a produção intelectual deu-se precisamente na pré-maturidade intelectual, enquanto a participação na vida política ocorreu na fase madura. Consequentemente ficará na história como um político intelectual, ao menos por enquanto.


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