Não seria fácil encontrar um filósofo-pai com tantos
paradoxos e contradições no decorrer da vida como Jean-Jacques Rousseau. A
começar que nasceu de um parto cuja mãe morreu no seu nascimento. Foi entregue
pelo pai a seu tio que por sua vez o enviou a um sacerdote para estudar.
Apaixona-se por sua protetora Thérése Levasseur com a qual tem cinco filhos.
Não tendo recursos para criá-los e sustentá-los os entrega a um orfanato. Esta
será a saga e trajetória de vida e pensamento de Rousseau.
Comecemos com a concepção de homem individual, em
Rousseau. Seus fundamentos estão principalmente no "Emílio". Conforme ele existe uma oposição entre a
educação da natureza, livre, e a educação da sociedade, deformadora. O homem e
o cidadão distinguem-se. O cidadão é o homem em sociedade. O cidadão e o homem
são inimigos, pois enquanto o homem é universal, a unidade numérica, absoluto,
inteiro, sem relação com nada, a não ser consigo mesmo ou com seu semelhante, o
cidadão é apenas uma fração com denominador e seu valor depende do social. As
instituições sociais, por sua vez, quanto mais desnaturarem o homem, transformarem
o "moi" em "commum", melhores o serão, pois é exatamente
esta a função da vida em sociedade: liquidarem com o homem.
Ainda, conforme ele, constatamos dois tipos de educação:
a pública e a doméstica. A pública é a educação do cidadão, dada pelo Estado.
Educação para fazer os homens se parecerem uns com os outros. A educação para a contradição. É a educação
das instituições sociais como "Religião", "Moral",
"Educação", "Casamento", praticados na educação do Emílio.
A educação doméstica é a do homem, da mãe ou da natureza.
Por ela, se conseguiria formar uma sociedade constituída de tipos ideais com
"Emílios", "Sofias", "Vigários",
"Empregadas", e outros. Uma educação em que que o filho ensina a mãe. a natureza a cima do progresso.
O homem individual, natural para Rousseau, seria puro,
casto, bom, generoso, isto é, teria todas as qualidades que a bondade natural
tem. Para ele, progresso, a ciência como, por exemplo, a Medicina, desprezados
e considerados antinaturais. O homem, quando de posse da ciência e tecnologia,
deturpa a natureza.
O homem da natureza, errante nas florestas, sem
indústria, sem ciência nem tecnologia, sem domicílio, sem guerra e sem ligações
com seus semelhantes, sem desejo de prejudicar ninguém, sem reconhecer sua
própria individualidade, autossuficiente e único, não tinha passado nem
continuidade. Era o homem sempre criança. Neste estado, não havia desigualdade
entre os homens. Isto tudo se quebra quando o homem dá o salto para a
sociedade. Como isto ocorreu? Diz Rousseau:
"O primeiro que, tendo cercado o terreno, se lembrou
de dizer: “isto é meu” e encontrou pessoas bastante simples para acreditar, foi
o verdadeiro fundador da sociedade civil".
Os dois direitos de igualdade e de propriedade nascem de
um ato antinatural, violento. E por ele, o direito de liberdade do outro, ficou
limitado perante o usurpador de uma propriedade. O direito de propriedade, que
para os jus-naturalistas era um direito natural, para Rousseau não passa de um
roubo. Para ele, somente alguém poderia invocar este direito quando a sociedade
lhe conferisse, e assim mesmo, sempre provisoriamente.
A multiplicação da espécie humana, somada às dificuldades
de subsistência geraram dificuldades. Estas premiram os homens no esforço de
utilizarem sua inteligência e conseguiram inventar. As invenções provocaram
relações: grande e pequeno, forte e fraco, devagar, medroso, ousado. Surge,
então, o interesse comum, e com ele, a concorrência. Estabelecem-se
compromissos. E quanto mais o homem era estimulado, mais usava sua razão para
progredir. Começou a usar instrumentos, fez habitações, e com elas, surgiu a
família. Nela nasce a linguagem. Reunião de famílias dá origem às tribos. O
homem começa a elaborar conceitos e com eles as desigualdades. Nascem os
deveres civis, e com eles a ideia de prêmio e castigo. O passo seguinte será a
moralidade. Deve ser abolida: o homem tem a natureza para guiá-lo.
Estava instituída a sociedade libertária.
O projeto agora é voltar à natureza. Renegar a civilização e entronizar o homem natural.
Sociedade deformadora, acredito é o momento que vivemos, perfeito.
ResponderExcluirA constituição da sociedade, começam as desigualdades.
ResponderExcluirMuito boa aula, gostei.
ResponderExcluirMudam os tempos, mas a sociedade familiar permanece, não é perfeita, é real.
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