A
crise instaurada no país pelo escândalo da Petrobrás mostra um triste aspecto
do patrimonialismo nacional, a relação imoral (além de criminosa) entre funcionários
corruptos, incluídos políticos e empresários sem escrúpulo, que se unem no
propósito de se apropriar, de modo inadequado, das riquezas públicas. Assegurando
o ganho fácil e a prestação inadequada do serviço, prejudicam duas vezes a
sociedade a que pertencem. Nesse caso, o fato recentemente divulgado pela
imprensa demonstra a falta de controle da empresa estatal, mas também a
fragilidade moral de altos funcionários da República, aí incluídos políticos.
Há
quem não considere a falta de preparo moral dos funcionários, ou a fragilidade
da matriz cultural patrimonialista brasileira, onde os problemas morais não
foram e não são devidamente discutidos, para centrar toda a carga na
ineficiência dos mecanismos de controle da empresa. Esta perspectiva parece
frágil. Primeiro porque desconsidera que em algum momento da vida social o
sujeito estará só com sua consciência e tomará decisões. Mesmo em sistemas
muito seguros há sempre uma forma de fraudar, em especial se estamos falando da
equipe dirigente que não tenha internamente nenhuma restrição a cometer atos
imorais.
Por
outro lado, não há como consolidar uma boa vida em grupo sem base moral. O
filósofo português Delfim Santos lembrava que uma participação qualificada na
vida social depende da densidade da vida pessoal. Uma vida social qualificada
não significa igualdade entre os indivíduos de uma nação, mas a possibilidade
igual de serem eles diferentes uns dos outros na afirmação da própria
singularidade. Só nessa desigualdade existencial, ou melhor, na diversidade de
vocações encontram os indivíduos humanos um sentido pessoal para a própria vida
e só assim ele será capaz de cooperar com os demais membros do grupo e
sustentar os legítimos interesses nacionais, porque também desenvolverá
elementos morais.
A
afirmação da diversidade pessoal e realização de vocações particulares exigia,
disse o filósofo português, a superação de dois graves problemas da cultura
ocidental contemporânea. O primeiro é o afastamento do homem de si mesmo, o que
redunda numa vida infeliz dedicada ao trabalho vazio e à distração sem sentido
das horas de descanso. Daí resulta o segundo grave problema a superar que é a
sociedade redutora, incapaz de alimentar a vida do espírito, o pensamento, a
reflexão, caindo no vazio da existência, mas também na falta de meditação moral.
Sem pensar rotineiramente no que é correto e no que não é, sem meditar sobre
nossas escolhas diárias, a vida parece se perder em ações irresponsáveis, ou em
opções descomprometidas do que é certo.
Quando
realçamos, como parte de nossas dificuldades culturais, os problemas que
emergem no país por não se discutir as questões morais, não é porque nossa
sociedade seja naturalmente imoral. Nenhum povo é naturalmente imoral. É porque
parece ineficiente o discurso moralista de ficar condenando os atos imorais
quando surgem ou esperar da justiça a punição dos malfeitores. Melhor é a
meditação ética que previne e produz efeito em indivíduos habituados a pensar
sobre a correção de suas ações. E também se deve considerar que, por mais
controle que exista, e deve mesmo existir, em algum momento o indivíduo estará só
com sua consciência e fará escolhas de grande repercussão na vida da sociedade
a que pertence. Se não tiver esse autocontrole acabará encontrando um caminho
para fraudar o sistema, prejudicar alguém ou todo o grupo. Um comportamento
mantido apenas com punição, sem recompensas sociais e morais, retornará diante
da ausência do agente punidor.
Ao
estudar as meditações de Delfim Santos sobre a vida social contemporânea, seus
desafios e o futuro da sociedade, entendemos tanto o sentido da moralidade como
uma das dimensões da existência, como seu papel na construção de um grupo
socialmente bem estruturado.
Estamos convivendo com uma sociedade doente, é muita falta de respeito para com seus semelhantes.
ResponderExcluirTempos bicudos como diria meu avô.
ResponderExcluirAs vezes necessitamos parar e avaliar que tipo de cidadãos estamos formando para a sociedade.
ResponderExcluirPrecisamos urgentemente de bons exemplos, onde foram os homens de boa vontade, íntegros e honestos. As palavras perde-se aos ventos, mas, as atitudes são um exemplo que se perpetuam no tempo.
ResponderExcluirAcredito que é essa nova geração de juízes e promotores, que poderão fazer uma reviravolta neste país
ResponderExcluirMoral, respeito parecem que são valores em extinção.
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