Ortega y Gasset e Martin Buber são nomes
fundamentais da filosofia contemporânea. Embora integrados à tradição
fenomenológica são autores poucas vezes chamados a conversar. Vamos propor aqui
um diálogo entre esses dois pensadores examinando como eles pensam as relações
entre os homens, que curiosamente abordam na relação Eu – Tu.
Sintetiza-se, a seguir, as relações que abordam
a intimidade do homem quando ele se dirige a outro homem ou às coisas que o
circundam, deixando à parte o que os dois autores falam do relacionamento
social, os usos e costumes, o convívio em sociedade, isto é, aquela dimensão da
intersubjetividade que é objeto da filosofia social, da Sociologia, ou da
formação da cultura.
Eis o que os aproximam: 1. Ambos
reconhecem que a realidade fundamental do homem nasce da relação entre os
homens e que se retirando esse encontro o próprio ser do homem fica
comprometido; 2. O reconhecimento da anterioridade temporal do Tu, que é condição
para a descoberta do Eu; 3. O entendimento de que o encontro com Deus não é
intermediado pelo mundo, é direto, mesmo que não se faça à parte das coisas. Em
ambos isso tem, por pano de fundo, a mediação do místico Eckehart quando ele
menciona o silêncio de Deus nas coisas e a recusa de tomar Deus como objeto de
estudo; 4. A compreensão de que o encontro com as coisas, que se passa no campo
da utilidade e dos costumes, é importante para o homem, mas quando há um
aumento exagerado dessa importância, o indivíduo perde o fundamental da vida e
mergulha na alienação do trabalho inane e sem graça, distanciando-se da vida
autêntica.
As diferenças entre ambos são bem mais
numerosas. Ortega é um filósofo formado na tradição acadêmica do ocidente,
Buber constrói sua filosofia do diálogo tendo por pano de fundo, além dessa tradição,
o pensamento judaico: 1. A distinção que Ortega y Gasset faz ao Tu nas relações
homem – mulher, não mereceram abordagem separada de Martin Buber e, por sua vez,
a tematização do Tu Eterno (Deus), fundamental em Buber, não aparece nos
estudos sobre as relações humanas de Ortega; 2. Ortega coloca na vida vivida na
primeira pessoa a realidade fundamental e faz dela a base da vida autêntica,
Buber encontrará esse elemento definidor do homem não na intimidade dos homens,
mas no espaço intersubjetivo que se forma entre o Eu e o Tu onde ocorre o
dialógico, ou seja, o intercâmbio das palavras princípio. 3. Ortega não enfatiza
a humanidade comum, mas a encontra nas diferenças entre homens e mulheres. Essa
humanidade comum Martin Buber toma dos neokantianos, como também fez Karl
Jaspers e se baseia na crença de que vivemos em comum as limitações,
sofrimentos e culpas; 4. A extensão da relação Eu – Tu para um objeto social
como a comunidade, hipótese aceita por Buber, foi recusada por Ortega y Gasset.
5. Para Ortega o eu concreto, realidade fundamental, nasce como para Buber numa
experiência posterior ao tu, mas a relação entre eles, diversamente de Buber, é
secundária e não fundamental. 6. A relação Eu – Tu, segundo Ortega, transporta
o sujeito para a realidade do perigo, viver parece-lhe arriscado não só porque
se tem que escolher sem garantias, mas porque o outro é alguém que limita e
ameaça, embora também possa trazer boas experiências. Esse entendimento é
diverso de Martin Buber, para quem o encontro entre os homens é o que revela a
humanidade do homem, propicia um tipo de relacionamento total que contempla o
respeito pelo outro. Todas as outras experiências caem para o tipo Eu – Isso.
O afastamento é óbvio, mas o diálogo e aproximação estão completos.
ResponderExcluirPerfeito.
Um dia entenderemos que não precisamos de intermediários,assim como o filósofo, nós nos ligamos ao pai Criador, nosso Deus.
ResponderExcluirA humanidade do homem, o respeito pelo outro, esta é a garantia do conhecimento humano.
ResponderExcluirGrandes mestres.
ResponderExcluirMuitos ensinamentos.
Mas cada um de nós compomos nossa história.
Pensadores e a filosofia completando e respondendo nossas ansiedades e angústias.
ResponderExcluirGrande, afastamento notável, digamos distanciamento.
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