Em
outro artigo discuti a reforma do ensino médio proposta pelo governo (MP 746),
mostrando que se nem tudo nela é ruim, a ampliação da jornada escolar e uma
relativa flexibilização das áreas é positiva, ela parece, contudo, não tocar no
essencial que prejudica a qualidade do ensino oferecido. Pretende ainda retirar
disciplinas fundamentais para a formação humana e cidadã (filosofia e artes,
por exemplo), mesmo aumentando o tempo de estudo, sob a alegação de que têm
conteúdo ideológico. Foca no número de matérias, sem perceber que a questão não
está no número delas, mas na quantidade de conteúdo que em cada uma delas se
cobra (ou se devia cobrar no atual modelo, mas na verdade pouco é cobrado), não
representa nenhum avanço na valorização do docente, não cuida da relação entre
objetivos e avaliações.
Hoje
não quero tratar dos diversos itens da proposta, mas fazer uma singela defesa
do ensino da Filosofia. A Filosofia surge no mundo grego e ali foi, não só a
base para o conhecimento da ciências da natureza, como esteve na raiz da
democracia e da participação cidadã na Polis. Difícil entender o que foi a
Polis grega se temos por referência o Estado Moderno ou a vida em nossas
cidades hoje em dia. Se pensamos com nossa experiência atual o essencial se
perde. Como os atenienses se referiam à sua Polis? Eles diziam ser a Polis
coroada de violetas da Deusa Virgem da sabedoria, vivendo junto com seus
cidadãos, todos caminhando cuidadosamente pelo ar transparente. Enfim, para ser
cidadão na Grécia era preciso conhecer Filosofia, tanto para saber o que é o
mundo, quanto para se posicionar nele.
No
entanto, desde sua origem a Filosofia teve adversários. De início, os sofistas
(sofistés) que sem se ocupar da verdade centravam suas questões na solução de
problemas de forma aleatória, argumentando conforme a conveniência do momento.
Houve
um tempo, na Idade Média, em que a Igreja estimulou a prática da Filosofia, mas
houve também momentos em que a autoridade eclesiástica recusou a Filosofia sob
o argumento de que ela afastava de Deus. Na maior parte da modernidade a Igreja
recusou o mundo e a filosofia modernas. O século XIX, sob a ótica positivista,
recusou a Filosofia por considerá-la especulação vazia, baseada numa visão
metafísica que foi superada pela ciência experimental. O marxismo, não enquanto
uma filosofia, mas como pensamento totalitário, também a recusou sob alegação
de que os filósofos muito haviam pensado o mundo, era necessário transformá-lo.
E há a recusa de inspiração utilitarista, esses a consideram um saber inútil
para o enfrentamento do quotidiano. Todos os governos totalitários a recusaram
por medo e desprezo, ou a reduziram a uma única ótica, assim foi no nazismo, no
fascismo, no comunismo, na ditadura militar em nosso país. Todas essas
tentativas foram superadas na história com um entendimento crescente de que a
Filosofia não se impõe pela força, não se legitima pela utilidade, nem se ufana
quando reconhecida.
O
único caminho que lhe cabe é o de argumentar. Como o fez a talentosa geração da
primeira metade do último século quando os filósofos construíram magníficas
justificativas para enfrentar cada um dos argumentos acima citados, mostrando,
resumidamente, que essas posições escondiam filosofias ruins, mas não eram
destituídas de filosofar. Hoje a Filosofia precisa enfrentar novos adversários:
a superficialidade, a pressa e os falsos elogios dos que a veneram de dia e
conspiram contra ela nas madrugadas. Dos que dizem que ela é importante, mas
não a entendem necessária. E, nesses dias de dificuldade, cabe a Filosofia
dialogar e argumentar na defesa da investigação mais consciente da realidade. É
ela o melhor instrumento para a formação da consciência crítica e da comunicação
entre os homens pautada no raciocínio e não na força. Creio que precisamos mais
que nunca, nesses dias confusos, do diálogo e da capacidade crítica para
enfrentar os problemas de hoje: a violência, a superficialidade, a ignorância, a
falta de capacidade crítica para pensar, a incapacidade de ouvir.
Ótima argumentação. Parabéns PROFESSOR.
ResponderExcluirBeleza.
ExcluirFaço minha suas palavras. Uma beleza de reflexão.
ExcluirSeu conhecimento nos trás uma ótima orientação. Filosofia é necessária para formar uma geração consciente.
ExcluirOs políticos e mandatários deste País querem que o povo seja ignorante e quanto menos pensar melhor. (para eles).
ResponderExcluirPodemos ver que o que move hoje os políticos são os mesmos interesses que moviam as igreja no passado, afinal só se salvavam as almas que se penitenciavam doando bens , hoje sabemos que para chegar a Deus não precisamos de intermediários. Filosofia leva-nos a pensar, aprofunda nossos conhecimentos, eleitor pensante vai as urnas consciente de seu dever cívico, não faz trocas.
ResponderExcluirFilosofia é saber, não podemos aceitar.
ResponderExcluirFILOSOFIA - arma contra a ignorância.
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