José Ortega y Gasset, nasceu
em Madrid, em 9 de maio de 1883 e morreu na mesma cidade em 18 de outubro de
1955. Foi ensaísta, jornalista, político e, também, professor da Universidade
de Madrid. Ele é considerado o principal filósofo espanhol do século XX,
fundador da chamada Escola de Madrid. Esse pensador tem muito a dizer ao nosso
tempo, por que anteviu muitos problemas que estão acontecendo hoje.
Vivemos dias que
valorizam a liberdade, mas a abordam com dificuldade. Para entendê-la como
realidade humana é necessário pensá-la como tal. Os filósofos do século passado
procuraram explicar o que era a tão desejada liberdade. Para levar adiante tal
projeto tiveram que considerar a crise pela qual passava a sociedade ocidental e
a perplexidade com os rumos tomados pelos acontecimentos.
A meditação
filosófica, junto à liberdade, tratou de outras questões. O homem foi descrito livre,
mas com uma liberdade ameaçada pelo mundo e até por Deus. Por isto Martin
Heidegger diz que ele nasceu sem uma razão, sem destino. Jean Paul Sartre
completou a assertiva afirmando que o homem está mergulhado no absurdo. Em meio
a estas expressões de angústia, solidão e ameaça, conexas à liberdade, surgiram
também explicações menos dramáticas e mais confiantes no futuro do homem. De
todo modo a vida humana, como um que fazer foi percebida mesmo como drama em
meio à liberdade.
Ortega tratou
primeiro de explicar a vida como drama, descrevê-la como risco de se perder em
meio às escolhas livres, mas num segundo momento considerou que esse homem que,
muitas vezes, não sabe o que fazer, vive numa sociedade massas. Essa condição
agrava o seu compromisso de fidelidade a si mesma. A menção ao homem-massa
aparece em vários textos de Ortega e resumia o modo humano de viver a liberdade
sem responsabilidade. O homem-massa, dizia Ortega, é aquele que não aproxima a
liberdade da responsabilidade com as escolhas. Além disso, encontra-se
satisfeito com o que encontrou no mundo, não se empenha em mudá-lo para melhor;
comporta-se como criança mimada, não entende as dificuldades e riscos do viver
e torna-se um especialista ignorante, sabe cada vez mais sobre cada vez menos,
desligando-se da complexidade da vida. É esse homem-massa o responsável pelos
muitos problemas da sociedade de seu tempo.
A vida, realidade fundamental
Na primeira
fase de seu pensamento, Ortega escolheu a vida como tema e se perguntou: o que
é uma vida autenticamente humana? Como a pensamos à luz de uma razão vital?
Ortega explica: “Nossa vida, pois nos é dada –
não a demos a nós mesmos -, mas não nos é dada feita. Não é uma coisa cujo ser
está fixado de uma vez para sempre, senão que é uma tarefa, algo a ser feito,
em suma, um drama. Daí que de pronto, tenha o homem que fazer ideias sobre sua
circunstância e interpretá-la para poder decidir todo o demais que tem que
fazer”. ( p. 123-124).
Eis o que
isto significa: “Ela é única, isto é, não se
repete, acontece numa circunstância determinada que não escolhemos, mas que nos
pode aniquilar, o que lhe confere um conteúdo dramático; é partilhada com
outros homens, o que faz da intersubjetividade uma questão importante; o homem
não é primariamente racional, o que significa que pensamos para viver; herdamos
muito do que se passou o que significa que o homem é histórico. Aprofundemos as
implicações epistemológicas da razão vital” (p. 63).
A vida demanda
enorme esforço. Os conceitos anteriores de ser proclamavam que ser é o que não
necessita de nenhum outro, basta a se mesmo para fazer o essencial. Em Que é Filosofia (1997) afirma: “O ser substancial é o ser suficiente – independente”
(p. 410). No entanto, diz no livro Em
torno a Galileu (1994): “este foi um erro
terrível da época moderna, (...) estar na crença de que o ser primário do homem
consiste em pensar” (p. 124). O
erro consiste em apartar o ser humano do seu entorno.
Ser o que ainda não
se é.
Ortega
fala da nossa vida como uma realidade em construção, algo inacabado até o
momento do desfecho natural que é o morrer. O que se realiza sem o concurso do
indivíduo é natural, mas é o que não se percebe como natural o que o cada um de
nós assume como nosso. O homem é o único ser que pode não se realizar. Uma
pedra não pode deixar de ser pedra, mas o homem pode deixar de ser homem, o que
significa que ele pode deixar de ser o que, no seu núcleo é, ou de realizar sua
vocação.
A sociedade de Ortega y
Gasset
Ortega vivia
um tempo em que a democracia era um ideal. Muitas eram as formas de democracia
que se apresentavam. Para Ortega y Gasset a democracia era importante, mas
acabou fortalecendo uma sociedade de massas. O fenômeno das massas se
generalizou e oportunizou o aparecimento de governos fortes, porque onde
existem massas é preciso que a instituição política dê mostra de sua
autoridade.
O tempo das massas
Então
Ortega que numa primeira etapa havia se dedicado a descrever o que é uma vida
humana autêntica, nessa segunda etapa examina o homem na história. Para Ortega,
houve, durante décadas, um gradual ataque aos valores mais importantes da
cultura, pois as massas não os assumem com ardor. Elas não se preocupam em
vencer os desafios da vida e da história, esperam que alguém faça isso por elas
e para elas: um governo, um líder, um chefe.
O tempo dos
direitos sem obrigações é um período niilista, nele o homem “sentindo-se incapaz busca compensação aniquilando os
valores do mundo” (idem, p.
719). Por isso, a chegada desse tempo de massas foi anunciada por vários
autores como um momento de destruição do ocidente, ou um tempo de crise. Isso
se compreende porque, observa Ortega, nem as elites morais, nem as massas se
prepararam para enfrentar os novos desafios de uma sociedade onde as minorias
deixam de exercer a liderança e as massas esperaram assumir o protagonismo da
história.
Sempre é interessante apreender.
ResponderExcluirMuito boa a leitura.
Uma grande verdade, as massas não se comprometem,muito triste, estamos nestes tempos difíceis.
ResponderExcluirSeria o homem massa um fruto do capitalismo?
ResponderExcluirVive sempre fora de si, de aparências.
Bem temos explicações para o inexplicável, as massas humanas.
ResponderExcluirPerfeito,especialista ignorante, mente vazia e se acha dono da verdade, o sujeito produzido pelas massas.
ResponderExcluirGrande pensador, conseguiu observar para onde a humanidade caminhava.
ResponderExcluirValeu, uma ótima leitura.