Um dos desafios de nossos dias é
conseguir dialogar com o mundo que emergiu no século XXI. De certa forma, esse
mundo começou a se desenhar antes desse nosso século, com o fim do comunismo
real e o término da guerra fria de um lado e com a emergência daquilo que o
filósofo Vilém Flusser chamou de sociedade telemática. Hoje escuto falar em
comunismo, mas estou certo de que literalmente essa gente não sabe do que fala.
Atualmente temos poucos estados comunistas no mundo e o comunismo não é uma
ameaça. Coisa diferente é a social democracia europeia que embora tivesse uma
inspiração socialista se ajustou ao estado de direito e a liberdade de mercado.
Nesse sentido os sociais democratas estão próximos dos liberais moderados.
Falemos
então dessa sociedade de massas e da informática? Flusser explicou que ela
possui uma estrutura social nova que ordena as pessoas em torno de imagens.
Nessa sociedade todos ficam conectados pelas imagens técnicas, isto é, imagens
produzidas por aparelhos. Todos se conectam em imagens, numa rede de aparelhos,
mas vivendo em inegável solidão porque o aparelho se interpõe entre o indivíduo
e a sociedade e impede relações laterais e o exercício do pensamento crítico. Flusser
disse essas coisas há mais de quarenta anos e elaborou uma boa imagem do mundo
da internet de hoje, especialmente se entendemos que a rede mundial de
computadores deu um novo perfil à sociedade de massas de que falava Ortega y
Gasset no século passado. Uma sociedade de massas, isso é comum, é um
agrupamento de pessoas imaturas (Ortega chamava o homem-massa de criança
mimada), com conhecimento de um campo, geralmente limitado a alguma profissão
técnica (mas sem um conhecimento geral e humanista à altura de seu tempo).
Tratava-se de pessoas que não se esforçavam e desejavam o prazer, eram contrárias
ao esforço e excelência moral (Ortega os denominava senhorzinho satisfeito).
O homem-massa não aprecia o esforço
moral e nem cuida de sua preparação intelectual, assim prefere um governo
forte, onde não há dúvida e questionamentos, mas uma versão criada e difundida
como verdade. Um protótipo perfeito dessa sociedade foi a experiência nazifascista
que, por ironia do destino se originaram na pátria do humanismo (a Itália) e na
maior cultivadora da filosofia desde a antiga Grécia (a Alemanha). Justo a
Alemanha da venerável universidade de pesquisa, a instituição máxima da busca
honesta pela verdade e pela sinceridade. Não foi à toa que os nazistas
hostilizaram os professores que não se curvaram as suas mentiras. Eles passaram
a controlar as universidades com mão de ferro impondo a mentira, a mais famosa
a de uma raça ariana superior que acabou no extermínio de milhões de pessoas
inimigas do regime e de judeus. O nazismo produziu uma sociedade vazia de
humanismo, de racionalidade e liberdade. Uma sociedade que agia como um
criminoso que quer apagar o mal feito de suas culpas de cujo exemplo mais
terrível foi o campo de Auschwitz. O campo de concentração é produto de uma
sociedade que perdeu o compromisso com a verdade, que eliminou a justiça
independente, que perseguiu juízes independentes, destruiu a democracia e o
estado de direito. Hoje essa extrema
direita destrói o meio ambiente, desprestigia a ciência, difunde o uso de armas
e a novidade foi que inventaram um cristianismo que está longe dos ensinamentos
do jovem carpinteiro de Nazaré.
Embora inicialmente os liberais não
fossem democratas, pois defendiam uma representação política apenas dos grandes
proprietários, aos poucos entenderam que a democracia com liberdade de
associação, imprensa livre e de poderes independentes era a melhor forma de
enfrentar os tiranos, especialmente aqueles que dissimulavam um propósito autoritário.
E não se pode esquecer que liberais de raiz como John Locke e Charles-Louis de Esconda, barão de La Brède e de
Montesquieu desenvolveram a ideia de poderes independentes e harmônicos
como forma de o cidadão se defender do Estado. Em outras palavras, um
judiciário forte, independente e que julga a partir de leis votadas pelos
representantes do povo livremente escolhidos é a base das democracia ocidental
e a melhor forma de defesa do homem comum contra
o poder despótico (o poder absoluto concentrado nas mãos de um tirano).
Estamos diante desse
desafio, defender, nesse novo mundo telemático e que revive as teses da extrema
direita, as boas causas da humanidade que são: o humanismo (o entendimento de
que o homem concreto é o maior valor), a liberdade responsável, o estado de
direito, o meio ambiente, a imprensa livre, a ciência, a racionalidade contra o
antirracionalismo. E para os que creem, recuperar a imagem do Cristo dos
evangelhos: o pregador simples e humilde, o carpinteiro trabalhador, pacífico,
fraterno, caridoso, próximo e amigo dos que sofrem todas as formas de miséria
humana. O jovem profeta da casa de David prometido pelos outros profetas, o
Messias que foi hostilizado e morto pelas autoridades políticas que obedeceram,
por comodismo, aos fanáticos religiosos. Foi a esses últimos que Jesus se
dirigiu em Mt. 21,31: “Em verdade vos digo, que os publicanos e as prostitutas
vos precedem no Reino de Deus.”
Muito bom, professor.
ResponderExcluirMuitos não sabem o que falam, repetem, são papagaios.
A base da democracia, liberdade com responsabilidade, direitos iguais, sem regalias.
ResponderExcluirA César o que é de César.
Em dois mil anos, continuamos pé mesmo.
ExcluirAo recuperar as mensagens de CRISTO, viveremos na paz, seremos verdadeiramente irmãos.
ResponderExcluirMas a ambição, inveja, e a ganância pelo poder, devem ser combatidos.
Quantas verdades, se ler e entender, haverá transformação, estamos aqui para evoluir.
ResponderExcluirO que levamos?
Isto é aprendizagem, entendam a mensagem!!
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