Após 77 anos parece que foi
descoberto o delator que revelou o esconderijo de Anne Franck e família. É o
que revela a pesquisa do livro de Rosemary Sullivan “Quem traiu Anne Frank” (HarperCollins).
Na busca do informante montou-se
uma equipe poderosa que foi atrás do autor da delação.
“Os líderes dessa equipe -
composta por Thijs Bayens, cineasta holandês; Pieter van Twisk, historiador e
jornalista; e Vince Pankoke, ex-agente do FBI - com a ajuda de dezenas de
pesquisadores, arquivistas, analistas forenses, historiadores, criminologistas
e técnicos”. , revela Sullivan.
Utilizaram técnicas modernas
como algoritmos de computador, estabelecendo conexões entre pessoas
aparentemente não relacionadas, trabalharam por seis anos para desarquivarem um
“caso arquivado”. A descoberta revelou nada mais e nada menos que foi um
próprio judeu que traiu os Franck.
A pista surgiu quando perceberam
que os membros do Conselho Judaico de Amsterdã foram levados para os campos de
concentração, menos um membro. Trata-se do judeu Van den Bergh, que morava
tranquilamente em Amsterdã.
Com decretada a dissolução
do Concelho Judaico, seus membros perderam todas as proteções de que gozavam.
Para alguém escapar tinha que ter em seu poder algo muito valioso para barganhar
e convencer os nazistas a não enviá-lo para os campos de concentração. Foi o
caso de van
den Bergh. O objeto da permuta foi o
esconderijo dos Franck. Um deles, Otto Franck, recebeu inclusive um bilhete
anônimo revelando o delator.
Narra Sullivan:
“Em 4 de agosto
de 1944, por volta das 10h30, um carro da polícia alemã parou em Amsterdã em
frente ao prédio da Prinsengracht 263, sede da empresa Opekta Pectacon. Naquela
casa, em um apartamento no último andar dos fundos, oito judeus estavam
escondidos há dois anos e trinta dias: a família Frank, a família Van Pels e o
dentista Dr. Pfeffer. A operação foi comandada pelo sargento-mor SS Karl Josef
Silberbauer, austríaco, com policiais holandeses à paisana. Diz o Sr. Victor
Kugler (chamado Kraler no Diário de Anne Frank): «A polícia queria ver os
armazéns à beira da estrada, e eu abri as portas. Eu pensei, se eles não querem
ver mais, ainda está tudo bem. Mas depois (...) o sargento-mor saiu no corredor
e mandou que eu o seguisse. De repente, ele me ordenou que afastasse a
prateleira da parede e abrisse a porta de fundos."
Estava descoberto o
esconderijo.
No livro da autora é
revelado também o nome do delator: o tabelião judeu Arnold van den Bergh. Era
casado tinha três filhas. Membro do Conselho Hebraico, tendo como uma das
principais funções, apontar nomes de hebreus para deportação. Para se tornar
imune a suspeitas conseguiu ser inserido na lista de Hans Georg Calmeyer
declarando que não pertencia à raça hebraica. Com isso manteve o emprego de
notário até 1943, até que foi denunciado ao SS por um colega ariano. Isto o
levou a perder os privilégios que detinha.
Para salvar a própria pele e
de sua família passa a fornecer à polícia nazista endereços de hebreus
escondidos. Foi então que, sem se dar conta, apontou o número 263 de
Prinsengracht,
que era da família Franck.
Mas como poderia hebreus serem vendidos aos nazistas por
hebreus? Um dos cronistas do Holocausto, Jacob Presser, comenta: é ingênuo,
absurdo e historicamente falso pensar que um sistema demoníaco como o
nacional-socialismo, iria santificar suas vítimas. Ao contrário, isto iria
degradar, emporcalhar e assemelhá-los entre si, vítimas e verdugos.
Como fica a questão ética dos atos de van den Bergh? É pacífico que qualquer um tem o direito de defender sua própria vida e dos que lhe são caros. O problema surge quando se analisam os meios utilizados. Não é lícito utilizar qualquer meio para atingir o fim. Tanto os fins como os meios devem ser lícitos. Parece que novamente Hanna Arend tinha razão: agiam como burocratas, sem escrúpulos. O mal não entra na ponderação, é banal, tanto para nazistas alemães como para delatores hebreus. Foi o que aconteceu com van den Bergh? Seu objetivo salvar a si e sua família estariam em tese moralmente justificáveis. No entanto, salvar a si em troca da condenação de outros, não resiste a qualquer julgamento legal, moral e ético em que pese não haver no período um estatuto legal dos direitos humanos o qual somente foi aprovado em 1948 pelas Nações Unidas e o Tratado de Roma em 1950. No entanto, já existia no ocidente esparso em estatutos e de modo tradicional uma consciência ética sobre tais direitos. E, embora se diga que não tencionava delatar diretamente os Franck, também não justifica. A questão não é esta ou aquela família, mas o ato deletério.
A ação do delator foi um mal em si e pronto.
Uma jovem solidária, lutou pela liberdade de tantas pessoas, deixou uma história de amor ao próximo.
ResponderExcluirDifícil entender a ação de um delator, ´sem julgamentos.
Muito interessante, figura com uma história especial.
ResponderExcluirA delação foi um mal, mas delata ou perde a vida, triste decisão.
ResponderExcluirTempos difíceis, viver ou morrer.
ExcluirSem julgamentos, apenas respeito a uma jovem com tanto amor.
Sempre choro quando releio o diário de Anne.
ResponderExcluirObrigado.
Uma história de amor.
ResponderExcluirMuito sofrimento.
Um homem com três filhos, salvará seus filhos,sem julgamentos.
ResponderExcluirFoi uma traição, mas como fazer julgamento, ninguém será capaz de entender na dor até onde suportará.
ResponderExcluirUma vida tão sofrida, comovente.
ResponderExcluir