Temos
vivido tempos difíceis, a economia mundial caminha lentamente desde 2008 e o
Brasil embarcou de vez na crise econômica. Tivemos ano passado uma retração de
quase quatro por cento na Economia, o que é um desastre para um país pobre e
com tantos problemas. Além disso, assistimos um novo processo de impedimento de
Presidente da República, o segundo depois da Nova República do Doutor Tancredo
Neves. E o motivo é o mesmo, o envolvimento de altos funcionários do governo
com a corrupção. Portanto, tempos de crise política. E há também a
contaminação, o SUS está moribundo e elas estão aí: dengue, zika, chikungunya e
H1N1. Vive-se, para completar esse quadro uma espécie de esvaziamento da
criatividade e morte do talento do qual é exemplo a indignação de Ariano Vilar Suassuna,
nosso talentoso romancista e ensaísta, contra a banda Calypso. Indignou-se o velho
escritor, morto recentemente em 2014, com uma reportagem que anunciava a banda
Calypso como retrato da alma brasileira e se referia a Chimbinha como músico
genial. A palestra com a indignação do
poeta Suassuna correu as redes sociais Brasil afora. A banda Calypso representa
a alma do valoroso povo brasileiro? E ainda se perguntava o escritor, como
trabalhador que foi da língua portuguesa, se usamos o adjetivo genial para
qualificar Chimbinha como músico, como vamos nos referir a Ludwig Beethoven ou
a Amadeus Mozart? Nem era preciso tanto podia ter perguntado por Tom Jobim e
Heitor Villa Lobos. Já era suficiente.
Meio
atordoado nesse tempo de dificuldades assisti recentemente um episódio que
teria feito nosso paraibano, autor de Auto
da Compadecida, o Romance da Pedra do Reino e O príncipe do sangue do vai e
volta, viver outro momento de justa indignação. Chegava em Belo Horizonte
mês passado quando uma emissora local, exibia uma propaganda de quase um minuto.
Em meio a um enorme foguetório parecido com a queima de fogos da passagem do
ano em Copacabana, um locutor dizia as seguintes frases intercaladas: Ele vem aí (...), Ele está chegando (...), Ele
vai mexer com você (...), prepare-se pois Ele
vai abalar Belo Horizonte (...), Ele vai fazer o chão tremer (...). E
seguiam-se outras frases semelhantes. Durante aquele minuto em que o locutor
continuava com suas frases enigmáticas fiquei imaginando do se tratava. Minha
imaginação cogitou inclusive a volta do Senhor Jesus. Com a insistência do
locutor convenci-me de que era o fim do mundo. Com tanta desgraça acontecendo Cristo,
para não assustar ainda mais as pessoas, havia dado àquela emissora de
televisão a tarefa de anunciar seu retorno. Tratava-se de uma atitude generosa
do Senhor para não apavorar as pessoas e dar tempo para os últimos
arrependimentos. Daí as frases: Ele vem aí, Ele está chegando, Ele vai mexer
com você, etc. Era mesmo o Senhor, pensei. No final da propaganda diz o
locutor: Wesley Safadão.
Entrei
em choque. O que ele queria dizer: Wesley Safadão está chegando, ele vai abalar
Belo Horizonte, ele vai mexer com os mineiros? Não pode ser. Volta Suassuna,
você precisa permanecer vivo, é preciso ainda indagar: a minha querida capital
não, se Wesley Safadão vai abalar a cidade como vamos noticiar a visita da
Filarmônica de Berlim ou da Orquestra Sinfônica de Nova York?
Em
tempos assim o coração pede que filósofos como Saint Simon e Ortega y Gasset
tenham razão. Eles diziam que na história, aos momentos de crise seguem-se
tempos de calmaria, quando as coisas se assentam. Fica-se em paz até que surja
um novo Safadão cantando a Dama e o Vagabundo. Aí é a certeza de uma nova
crise. Eu só penso e sonho um novo tempo de calmaria, que leve embora Safadão e
essa crise.
Lembra quando se falava, se não fosse trágico seria cômico. O país mergulhado numa recessão, o desemprego tirando o pão da mesa dos desesperados, e a nossa cultura festejando BIG BROTHER e Safadão.
ResponderExcluirMuito sofrimento, esta é a cultura que vemos,
ResponderExcluirimagina a criança se criando neste meio. Vai valorizar o quê?
Movimentos saudáveis e com bons propósitos, fortalecem a democracia mas neste momento cada individuo esta defendendo seus próprios interesses.
ResponderExcluirNão sei o efeito desta reflexão, mas na ironia tem uma grande verdade.
ResponderExcluirLi e gostei muito.
ResponderExcluirEstamos aos poucos perdendo grandes figuras, literárias, politicas e aqueles que tínhamos orgulho quando nos representavam. Este vazio, um desassossego pela falta de lideres deixa-nos a mercê de pessoas falsas, nada a dizer ou transmitir as novas gerações.
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