Foi publicado
recentemente o livro Pessoa e Dignidade
Humana de Urbano Zilles, pela CRV de Curitiba. A obra examina o que a
tradição culturalista brasileira considera seja o valor nuclear da cultura
ocidental cristã: a pessoa humana. O livro é de cunho filosófico, mas o autor
se vale da condição de sacerdote e teólogo conhecedor do debate que sobre o
tema realizaram os pensadores cristãos para complementar sua investigação filosófica.
A obra originou-se num curso oferecido no programa de pós-graduação em
Filosofia da PUC/RS.
Não parece
que há um tema tão atual e necessário para nosso país onde o noticiário estampa
quotidianamente crimes contra a pessoa em números assustadores. Não há nada tão
atual num mundo onde o terrorismo atua desrespeitando os direitos fundamentais
do homem, notadamente o de viver, o primeiro deles. Estamos ainda perplexos com
as bombas que mataram três pessoas e feriram dezenas durante a Maratona de
Boston na semana que passou. Embora nesta altura ainda não se saiba os motivos,
sabe-se que o ato foi executado por dois jovens de origem russa, mas que viviam
há décadas nos Estados Unidos.
O que se
apreende no livro de Zilles é que os conceitos pessoa e dignidade
“não são empíricos, mas situam-se na dimensão espiritual” (p. 7). Dimensão
espiritual, esclareça-se, é o lado de dentro do Homem. Conforme ele explica: “o
ser humano não existe sem a dimensão empírica, mas não se reduz a ela” (idem, p.7). Justo por isto, a ciência,
olhando-o como poeira cósmica ou um ente minúsculo num planeta ínfimo localizado
num canto qualquer de um universo em expansão, ou ainda, vendo-o como um
complexo mecanismo biológico, não fornece elementos para justificar sua
dignidade. Além disto, o humanismo ocidental encontra-se sob suspeição de modo
que é necessário repensar a condição humana para justificar a dignidade da
pessoa. Para fazê-lo, Zilles recupera o exame do problema recordando o que se
pensou sobre o assunto na tradição filosófica do ocidente. Ele esclarece que a Ética
aprofundou o exame do problema lembrando que “ampliamos o conceito de pessoa,
considerando pessoas aos bárbaros, aos índios, aos negros, às mulheres, aos
deficientes físicos, aos gays, enfim, aos diferentes” (p. 11). No entanto,
considerar todos os homens pessoas não é posição unânime entre os filósofos,
bastando lembrar o que pensam Peter Singer e H. T. Engelhardt. Este último diz
que “alguns membros de outras espécies de animais são pessoas e alguns da
espécie humana não o são” (idem, p.
11). Reintroduz-se assim o conceito excludente de pessoa já existente em outros
tempos. O autor considera que as imagens de homem elaboradas na cultura
ocidental: a filosófica, a teológica e a científico-biológica, embora
distintas, “não se excluem mutuamente quando entendidas adequadamente” (p. 13).
Estes seriam os elementos nucleares da obra.
O livro de Urbano Zilles é coerente com sua trajetória
intelectual de pensador católico para quem o tomismo é tomado como perspectiva
ou instrumento de diálogo com o mundo moderno. Neste mundo os filósofos se
defrontam com assuntos científicos e técnicos e não podem deixar de reconhecer
a força destes elementos culturais, embora muitas vezes eles sejam
insuficientes para o esclarecimento de temas como a dignidade humana. Para o assunto, ele mostra, mais contribuíram os filósofos
e teólogos cristãos. Desta forma, ao reconstituir o debate sobre a
dignidade, o autor o fará sem preconceitos, destacando o contributo dos
teólogos cristãos e dos filósofos. Destaque-se como prova do que se disse acima
o destaque que ele dá ao legado de Kant e Husserl para a Ética, a reconstrução
histórica do debate sobre a dignidade humana e, especialmente, o esforço de
situá-lo nos marcos da natureza e da cultura.
Márcia Xavier de Brito Estou com saudades da digna pessoa humana do Mons. Urbano Zilles...
ResponderExcluirObras de Mon.Zilles,ótima leitura.
ResponderExcluirDignidade dos humanos?
ResponderExcluirÓtima reflexão....ser digno.
ResponderExcluirMuito interessante.
ResponderExcluirVou procurar para ler,valeu a dica professor.
ResponderExcluir“Alguns membros de outras espécies de animais são pessoas e alguns da espécie humana não o são” Esta verdade resume nossos tormentos,ainda somos humanos no sentido verdadeiro de humanidade,no trato com nossos semelhantes,no respeito as diferenças.
ResponderExcluirQuando olha para o outro o vejo tão digno de merecimentos quanto todas as garantias e direitos que resguardo para eu,ou sou medido e,na minha medida minha dignidade será superior. Somos tão incompletos e,muitas vezes nos vestimos de tanta dignidade ,e sem olhar com olhos humanos desumanizamos a humanidade de nossos semelhantes.
É difícil interpretar,gostaria de penetrar no resto de humanidade que ainda resta e,a dignidade?
ExcluirVou procurar para ler,parece muito interessante.Obrigado.
ResponderExcluirÉ tomara que a reflexão tenha frutos,mas só o interior humano bom se manifeste,afinal precisamos olhar para dentro de nós,assim até nos conheceremos.
ResponderExcluirInteressante.
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