A tese de que a Europa moderna produziu excedentes
populacionais que foi anunciada em Amor líquido foi retomada e
aprofundada por Zygmunt Bauman no livro Vidas desperdiçadas. A novidade
é que nesse último livro o assunto ganhou dramaticidade por que a sobra
demográfica foi comparada a lixo humano (BAUMAN, 2005, p. 12): “a produção de
refugo humano, ou mais propriamente, de seres humanos refugados (os excessivos
e redundantes (...), é um produto inevitável da modernidade, e um
acompanhamento inseparável da modernidade.” E assim, em nosso tempo, com o
esgotamento da solução moderna entramos numa crise sobre como alocar esse
entulho, porque o planeta já não tem locais livres para acolhimento ou formas
de fazer a reciclagem desse processo. O atual processo produtivo não tem um
número tão grande de empregos para a todos ocupar em toda parte.
Então, na ausência de meios de vida nessas
ex-colônias da Europa, que acolhiam as sobras humanas daquele continente em
outros dias, vemos iniciar um movimento de retorno para os países de origem,
pois nessas antigas colônias também não há meios disponíveis para ocupar esse
excesso de pessoas desocupadas. Há ainda o problema de guerras entre Estados
artificialmente criados. De tal forma que um regresso dessa gente, por guerras
ou miséria, acirra as dificuldades da sociedade consumista e hedonista, também
ela necessitando dar solução para excessos demográficos (id., p. 14): “os
problemas do refugo humano e da remoção do lixo humano pesam ainda mais
fortemente sobre a moderna e consumista cultura da individuação.” Como se vive
essas dificuldades?
A primeira consequência dessa situação é a falta de
emprego para as populações, tanto nos países mais ricos como nos pobres,
resultando em quadros depressivos graves para jovens que não encontram postos
de trabalho adequados. Assim, a juventude dos anos 70 (id., p. 18):
“experimenta sofrimentos que eram desconhecidos das gerações anteriores.” Eles
chegam a um mercado de trabalho onde não há espaço para trabalhadores sem
experiência, resultando em conselhos para não serem exigentes na procura pelo
emprego e a ficarem felizes com qualquer oportunidade, sem considerar a vocação
de cada um ou seu projeto de vida. A baixa-estima e a depressão emergem nesse
contexto e pioram com comentários como (id., p. 20): “os outros não necessitam
de você. Podem passar muito bem, e até melhor, sem você. Não há uma razão
autoevidente para você existir nem qualquer justificativa óbvia para que você
reivindique o direito à existência.” E como essas pessoas não têm meios de
sobreviver acabam recebendo alguma ajuda do Estado, não sem contestação
crescente da parcela que trabalha e que, fechada no próprio egoísmo, sente
menos a necessidade de construir uma sociedade solidária e a toda proposta
nesse sentido é chamada de comunismo.
A perda da autoestima ou o abandono de um projeto
singular de vida é o que a geração X, nascida nos anos 70, experimenta como
coisa própria, independente de quão difícil tenha sido a vida de seus
antepassados. E a depressão também é alimentada porque esses jovens se sentem
colocados fora do ônibus do progresso e do desenvolvimento. Eles não esperam
emprego duradouro e a falta de regras do mundo do trabalho aumenta a ansiedade.
Para as gerações anteriores, mesmo sendo mal pagas e enfrentando dificuldades,
essa insegurança não existia. Na pior das hipóteses havia uma reserva de
trabalhadores para suprir as necessidades de mão de obra, mas nada como a atual
realidade (id., p. 23): “as preocupações da geração X – preocupações quanto à
redundância – diferem dos problemas vivenciados e registrados pelas gerações
anteriores, e são sofridas e enfrentadas à sua maneira própria e singular.”
O problema atual é a indefinição, não se sabe o que
fazer, para onde ir. Não se tem certeza de um caminho para superar a condição
de refugo, o que antes se tinha claro. Desde o que fazer até como proceder para
voltar ao mercado. Isso significa que (id., p. 25): “o mais importante é que,
para qualquer um que tenha sido excluído e marcado como refugo, não existem
trilhas obvias para retornar ao quadro de integrantes.” A noção de refugo
significa que aquilo que foi posto fora do espaço visível não mais pertence ao
mundo que conta, não há comparação com o desempregado de algum tempo que,
apesar das dificuldades, sabia o caminho da volta pelo trabalho.
Diante dessa realidade, o uso da razão, o debate
livre e sem ódio de ideias, a recusa da radicalização política e da mentira
como sua propaganda; a procura real para os problemas mencionados, o
compromisso com a verdade, a defesa do estado de direito e da democracia, a
valorização da ciência, da filosofia, da razão, são os melhores meios de
enfrentamento dessas dificuldades que a vida de hoje nos apresenta.
Triste realidade, seres humanos marginalizados e também sobreviventes, sempre a história se repete.
ResponderExcluirConcordo com você, nunca houve tanta insegurança, o medo do amanhã, nos tira toda esperança.
ResponderExcluirVivemos tempos difíceis.
O compromisso com a verdade?
ResponderExcluir, Falta clareza nos planos dos governantes, só somos vistos na hora de votar, depois voltamos a ser invisíveis.
Como dizia mamãe, tempos bicudos, viver o hoje.
ResponderExcluirNem o tempo podemos entender.
Os jovens não estão fora dos trilhos do progresso,.
ResponderExcluirInfelizmente são desde a infância desestimulados pelos adultos a NÃO valorizarem o conhecimento.
Onde estão aqueles professores, que sabiam orientar crianças e jovens.
Cresci vendo minhas professoras reclamando do salário, do governo etc
Verdade, queria ser professor, mas escutar a professora era puro desestímulo.
ExcluirO profissional deve amar sua vocação.
Uma leitura que trás muita REFLEXÃO.
ResponderExcluirPara onde seguimos, o que a vida nos reserva.
Como somos espíritos eternos vivendo experiências terrenas, o mundo que o Criador nos coloca, a nossos olhos pode estar imperfeito, mas cada um passará pela experiência necessária a seu crescimento.
ResponderExcluirPessoas entram em nossas vidas, nos ensinam e apreendem, deixam um pouco de si e seguem .
O mundo do CRIADOR é perfeito.