Devido à visibilidade da violência praticada e
incentivada no mundo árabe, trazemos hoje um estudo do eminente Professor
Antonio Paim sobre o questão. Esta existe também no seio da cultura cristã, mas
a religião não é invocada. Ao contrário, na cultura árabe uma parcela fundamenta sua ação
em motivos religiosos e nisso consiste a especificidade.
Diz Antonio Paim:
"Na França, o Ministro do Interior acumula a função de Ministro dos Cultos. Quando ocupou o cargo (entre maio de 2002 e março de 2004)), Nicolas Sarkozy constatou que --ao contrário do que ocorria em relação a judeus e cristãos-- os muçulmanos careciam de órgão representativo com o qual se entendesse o governo nas questões jurídicas e administrativas relacionadas aos respectivos grupos sociais. À vista disto, criou o Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM).
"Na França, o Ministro do Interior acumula a função de Ministro dos Cultos. Quando ocupou o cargo (entre maio de 2002 e março de 2004)), Nicolas Sarkozy constatou que --ao contrário do que ocorria em relação a judeus e cristãos-- os muçulmanos careciam de órgão representativo com o qual se entendesse o governo nas questões jurídicas e administrativas relacionadas aos respectivos grupos sociais. À vista disto, criou o Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM).
Presentemente, na França, estima-se (o Censo não registra a religião dos
recenseados) que os muçulmanos correspondam aproximadamente a seis milhões de
pessoas, equivalentes a cerca de 10% da população (66 milhões). Assinale-se que
parcela substancial desse contingente é constituída de emigrantes das antigas
colônias situadas no Norte da África
(Marrocos, Tunísia, Mali e Argélia) que, na maioria dos casos adotam a cultura
francesa e criam os descendentes tratando de integrá-los.. Nessa circunstância,
o CFCM segue uma linha que o distancia do islamismo fundamentalista e radical,
sem embargo de que marquem presença no país e cometam atentados terroristas
hediondos, a exemplo do assassinato dos jornalistas do periódico humorista
Charlô. Por sua vez, o governo força essa integração, revestindo-se do poder de
cassar cidadania e expulsar radicais tão logo sejam identificados. Emblemático
da política de integração é a proibição de sinais exteriores que distingam os
muçulmanos do comum da pessoas, a exemplo do uso da burka.
Le Figaro
(edição de 2/06/2015) dá grande destaque a livro do reitor da Grande Mesquita
de Paris, Dalil Boubakeur --Letre ouverte aux Français (Editions Kero)-- que
vem de exercer o mandato de Presidente do mencionado Conselho (CFCM). De certa
forma, pareceu-nos que complementa a interpretação de Ayaan Hirtsi Ali, que
tivemos oportunidade de comentar, de que já dispomos de tradução brasileira, a
cargo da Companhia das Letras.
Dalil
Boubakeur responsabiliza diretamente a Arábia Saudita pela difusão do islamismo
radical. Diz expressamente que “impõe sua visão graças a seu petróleo”. Na
França, é identificado comosalafismo. A linha que preconiza consiste em não
deixar apenas nas mãos do Estado a incumbência de combatê-los.
De forma
prática, o Conselho Francês do Culto Muçulmano estimula a criação de órgãos
regionais aptos a assumir essa linha do mesmo modo que mesquitas mais
representativas. Na edição que estamos seguindo são apontados vários exemplos,
que em síntese referimos a seguir.
Na visão do
imã de Alfortvisse, Abdelali Mamoun, “não se trata de fechar as mesquitas mas
de desembaraçar as associações mantenedoras de malfeitores que se incumbem de
difundir o ódio.” O reitor da grande mesquita de Lyon, Kamel Kabtane, por sua
vez, ao comentar a reação contrária aos acontecimentos do mês de janeiro
(assassinato dos jornalistas antes referido), adverte: não se deve condenar as comunidades em seu conjunto,
cabendo reconhecer que, dada a enormidade da tarefa, “não podemos agir sozinhos.
Temos necessidade do Estado.”
O Presidente do Conselho Regional do Culto
Muçulmano de Rhones-Alpes, Abdelikader Laid Bendidi destaca a importância da
vitória jurídica alcançada pela Mesquita de Oullins, apoiada pela CRCM, contra
iman auto proclamado, ao mesmo tempo em que chama a atenção para a necessidade
de manter-se vigilantes contra os salafistas.
Le Figaro
registra a opinião do padre Christophe Roucou,
que considera “bom conhecedor do assunto”, encarregado das relações da
Igreja Católica com as entidades islamitas: “O problema é o contraste entre a
lentidão institucional das instâncias muçulmanas e a urgência dos
acontecimentos. As jovens gerações, sensíveis a esse distanciamento, perdem a
confiança. Quanto aos radicais, afastam-se das mesquitas. Será necessário esperar
uma geração para superar esses distanciamentos.”
Por fim, o
jornal destaca a atuação do Ministro do Interior e dos Cultos, Bernard
Cazeneuve. Este enfatiza que o Estado é inflexível contra os pregadores do ódio
religioso. Declara: “os incitadores do ódio não são tolerados”. Indica que,
desde 2012, quarenta imans foram expulsos e vinte deles são objeto de instrução
que terminará por expulsá-los."
Não consigo entender tanto sofrimento, tanta dor, muito triste para um povo.
ResponderExcluirToda forma de discriminação e violência deve ser condenada.
ResponderExcluirEntendi a bela explicação, só acho triste tanto preconceito.
ResponderExcluirNão se deve condenar as comunidades em seu conjunto, cabendo reconhecer que, dada a enormidade da tarefa, “não podemos agir sozinhos. Temos necessidade do Estado.”
ResponderExcluirEsta é a mais pura verdade.( cumpram)