Circula
na internet um texto atribuído ao Juiz Sérgio Moro que comenta a importância da
consciência moral como mola da ação cidadã. Não estou certo da autoria, mas o
texto que corre nas redes sociais lembra o evangelho de Lucas 16, 1-13. O
evangelho é conhecido e retrata o administrador infiel que frauda as dívidas
com o dono da propriedade, que ele representa, para auferir vantagens pessoais
com os beneficiados. Independente da questão teológica, que está voltada ao
modo como se usa os bens desse mundo, o texto precisa ser profundamente
examinado para não dar a impressão de que Jesus elogia a desonestidade do
empregado, o que importa, para o nosso caso, são as palavras do mestre na
conclusão da parábola (Lc. 16, 10): "quem é fiel no pouco é fiel no muito
e quem é injusto no pouco, também é injusto no muito".
O
texto que circula na Internet, atribuído ao juiz Sergio Moro, aponta para algo
parecido, mas não da mesma forma, uma vez que Jesus tinha em vista os bens eternos
e levava em conta a realidade do momento, quando o administrador ganhava uma
comissão por seu trabalho e não propriamente um salário. Afirma o texto das
redes sociais, que o funcionário que faz fotocópias pessoais na empresa, que leva
clipes para casa, que não cumpre toda a jornada de trabalho e que aceita, no
dia a dia, participar de pequenos fraudes, é o mesmo que, quando chega à
política, concordará e participará das fraudes e mal feitos milionários que marcam
a história de nossa República. Em outras palavras, atribui à fragilidade moral do
povo os desmandos de altos funcionários da República. A abordagem, portanto,
lembra, mas é diversa do texto evangélico. Infelizmente, o problema da corrupção em nosso
país ganhou essa proporção porque o sistema político foi arranjado para
favorecer tais facilidades, uma multidão infindável de partidos sem razão de
ser, sem identidade ideológica e que não representam ninguém, a necessidade de
custear um sistema eleitoral cada dia mais caro e baseado em dispendiosas programações
televisivas, fato que somado à tradição patrimonialista de governar e a enorme
confusão que ela promove ao misturar os bens públicos com os dos governantes, a
demora da justiça em punir políticos corruptos, a inúmeras brechas na lei que
fazem com que ricos e poderosos consigam escapar de punições rigorosas, tudo
isso explica melhor a corrupção atual.
Um
raciocínio como esse, se tem razão quando sugere a necessidade da educação
moral, falha ao estabelecer essa cadeia de relações. A tentação à desonestidade
é universal, e o homem é desafiado a ser honesto a cada hora, em cada momento
ao comparar sua ação com o ideal de conduta. Um texto como esse é uma acusação
indevida às pessoas que, ordinariamente, se esforçam diariamente, trabalham
corretamente e ganham a vida honestamente. E são muitas as que lutam em cada
ato para não se beneficiar do que não lhes é devido e viver do justo ganho. A
ação moral é realizada a cada instante e em cada situação.
Por
outro lado, quando se trata da educação moral do povo adianta pouco o discurso moralista
muito a gosto de alguns religiosos. O fundamental para implementá-la é mostrar
como a conduta errada prejudica toda a sociedade inclusive o eventual
beneficiado do momento, que pode ser prejudicado em outro. Do mesmo modo que o
político rouba o dinheiro que poderia ser gasto na saúde, o funcionário da
saúde pode atendê-lo mal, desviando o remédio que o médico receitou e não lhe
oferecendo a dose certa. Ninguém está a salvo disso, mesmo os políticos
espertos que pensam estar recebendo um tratamento adequado e não estão. O que
parece fundamental é a discussão correta com a sociedade dos malefícios
causados pela desonestidade no funcionamento da vida comunitária em razão da
relação que há entre Cultura e Valor, entre Ética e Direito, entre Ética e
Religião. Não se trata do discurso moralista, mas de estudo e fundamentação das
instâncias normativas fundamentais necessárias ao bom funcionamento da
sociedade. Isto se faz com o estudo da moralidade pela ética filosófica, de
preferência na escola regular. O fato é triste quando se descobre que o governo
quer retirar a obrigatoriedade do ensino da Filosofia, quando ele é necessário
para a formação da capacidade crítica do cidadão. Desse episódio a incoerência
daqueles que divulgam o discurso do juiz, mas não se preocupam com o ensino da
Filosofia e nem com a reforma de ensino proposta pelo governo.
O
problema do atual sistema não é que tem muitas matérias é que não tem um
critério adequado para avaliar o que realmente precisa ser ensinado e aprendido
para a formação cidadã em cada uma delas.
Os políticos sempre legislaram em causa própria.
ResponderExcluirPovo que não tem uma educação baseada na ética, acaba trocando valores.
ResponderExcluirAs pessoas que reconhecem e sabem da importância da Filosofia, precisam fazer um abaixo assinado para que a população reconheça a importância e participe das decisões.
ResponderExcluirTexto claríssimo, parece que temos valores destorcidos,a ética que pregamos aos outros e a que nos favorece mesmo antiético permitimos. Sem filosofia e professores conscientes de suas responsabilidade transformadora, continuaremos engatinhando para melhorar uma sociedade que se deixar corromper por favores. Nós povo precisamos ir as ruas fazer um grande movimento em favor da ética, precisamos pensar na sociedade, nas gerações futuras, o que deixaremos de bom, porque de ruim temos triste heranças a nos envergonhar.
ResponderExcluirBom demais, uma realidade. E porque não se organiza um encontro dos filósofos para mostrar aos governantes a necessidade do conhecimento.
ResponderExcluirEstamos vivendo com tão poucos valores que esquecemos nossa obrigação de educadores das gerações futuras.
Ótimo, é um alerta para educar futuras gerações, e aproveitarmos para nos tornarmos um pais sério.
ResponderExcluirO fato é triste quando se descobre que o governo quer retirar a obrigatoriedade do ensino da Filosofia, quando ele é necessário para a formação da capacidade crítica do cidadão. ( Esta é a verdade amigo, cidadão critico aprenderá a escolher seu representante.)
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