Se
partirmos da constatação de que existimos, de imediato veremos a precariedade
de nossa existência. Não conseguimos recuar até o instante de nossa
consciência, de nossa interioridade que, iluminada toma consciência de si.
Estamos suspensos, sem ser e com desejo de mendigos de tê-lo.
Quando
ocorreu o acender de nossa consciência? Tudo se esvanece no passado longínquo o
qual não conseguimos identificá-lo. Caminhamos sobre o Nada, como o Mestre
caminhava sobre as águas.
O
que nos consola como reduto último é a Esperança. Entre o Ser e o Nada,
perigosamente suspenso sobre a Morte, o homem consegue viver porque se recusa
cortar o fio da Esperança. Se for rompido, cairemos no Nada. Os acenos das Angústias, do Cuidado, da
Náusea na verdade são apenas acenos do desespero, pois são formas de cortejar o
Nada, de quem pendula entre a Vida e a Morte.
A
Luz pode ser a metáfora da vida, enquanto a Noite da Morte. O primeiro um
ser-em-si e o segundo o não-ser. Esta dualidade reflete-se na gnosiologia na
relação entre sujeito e objeto. No ato do conhecimento o sujeito não só
contempla o objeto, como o objetiva. A relação imediata que surge é uma
bipolaridade de eu-isto. Neste primeiro contato sujeito-objeto estabelece-se
uma relação fria. O primeiro ignorando a concretude do segundo e este reduzindo
ao mínimo sua concretude. Desta relação surge uma metafísica materialista ou
mesmo estruturalista. Esta relação, sujeito-objeto, nos leva a renunciar ao
conhecimento da Vida, do Homem e do Espírito, pois há um sujeito diante de uma
coisa e vice-versa. Será possível outra relação? É possível desde que a relação
que se estabeleça seja de natureza de Eu-Tu , Nós-Ele, Eu-Vós. Esta relação
muda a natureza, pois em vez de objetos, coisas, há relações de sujeitos
inter-subjetivos. Com esta relação é possível captar a vida, o espírito e o
Homem concreto. O existente humano é o ser-em-si em trânsito na busca do
Ser-em-Si-para-Si.
Cada
homem é uma pessoa, pois é capaz de reconhecer-se a si mesmo. O fundamento da
pessoa reside na liberdade própria e do outro. O outro é um ser livre igual a
mim. Sendo assim o conhecimento que tenho dele é sempre provisório, pois o
outro é continuamente um processo em aberto. O outro não é como outro ente que
posso conhecê-lo na sua essência, pois ela se revela no fenômeno e está
definitivamente definido, isto é, ele não é objetivável, pois, o outro está
continuamente em mudança. Além disso, por ser livre não posso adivinhar qual a
intenção que o guiará. Na relação intersubjetiva, entre pessoas, o conhecimento
não se faz por causa e efeito, mas pela espontaneidade, pois tem a iniciativa
da ação e não ser causado.
Com
efeito, a idéia de liberdade alheia faz com que o outro se nos apresente como
incognoscível dificultando o entendimento dele como um fenômeno puro e assim
possa conhecê-lo na sua essência. Por isso o acesso gnosiológico é sempre
provisório devido à imprevisibilidade da intenção que o moverá.
No
entanto, lançando mão da reflexão posso ter conhecimento de minha consciência e
como o outro também tem consciência posso ter um conhecimento analógico. Por
outro lado, o conhecimento do outro o leva a externar-se, como por exemplo, a
cultura. Este fenômeno pode ser objeto de minha consciência e por isso tenho um
conhecimento essencial. Por isso, indiretamente, através da cultura posso
conhecer o outro. Por sua vez, as manifestações existenciais do outro e que
também são minhas podem me lavar ao conhecimento do outro como é o caso, da
morte, sofrimento, injustiças e outros. Disso decorre que os outros, por serem
livres, podem ser nossos conviventes fraternais como nossos inimigos figadais.