Sócrates viveu aproximadamente setenta anos entre 470 a.C. até 399 a.C. Morreu depois de um julgamento injusto, como também foi o julgamento de Jesus de Nazaré. A forma como ambos aceitaram a condenação revela grandeza moral e extrema coragem, embora Sócrates no tribunal se comportasse como um bom grego, isto é, argumentando e desmontando racionalmente os argumentos da sua condenação, enquanto Jesus respondeu rapidamente a Pilatos, mas se recusou estabelecer uma polêmica contra seus perseguidores: “Acusado pelos chefes dos sacerdotes e pelos líderes religiosos, ele nada respondeu. Então Pilatos lhe perguntou: ‘Você não ouve a acusação que eles estão fazendo contra você? Mas Jesus não lhe respondeu nenhuma palavra, de modo que o governador ficou muito impressionado.” (Mateus 27:12-14). O evangelho de Mateus mostra que, ao ser denunciado Jesus não retrucou, recusando-se a responder às falsas acusações por julgar que a verdade devia se impor e se ele estivesse num reino de justiça ela deveria se impor. Se Sócrates se defendeu de forma diferente de Jesus, ao ouvir a condenação não fez nada que a modificasse. Aceito-a.
Quando Sócrates viveu, era comum em Atenas, que os cidadãos não somente se reunissem para fazer as leis, mas para zelar pelo seu cumprimento. Cabia, em outras palavras, o exercício direto do poder legislativo e judiciário. Assim foi composto, por sorteio, um júri com 500 cidadãos para julgar Sócrates, depois de ser acusado de corromper os jovens. A vida de Sócrates teve outra semelhança com Jesus, depois de um tempo de juventude dedicando-se aos combates e a defesa de Atenas, passou a vida adulta andando e ensinando, não uma doutrina religiosa, mas as pessoas a pensarem logicamente e a justificarem seus argumentos. Enfim, a viver de forma racional e a não cultivar pensamentos sem a devida fundamentação. Sócrates tinha como sua missão aquilo que depois passou a ser feito por seus discípulos, a defesa do pensamento racional na compreensão do mundo, da vida, do bem e do belo.
O que nos ensinou Sócrates, sua vida e morte? Na sua vida se dedicou a compreensão racional da realidade pessoal e do mundo. E, como consequência, a ajudar os cidadãos de Atenas a fazerem o mesmo. Ao invés de negócios e enriquecimento, ele cultivou o propósito da vida virtuosa como condição não apenas de boa cidadania, mas daquilo que é básico na vida pública e privada. Em outras palavras, não que não se possa viver trabalhando e desejando enriquecer-se, mas ele avaliou que isso somente valia a pena numa sociedade justa e construída com base na confiança de seus cidadãos. Um lugar onde a violência, a irracionalidade (cidadãos invadirem hospital para verificar se ali há doentes de covid 19, como aconteceu nesse fim de semana no Espírito Santo) e inverdades (ou fake News, o novo nome da mentira) imperam não é um bom lugar para viver. Sócrates quis dizer que uma sociedade assim não é um espaço político digno de alguém que entendeu o sentido de viver em comunidade. Isso porque, numa sociedade de violência, irracionalidade e mentira, não era possível viver e confiar no que era dito, inclusive pelas autoridades políticas, sem o que os cidadãos não sabem no que acreditar e mergulham no vazio e na insegurança.
Além dessa atitude de profundo significado político, que
o impediu de propor uma pena alternativa à sua morte, o que certamente seria
aceito pela assembleia e de fugir enquanto poderia, ele aceitou com serenidade
a condenação. O filósofo preferiu viver segundo suas convicções, a assumir que
tinha culpa e merecia a condenação. Por outro lado, uma vez expedida a
condenação não lhe cabia recusá-la, como honesto cidadão. Sócrates é um homem
que não traiu suas crenças, valores e altas convicções. Não cometeu atos
indignos dos quais depois se envergonharia. Ele venceu suas dúvidas ao assumir
com autenticidade sua missão de vida. Ele mostrou que a viver somente vale a
pena quando tem um sentido, um para quê, cujo significado é o compromisso com o
mais autêntico de si mesmo. Viver pela verdade, política, científica,
filosófica e pessoal, é o que nos fica de Sócrates, sua vida e morte.
Sem palavras para definir estes espíritos evoluídos.
ResponderExcluirÉ maravilhoso viver conforme suas convicções, não se dobrar, um homem jamais deveria colocar seu semelhante de joelhos para destruir o conhecimento que ELE carrega no seu ESPÍRITO.
ResponderExcluirSÓCRATES, o exemplo de ética.
ResponderExcluirCRISTO,exemplo de AMOR,duas histórias que se completam, dois exemplos que os tempos não APAGAM.
Sempre as condenações, alguns se achando donos da verdade, algo mudou?
ResponderExcluir500 cidadãos para julgar seu semelhante, sempre a história se repete, agora é o STF, para julgar, viva os imcompetentes, nunca entenderão grandes pensadores, que pensam fora de suas verdades malignas.
ResponderExcluirConcordo, dois julgamentos injustos.
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