No
ensaio História da educação o
filósofo e pedagogo português Delfim Santos pensa o enfrentamento daquilo que
Ortega y Gasset caracterizou como o tempo das massas. O ensaio não é um tratado
de pedagogia como o título sugere, mas uma reflexão sobre a história da cultura
na qual se tece a humanidade do homem.
Essa
preserva atualidade uma vez que as dificuldades que Delfim enxergou se tornaram
ainda mais agudas em nossos dias pela presença de outras características indicadas
por Ortega y Gasset no homem-massa. Além de bárbaro ignorante (doutor em algo,
mas ignorante do resto), senhorzinho satisfeito (acha que o mundo está aí para
ele aproveitar sem esforço) e criança mimada (querer o que sabe que não pode), o
homem atual é superficial, ansioso pelo prazer e estabelece relações
efêmeras.
Delfim
Santos entendia que para enfrentar as dificuldades do seu tempo era preciso
recuperar aspectos da história construídos no processo educacional. Ele explica
(id., p. 283): “O homem não surge homem sem os cuidados de
outrem nunca mesmo o poderia vir a ser. Enquanto o animal, após a adequação ao
seu próprio meio, que naturalmente se lhe oferece, dispensa o artificio, o
homem, ao contrário, só vive em função do artifício que os seus próximos lhe
preparam, como alimentação, vestuário e habitação”.
A
fragilidade do indivíduo obriga-o a aprender elementos culturais com os quais
enfrenta a realidade natural e os desafios de viver em sociedade. Por isso, a
sobrevivência individual se amarra com os desafios da espécie. Ele aprende para
ultrapassar as fragilidades dos primeiros anos, ocasião em que ele mais aprende
que cria algo novo. Depois que cresce e possui boa compreensão da realidade,
vai melhorar o aparato cultural que assegura sua humanidade. A história se
forma com a educação das novas gerações e com as criações dessas que repassam o
que criam para as próximas. Ele explica (id., p. 284): “O homem como ser
histórico só se torna possível pela educação em função de valores, de intenções
ou de propósitos. A formação do homem só é possível, pois, como transformação,
isto é, tentativa para se tornar o que ainda não é, e este trânsito do que já é
para o que ainda não é, precisamente o que entendemos por histórico.”
Dessa
maneira, para enfrentar as dificuldades que a vida renova o homem precisa
buscar na sua história os elementos de formação que o capacitem a enfrentar as novas
dificuldades. Não se trata de repetir o que foi feito, mas de aprender com o
que foi feito. E esses elementos a serem recuperados são culturais, amplos e implica
na aprendizagem de diversos valores como: o sagrado (religião), o verdadeiro
(ciência, filosofia, religião), o bem (ética), o belo (estética) e o útil.
A
história da formação do homem é a própria história do homem. Desde que o homem
surgiu houve educação e, portanto, história, ainda que o registro não tenha
sido preciso. Se cultura é o que se fez em toda a história, num determinado
período essa raiz de humanização parece especialmente importante. Delfim Santos
aponta o VI século A.C. como um tempo importante onde surgiu (id., p. 286): “o
alfabeto que provém dos fenícios, o calendário de origem babilônica, a
geometria proveniente dos egípcios. Da Índia recebemos a numeração, sem a qual
as principais características da civilização europeia não se poderiam ter
afirmado tais quais são”. Ele ainda menciona a linguagem indiana, os cuidados
médicos, a música e a arte do Egito, a moralidade judaica e a filosofia e
ciência gregas.
E,
entre os gregos o processo de formação humana foi bem consolidado na Paideia,
que é (id., p. 291): “a formação do homem e (...) foi esta a intenção que
norteou aquilo que podemos chamar de cultura grega”. O que ele sugere é a
retomada desses valores de humanização para o homem enfrentar os problemas
desse tempo das massas antes resumido. Questões como essa, relativas à formação
do homem culto, precisam ser meditadas quando nos preparamos para iniciar novo
ano letivo.
Interessante.
ResponderExcluirMuito bom
A educação é tudo.
ResponderExcluirTransformação, mudanças, só o conhecimento transforma.
ResponderExcluirTodos nós precisamos uns dos outros, assim vamos crescendo no conhecimento e aprendizagem.
ResponderExcluirMaravilhoso, descreve as relações da atualidade, tudo muito superficial, vínculos fragilizados, famílias vulneráveis onde falta afeto e sobra egoísmo.
ResponderExcluirSim, a filosofia preenche toda lacuna para termos educação com qualidade.
ResponderExcluirA filosofia nos ensina a sermos seres pensantes, o governo prefere massa trabalhadora.
ExcluirSeria suficiente apreender a pensar, questionar e avaliar, não seríamos apenas massa, seríamos indivíduos mais preparados para viver.
ResponderExcluirSe não for assim está sendo negado as gerações o direito de sonhar e conhecer a bela história da humanidade.
Todo conhecimento transforma.