É opinião corrente entre os gregos e até mesmo recorrente de que a
desgraça da Grécia está relacionada ao sucesso da Alemanha. Com efeito, dizem: roubaram-nos a língua, a filosofia, a ciência, a arte, a matemática
e nos deixaram na miséria. Vejamos o contexto.
No momento a Grécia tem como líder político Alexis
Tsipras- socialista e a Alemanha Angela
Markel - conservador, ambos herdeiros de um passado distinto que se reflete no
presente. O professor Ricardo Vélez
Rodríguez, em "Menos Platão e mais Aristóteles", neste espaço, sugeriu que a Grécia está nesta situação porque não se adaptou às instituições políticas dos países da zona do euro e não tem mecanismos opara desembarcar e ao contrário, a Alemanha não só assimilou como foi protagonista do euro europeu. Aproveitando o tranco concordo, mas acrescento que isso aconteceu também no sentido dicotômico de idealismo versus realismo. A Alemanha condimentou sua política
econômica com mais Aristóteles - realismo, enquanto a Grécia fez o inverso, priorizou Platão - idealismo. Por onde começamos?
Penso que uma data significativa para ambos pode ser o
fim da II Guerra Mundial. A Grécia, libertada da ocupação nazista, alinha-se
com os aliados e por isso sai vencedora; a Alemanha, causadora da guerra, a
perdedora. A primeira, ainda durante o período bélico mundial, envolve-se numa
guerra civil de cunho ideológico-político - socialista versus conservador –
conflito que continuará após o término da conflagração mundial.
A Alemanha assina uma rendição incondicional e a guerra
chega ao final. Já antes do término, os líderes aliados discutem o que fazer
com a economia alemã. A decisão a que chegaram foi de destruir a indústria
alemã e transformar o país numa economia agrícola. Era o Plano Morgenthau. Só
após o fim da guerra este Plano foi mitigado. Assim mesmo, a Alemanha até 1947
definhava economicamente. Um dos problemas era o modelo econômico de mercado adotado
pelos Estados Unidos, Inglaterra e França de um lado e o modelo estatizante da
União Soviética. Ambos excluíam-se mutuamente. A solução encontrada foi dividir
a Alemanha: uma parte ficaria com a Rússia e aí poderia implantar o seu modelo
econômico e outra ficou com os demais aliados e que passariam a adotar o seu
modelo.
Outra medida dos aliados foi de controlar a economia alemã
através de salários e preços congelados e com isso controlariam a economia
funcionando. Era aquilo que chamavam de inflação reprimida. O resultado era o
pior possível. A oferta e demanda se autoeliminavam. Os preços deixavam de
refletir o valor do dinheiro. Consequência: queda na produção, e em
decorrência: escassez. Voltou-se tudo a estaca zero: economia de escambo em vez
de monetária. As empresas passaram a trocar aquilo que produziam por aquilo que
necessitavam. O efeito dominó não demorou. Os empregados também queriam ser pagos
em mercadorias. E eles mesmos passaram a praticar o escambo, isto é, trocavam
mercadorias que tinham por aquelas que necessitavam. Os trabalhadores não
tinham mais incentivo para trabalhar e mesmo ganhar dinheiro. Queriam somente
mercadorias. Como era necessário ter emprego para ter direito às papeletas de
racionamento, conseguiam emprego, mas somente iam trabalhar duas ou três vezes
semanais. O resto do tempo era dedicado a bicos e trocas. Esta situação
econômica levou o país a quase total paralisia, chegando ao ápice em 1948.
A virada ocorre com Ludwig Erhard ao ser nomeado Diretor
da Administração Econômica Bizonal propondo um plano econômico de reforma
monetária junto com uma completa abolição dos controles sobre a economia. Os
aliados receberam com ceticismo e desconfiança a reforma. Mas pouco a pouco o
mercado negro desapareceu, os preços se estabilizaram, as mercadorias
apareceram, os trabalhadores sentiram vontade de trabalhar e ganhar dinheiro e
o povo sentiu vontade de comprar. Já em 1948, a Alemanha cresceu 143% e nas
décadas seguintes uma das maiores taxas de crescimento do mundo.
E o que aconteceu com a economia da Alemanha oriental? Praticamente
se tornou satélite da URSS, sem autonomia, subordinando-se às decisões
superiores de Moscou, enquanto a ocidental, paulatinamente, retoma a vida
autônoma. Nesse contexto, o renascimento dos partidos políticos, na ocidental,
ocorreu com as primeiras eleições administrativas em 1946, quando se
apresentaram à disputa os democratas
cristãos, os sociais democratas e os liberais, permanecendo esses grupos por
quase meio século na arena política. Na zona dominada pelos soviéticos, os
sociais democratas e os comunistas são obrigados a se fundirem, dificultando a
competição para os demais partidos, como os democratas cristãos.
Em 14 de agosto de 1949, realizam-se as eleições na
República Federal da Alemanha que dão a vitória aos democratas cristãos sob a
liderança de Konrad Adenauer, o qual, em setembro, forma o primeiro gabinete de
centro-direita, com os liberais e outros partidos conservadores. Adenauer
escolhe para ministro Ludwig Erhard que leva adiante uma proposta
político-econômica de economia social de mercado. Há que se frisar que a
economia social de mercado não se identifica com o liberalismo econômico e nem
com socialismo. A proposta é originária de ideias político-econômicas da
própria Alemanha. A economia social de mercado pode ser entendida como uma
combinação de liberdade de mercado com a eficiência proveniente da competência,
bem como a garantia de uma existência digna para os setores menos favorecidos
da sociedade.
O sucesso do plano foi secundado por alguns fatores que
não dependeram diretamente do ministro Erhard. Entre eles, pode-se destacar que
a situação catastrófica em que se encontrava a Alemanha não era da
responsabilidade de nenhum partido recém-constituído. Em segundo, havia um
ambiente cultural propício para a operacionalização de novas ideias econômicas,
desenvolvidas durante o período nazista, com o objetivo de reorganizar a
Alemanha após o fim da guerra.
Com o democrata cristão Adenauer no governo, no cargo de
chanceler, e Erhard como ministro da economia, a Alemanha reingressa no
concerto das nações democráticas ocidentais. A União Cristã Social – CDU e CSU
– permanece hegemônica até 1966, quando se inaugura um governo de coalizão com
os sociais democratas.
A trajetória político-econômica da Alemanha foi de
trabalho, poupança, austeridade, não gastar mais que se ganha, um programa
conservador? Se isto é conservadorismo, então, esta foi a ideologia que levou a
Alemanha a uma das nações mais ricas da Europa. Deem-lhe o nome que quiserem,
mas que a receita não é só boa, como ótima. Por outro lado, a Grécia insiste em
implantar um modelo de distribuição de benesses, emprego, redução da jornada de
trabalho, incentivo ao consumo, facilidade de crédito. È um programa
progressista? Se isto for progressismo então esta ideologia levou a Grécia à
pobreza. A Alemanha adota uma visão
aristotélica, isto é, realista enquanto a Grécia fixa-se numa mentalidade platônica
ou idealista.
Aí está posto o paradoxo - aparência de falsidade - mas
verdadeiro: o realismo de Aristóteles, leva ao progresso, e o idealismo de
Platão, à estagnação. Então, por que a Grécia não adota também mais Aristóteles
e menos Platão?
Incriável, mas somos a Grécia. fora da realidade, distribuindo favores e nos achando ricos, agora estão destruindo sonhos dos jovens até de estudar.
ResponderExcluirMuito bom, também é um alerta, aos países como o nosso.
ResponderExcluirAi também precisamos de políticos competentes conhecedores da realidade e não politiqueiros.
ResponderExcluirSe a Alemanha se manteve em austeridade e idealizou um futuro melhor ao seu povo, então devemos seguir o que é real e trás prosperidade, se é esta a fórmula do milagre vamos busca-lo, gregos, brasileiros e quem está balançando..
ResponderExcluirEu que não tenho conhecimento acredito em tudo que analisas, como um país vai sobreviver sem planejamento, sem poupança?
ResponderExcluirTomara que os gregos consigam sair desta crise.
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