O reconhecimento do trabalho feminino, foi uma luta no sentido de fazê-lo existir visivelmente, reconhecê-lo política e juridicamente. Como se expressa Nancy Fraser:
“Por que o trabalho
invisível, por excelência o trabalho doméstico e o cuidado, foi sempre
atribuído às mulheres, um trabalho não reconhecido, naturalizado e
desvalorizado”. (Fraser, 2014)
Apesar de a revolução feminista colocar na pauta das
discussões radicalmente o sistema social patriarcal, alicerçado sobre a família
e sobre o sujeito social universal: o trabalhador masculino, branco, operário,
por tempo indeterminado. Implantou o sistema de dependência/independência, base
do ocultamento e da desvalorização do trabalho feminino.
A questão para a explicação da situação do trabalho
feminino é a insinuação de que o responsável é o sistema capitalista. Acontece
que em todas as culturas e todas as formas de produção tiveram esta
experiência. Até mesmo nos primitivos indígenas se encontra tal fato, como
entre as tribos brasileiras, não tendo nada a ver com o capitalismo. A divisão
das tarefas era feita por critérios de idade e sexo. E, há de se considerar que
como pano de fundo, está a criação, alimentação e educação das crianças. Elas
constituem o peso preponderante.
Entre os indígenas as mulheres, em grande parte,
ocupavam-se dos trabalhos domésticos, cuidado das crianças e também
agricultura. Os homens trabalhavam na derrubada da mata, plantio, caça e pesca,
fabricação de canoas, armas de guerra, defender a aldeia. Como se vê, numa
sociedade tribal, que nada tinha a ver com capitalismo, basicamente as mulheres
ocupavam-se dos trabalhos domésticos e os homens atividades fora das habitações.
Entre os antigos predominava o sistema patriarcal. Os
homens detinham o poder primário e ocupavam as funções políticas e religiosas
que quase sempre se identificavam. Na família o pai mais antigo detinha o poder
sobre escravos, filhos e mulheres. Aqui também, num sistema de sociedade
patriarcal, às mulheres cabiam atividades domésticas e aos homens atividades
fora da habitação.
Por que razão este modelo de trabalho, mulheres
domésticas e homens em atividades extra domésticas, pode ser encontrada em
praticamente todas as civilizações que saíram do estágio nômade para o
sedentário até a era industrial ocidental. Qual a razão desta divisão? Que
critério foi adotado?
Entendo que não se pode reduzir a uma razão só. Foram as
mais diversas, cada povo, cada época adotou um critério seu. Podemos enumerar
alguns: 1. Conveniência – Era conveniente que uma parte do grupo familiar
cuidasse do lar e outra buscasse recursos fora de. O trabalho do lar coube às
mulheres e crianças e o fora do lar aos homens. Com certeza seria inconveniente
levar as crianças para o trabalho fora do lar. Isto provavelmente aconteceu com
os grupos tribais 2. A dominação – o elemento masculino impôs pela força o
condicionamento feminino no lar. Foi o que aconteceu, por exemplo, com as
civilizações do oriente, como árabes e os bárbaros. As mulheres eram servas,
senão escravas dos homens 3. Consentimento – os dois gêneros, masculino e
feminino, decidiram consensualmente que fariam isso. Este modelo pode ser
encontrado entre os hebreus, devido à ideia de igualdade de gêneros. Existem
outros, mas estes dão uma ideia de multiplicidade de razões.
Mas por que somente com a revolução industrial aconteceu
a paulatina liberação da mulher do lar? Inicialmente o trabalho feminino nas
fábricas ajudava na renda familiar. Mas, com a abertura política liberal para participação de
outras categorias na política, que não somente os proprietários, abriu-se espaço para que a mulher também tivesse
representação. Primeiramente nos sindicatos e depois junto com o marido na política. Pouco
a pouco, as mulheres passaram a participar autonomamente. Este processo levou
um século, de 1830 a 1928. O que não havia sido feito em 5.000
anos, com a revolução industrial e abertura política liberal capitalista, se alcançou num século.
Até a segunda década do século XX, o voto era tão somente extensivo ao sexo masculino. A
extensão do voto às mulheres ocorre em 1918, àquelas que tivessem mais de 30
anos e que fossem proprietárias ou esposas de proprietários. A universalização
do sufrágio na Inglaterra ocorre em 1928 com a Lei do “Flapper vote” (voto das
moças).
Resumidamente o processo de abertura política seguiu a
seguinte evolução: classe média rural, classe média urbana, operários, mulheres
casadas e finalmente, o “flapper vote”, as solteiras. E precisamente é neste
contexto que surge a liberação da mulher das atividades exclusivamente
domésticas. Portanto, não foi o capitalismo que enclasurou as mulheres nas
atividades domésticas. Ao contrário, o capitalismo ensejou a sua liberação. Não
estamos dizendo que foi pacífico. Não. Houve muito derramamento de sangue
feminino até a liberação.
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Muito bom, faz sentido.
ResponderExcluirBom mesmo, mas hoje muitas mulheres não são felizes, a libertação também escraviza.
ResponderExcluirO capitalismo libertou as mulheres?
ResponderExcluirNao mesmo, hoje são mais estressadas, cansadas, sobrecarregadas.
Nada fácil para as mulheres, jornada dupla, trabalho e casa para cuidar.
ResponderExcluirPerdemos tentando ganhar.
Verdade, deveriam continuar nossas rainhas do lar.
ExcluirO capitalismo libertou as mulheres, tirou de dentro de casa a mãe.
ResponderExcluirAs mulheres são únicas, especiais.
ResponderExcluirMesmo quando discutem a relação, não precisam trabalhar, so nos dar amor, será sempre um prazer atender seus desejos.
As mulheres lutaram tanto, que sofrimento, hoje sobrecarregadas desistem de sonhos.
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