René Descartes, nasceu na França, em La Haye, em
março de 1596 e morreu em Estocolmo, em fevereiro de 1650, antes de completar
cinquenta e quatro anos. Foi filósofo, físico e matemático e é considerado o
pai da filosofia e da matemática modernas. Também é conhecido pelo nome latino Renatus Cartesius.
Como
matemático, Descartes aproximou a álgebra da geometria, o que lhe permitiu
criar o sistema de coordenadas que ficou conhecida com seu nome. Apesar de seus
estudos matemáticos serem relevantes, nossa atenção, nesse texto, estará
voltada para sua contribuição ao pensamento filosófico e para o aprofundamento
dos problemas culturais dos séculos XVI e XVII. Conforme resumido em História da Filosofia e Tradições Culturais
(Porto Alegre, EDIPUCRS, 2001. p. 191): “A filosofia parece-lhe, legítima
ciência, porquanto examina o princípio que garante o funcionamento da razão.”
Nos
séculos XVI e XVII surgiu e se consolidou na Europa a ciência moderna na esteira
do humanismo renascentista. Os dois problemas fundamentais do período, como
sabemos eram o da justificativa de construção dos Estados Nacionais e,
especialmente, a fundamentação epistemológica da ciência moderna. Os filósofos foram
desafiados a explicar o processo político e, principalmente, fundamentar a nova
forma de fazer ciência, diversa da praticada na antiguidade e Idade Média.
Estavam, sem síntese, diante do desafio de explicar porque, no âmbito do
conhecimento, a ciência moderna conseguia se apresentar como verdade que tranquilizava
os espíritos.
Como se
sabe (id., p. 181): “o século XVI foi um tempo de mudanças na cultura
ocidental. As navegações revelaram um mundo diferente do descrito nos livros, a
experiência direta mostrou-se importante fonte de informação para conhecimento
do mundo, e, com ela, os paradigmas para o entendimento da realidade cósmica se
modificaram.”
No que
tange à fundamentação dessa nova forma de compreensão da realidade cósmica, Galileu
Galilei articulou os métodos indutivo e dedutivo num novo ordenamento no estudo
da natureza, capaz de fornecer um outro paradigma para entendimento do mundo
natural. Dessa forma, o método científico pediu não apenas uma justificação
epistemológica, a razão pela qual é válida a nova forma de conhecer o mundo,
quanto metafísica, porque trazia uma nova maneira de percepção do cosmo, tema
de nossa última exposição nessas meditações filosóficas. Essa nova compreensão
da realidade natural suscitou ainda uma questão antropológica, o que é o homem
nesse mundo descrito pela ciência? Ele se submete às mesmas leis da natureza ou
tem algo que o singulariza dos seres naturais? São diversas questões. Descartes
encontrou para elas uma resposta de síntese: o homem é parte natureza e parte
pensamento ou espírito, realidades diferentes com funcionamento diverso. Portanto,
ele esclarece, o homem é um ente dual no qual se somam sua realidade material (res extensa) e a dimensão espiritual (res cogitans), irredutíveis uma à outra.
Descartes
chegou a esse dualismo não estudando o funcionamento do mundo natural, mas se
perguntando pelo fundamento do conhecimento. O que assegura o conhecimento e o
torna válido? A certeza subjetiva obtida de forma clara e distinta. Como ele
chegou a essa conclusão? “No Discurso do
Método (1637), ele explicou o significado dessa tarefa: a busca de um
procedimento de investigação capaz de dar unidade ao saber. O novo método devia
substituir o escolástico, que não se ocupava da experiência.” Esse novo método
para pensar o mundo era diferente do que fora desenvolvido pelos cientistas
naturais: Bacon e Galileu, embora não fosse incompatível com as investigações
dos cientistas. Devido a sua formação matemática, Descartes recuperou a questão
trabalhada por Galileu Galilei. Como se poderia proceder, perguntou Descartes,
para se compreender a realidade? Sua resposta foi: partindo-se de um princípio
inquestionável do qual fosse possível deduzir outras verdades? Será possível
obter um tal princípio? Como?
Para responder
a essa questão, o filósofo começou duvidando de tudo, elevando a dúvida ao
máximo grau e concluindo que todos os conhecimentos eram falsos ou poderiam
sê-lo. Porém, esse momento de dúvida extrema lhe ofereceu uma única certeza, a
saber, é possível se enganar sobre tudo, menos sobre a existência da
consciência que duvida, pois se ela não existisse não poderia duvidar. Chega,
então a uma intuição fundamental na quarta parte do Discurso do Método, não a uma dedução, mas a uma intuição: penso,
logo sou, ou ainda melhor: penso, sou. Há em mim uma consciência que, independente
do objeto do pensamento, permite chegar a essa certeza básica. Dela é possível
extrair uma fórmula de certeza: é verdade tudo aquilo que se mostra para minha
consciência de forma clara e distinta, tanto como intuo a minha própria
existência. Assim, a dúvida hiperbólica do início da investigação levou a uma
certeza inquestionável: a realidade da consciência subjetiva. Isso coloca como
certo que o verdadeiro é aquilo que a razão me propõe como tal, nada mais, apenas
aquilo que aparece na consciência de forma clara e distinta.
O
legado cartesiano foi percebido de forma diversa nas diferentes tradições
filosóficas, na Inglaterra foi apreendida pelas reflexões sobre a experiência
no desenvolvimento do empirismo e na França e Alemanha do racionalismo. Em
Portugal, o racionalismo cartesiano levou ao acirramento da moral contra
reformista como foi explicado em Caminhos
da moral moderna, a experiência luso-brasileira (Belo Horizonte, Itatiaia,
1995), mas não temos como entrar sem tema de forma rápida.
Toda a
meditação cartesiana, em que pese suas limitações e problemas discutidos ao
longo de toda Idade Moderna, nos coloca diante de uma questão atual recuperada
pela fenomenologia: o homem possui diferentes dimensões e não pode ser
considerado um ente puramente espiritual ou simplesmente material.
Grandes mestres do pensamento.
ResponderExcluirSempre aprendemos, René Descartes era francês,mais conhecimento.
ResponderExcluirO homem e suas dimensões,uma questão em aberto, grande pensador.
ResponderExcluirForam grandes observadores, nós só copiamos suas teorias.
ExcluirA consciência,podemos sufocar,mas a ética da alma não abafamos.
ResponderExcluirAo PAI da filosofia moderna todo nosso respeito, viveu o suficiente para nos ensinar e ser inesquecível.
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