Um
dos capítulos mais tristes do século passado ocorreu depois que a extrema
direita assumiu o poder na Itália e Alemanha. Ocorreu aquilo que Karl Jaspers
qualificou como chegada da contrarrazão. Ele assim denominou todo movimento
contrário à razão, ou seja, que nega resultados evidentes da ciência ou
estabelece raciocínios frágeis ou maus argumentos filosóficos. Num ambiente
assim, o exercício do pensamento não assegura, por si só, as melhores escolhas,
ao contrário, o pensamento pode surgir em argumentos muito pouco respeitáveis.
Recentemente tivemos um exemplo disso que foi pedir aos ambientalistas, que
reclamavam do aumento do desmatamento da Amazônia com dados do próprio governo,
que deixassem de ir ao banheiro todos os dias para melhorar o meio ambiente.
O
aumento da destruição da mata amazônica não é invenção de cientistas ou de ONGS
interessadas em se apropriar da Amazônia. A destruição da floresta para
promover atividades agropecuárias em grande escala ou o grande garimpo afetam o
equilíbrio climático, o ritmo das chuvas, favorece o aquecimento do planeta,
todos problemas de graves consequências para as próximas gerações. Problemas
que afetarão gravemente a produção de alimentos e aumentarão as catástrofes
naturais. Ora quando a ciência revela aquilo para o que está preparada, e nos
limites de sua competência, então ela é um saber respeitável que precisa ser
acolhido. Nesses casos, a recusa de admitir seus resultados constitui um obscurantismo
sem par e desconhecer os resultados da investigação científica por interesses
políticos ou ideológicos, uma completa idiotice.
Também
distorceram os fatos os nazistas quando, por razões ideológicas, justificaram a
existência de raças superiores e de vidas indignas que não mereciam ser vividas
com base nas teses da eugenia e da supremacia da raça ariana. O contrário da
razão encontra-se em raciocínios errados, geralmente mistificados. Por isso, a
razão deve confrontar os diferentes argumentos presentes no espaço social. Esse
confronto deve permitir afastar o que é falso e o que é ideologicamente
perigoso. Preservar argumentos inadequados da razão por interesses ideológicos
é um desastre para a sociedade humana. A razão é mais que a inteligência, pois
ela está sempre confrontando os argumentos do pensamento.
No
entanto, e isso também não é pouco importante, a própria ciência estimula
formas inadequadas de pensar como quando quer transformar em absoluto o
conhecimento baseado na razão experimental que utiliza. Nesse caso,
desqualifica crenças que são importantes para o desenvolvimento humano ou
petrifica os resultados de um certo tempo. A ciência precisa se manter nos
limites próprios de seus métodos, renovar-se com as pesquisas, mas essa crítica
à ciência é diferente de manipular os seus dados com propósitos ideológicos,
como fez o governo brasileiro ao recusar os dados do Inpe sobre a destruição da
floresta. Esconder os dados do desmatamento atual não muda a verdade, talvez
afete menos a imagem do país por algum tempo, enquanto prevalecer a mentira. No
entanto, como mentira tem perna curta, logo a verdade aparecerá e essa imagem
ficará muito mais desgastada. Para homens do século XXI, desconhecer os
resultados da ciência ou utilizá-la com propósitos imorais em escolhas mal
feitas são práticas obscurantistas.
Na
medida em que desconhece os dados da ciência, reduz o investimento nas
universidades, o atual governo se mostra inimigo da razão, da inteligência e
menospreza a verdade. E isso é um problema para qualquer sociedade. Se ela
deixa de querer a verdade, se ela despreza o argumento, ela estimula sua
própria destruição. O saber dogmático, rasteiro e míope faz renascer
dificuldades que esperávamos houvessem sido superadas com a destruição do nazi-fascismo
e do comunismo soviético.
Importante.
ResponderExcluirÓtima análise.
Sempre temos a esperança que no andar da carruagem as melancias se acomodem.
ResponderExcluirTudo irá acontecendo da melhor forma.
Sim, a questão da Amazônia é preocupante,mas chega momentos que não sabemos onde está a verdade.
ResponderExcluirComplicado, tempos de se unir para o bem de todos, mas o que se vê é muita falta de compaixão pelo sofrimento do povo, infelismente chegamos onde estamos por falta de opções.
ResponderExcluirNo meu pouco conhecimento sobre tão grandes questões me pergunto,quem tem a verdade, em quem acreditar?
ResponderExcluirNada de amor a pátria, patriotismo, ou piedade do povo, a luta de interesses é o que move tantas batalhas.
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