Quando terminou a Segunda Grande Guerra os países ocidentais reunidos na ONU decidiram recriar o Estado de Israel. Era o que parecia mais necessário considerada a perseguição histórica aos judeus radicalizada pelos nazistas que assassinaram seis milhões de pessoas. Essa perseguição aconteceu especialmente depois de 70 d.C., quando acontece a segunda grande deportação dos judeus de sua terra. A criação de um Estado político, concretizada em 14 de maio de 1948, era diferente da missão espiritual dos judeus concebida pelos místicos judeus de consistirem o povo numa espécie de sal da terra. Se a proposta se concretizou no fim da Segunda Guerra começou a ser debatida antes.
Parece
que a proposta anterior mais consistente sobre um Estado judeu foi concebida por
Theodor Herzl, ainda no século XIX. Ele publicou, em 1896, a obra O Estado Judeu, livro que teve grande
aceitação entre os judeus europeus, especialmente entre os que viviam no Oriente
e que habitavam a Europa Ocidental. É evidente que a criação política de um
Estado era um projeto que precisava manter aberto o diálogo com outras crenças
religiosas, pois o Estado político não seria formado apenas pelos judeus ortodoxos,
embora a maioria praticasse o judaísmo, o que os identificou enquanto não
tinham um Estado. Herzl avaliou que o único modo de os judeus viverem em paz e
a melhor forma de combater o antissemitismo era a criação de um Estado, onde
pudessem se reunir os judeus de todo o mundo, mesmo os que tivessem aderido a
outras crenças. No entanto, se a tese de Herzl se limitava à uma articulação geopolítica
restrita à criação de um Estado territorialmente localizado e burocraticamente
administrado, era preciso pensar na consistência dessa proposta. Neste livro,
Herzl defendeu um território habitado por judeus e palestinos vivendo em paz no
mesmo território. Essa posição, que limitava o problema judaico à construção de
um Estado Político, era limitada e sofreu críticas como a de Martin Buber que
via no compromisso moral de fraternidade a unidade espiritual necessária para o
novo Estado. Disso precisariam participar todos os habitantes do novo Estado.
Embora
haja nesse ponto muito a examinar e comentar sobre as teses que precederam a
criação do Estado de Israel, vou dirigir meu olhar mais especificamente para a aproximação
entre a crença judaica e a cristã que os estudiosos da cultura reconhecem estar
na base do ocidente e a que Buber deu especial atenção. Sabemos que a tradição
judaico-cristã do ocidente e toda a moralidade ocidental deita raízes na ideia
de pessoa humana e inspira a criação de sociedades mais justas, com base nos
mandamentos de Moisés e no ideal de amor ao próximo de Jesus. Buber não discorda dos moralistas que viam na
moral cristã a base da ética ocidental, mas enfatizou que a Bíblia judaica
oferece as bases para um humanismo tão rigoroso quanto o cristão e que o
humanismo judeu é na essência semelhante ao cristão. Todo seu esforço em L´hebraisme et l´humanité é mostrar que
em essência os textos do Primeiro e do Segundo Testamento são conformes e
apontam para uma sociedade mais justa e fraterna, o que nada tem de comunista.
Nisso Buber repete Hermann Cohen, outro notável filósofo judeu. Ele diz (1962,
p. 44): “Quem
abre a grande Bíblia da antiguidade hebraica, verá nos livros de história as
longas andanças de Javé; nos livros dos profetas o convite a superar a
injustiça, as contínuas súplicas a Deus para obter a purificação; no livro de
Jó, o convite a reconhecer a necessidade das contradições interiores, que a
vontade não pode vencer, e aqueles que lutam contra si próprio não podem
escapar, contradições das quais nos arrebata somente a redenção; e em toda
parte se encontrará o sentimento, e a experiência dessa divisão e em toda parte
o esforço para a unidade.”
O
pano de fundo do reconhecimento de uma unidade humanista era mostrar que não
apenas não havia sentido em considerar o judaísmo estranho ao cristianismo,
como lhe parecia necessário que judeus e cristãos convivessem no novo Estado
emergente. Deviam se respeitar e juntos construir o reino de paz anunciado
pelos Profetas.
O
filósofo investigou, detalhada e cuidadosamente, no que consiste a experiência
de Deus feita pelo povo judeu no livro Santo, especialmente no Êxodo. E a
centrou no diálogo face a face com YAHWEH feito por Moisés.
Porém avalio que as página mais lindas de Buber consistem no seu reconhecimento de que poucos judeus (creio que nenhum outro) viveram uma experiência tão íntima com Deus como Jesus de Nazaré. Independente de considerá-lo (Profeta ou Filho de Deus), Buber mostrou que foi essa experiência essencialmente judaica de Deus, vivida em íntima profundidade com o Grande Tu, que levou Jesus de Nazaré a chamaR YAHWEH de Pai. Foi pelo encontro direto com YAHWEH, que Jesus enfrentou religiosos ortodoxos e fariseus radicais que limitavam a fé judaica ao cumprimento de regras, realização de cultos regulamentados e outros procedimentos exteriores, perdendo o que havia de essencial nas páginas do Livro Santo: o amor entre os homens e a Deus. O espírito judaico mais elaborado, não importa se reconheça ou não a divindade de Jesus, o considera um homem de profunda espiritualidade pela atualização e divulgação da mensagem profética.
Isso fica dessas considerações de Buber, o convívio respeitoso entre a fé judaica e a fé cristã, pois como ele reconheceu, ela consiste no dizer diretamente ao coração de YAHWEH o que está no coração de cada um de nós quando busca o perdão das faltas, a proteção nessa vida e a salvação eterna.
Importante conhecer a história verdadeira.
ResponderExcluirObrigado.
Perdão das faltas, proteção a vida e vida eterna? Hum..
ResponderExcluirSerá tão simples assim?
Não é o que dizem os mandamentos, sem berço esplêndido.
ExcluirSempre voltará para reparar os erros cometidos.
Superar as injustiças, um princípio fraterno.
ResponderExcluirAs religiões deveriam se unir, se todas levam a Deus, porquê diferenças.
ResponderExcluirObrigado, fatos importantes.
ResponderExcluirA justiça sendo feita a um povo sofrido e perseguido, apenas uma terra para viverem e plantaram, assim sobreviverem.
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