O século XXI
se apresenta como um tempo onde as guerras entre Estados são raras, mas em que
crescem os movimentos terroristas, revoltas étnicas e de forças isoladas de
radicais religiosos, políticos e/ou grupos marginais que sobrevivem da droga e
sequestros. Embora inimagináveis no cenário político até o século XX, quando os
Estados Nacionais eram forças soberanas, estes novos grupos fazem coisas impensáveis
até poucas décadas, como foi o ataque da Al
Qaeda ao mais poderoso país da terra.
Outro exemplo
deste novo mundo, onde os Estados Nacionais deixaram de ser o monstro
preconizado por Thomas Hobbes (Leviatã), monstro sempre capaz de esmagar pequenos
grupos, é a invasão do Mali. A República
do Mali é país da África Ocidental, tem nove milhões de habitantes
espalhados por um território de mais de um milhão e duzentos mil km², superfície
duas vezes maior que o Estado de Minas Gerais. Esta República, para os que
estudaram nos antigos mapas da África, é o antigo Sudão francês que adotou o este
nome depois da independência, em 1960.
Com a
independência obtida há pouco mais de cinqüenta anos, a República do Mali nunca passou por período significativo de paz e estabilidade
política. Já enfrentou revolta militar em 1968, Guerra contra Burkina Faso, em
1985 e outra revolta militar, em 1991, desta feita com a suspensão da Constituição.
Este país de nove milhões de habitantes encontra-se ameaçado por uma força de
menos de 6000 homens de quatro grupos diferentes: a conhecida Al Quaeda (serpente de muitas cabeças),
os Defensores da fé, o Movimento Jihadista do oeste da África e a Brigada de Sangue. São grupos terroristas, formados por radicais
islâmicos reforçados por cerca de mil guerreiros tuaregs, povo nômade (berbere)
com cerca de um milhão de pessoas divididas em confederações. As
confederações berberes se esparramam pelo território líbio, do Niger e
adjacências e tinham relações de amizade com o ex-ditador Muamar Kadafi.
Encontram-se sem espaço no novo governo da Líbia e entraram na guerra do Mali. Os
grupos de radicais islâmicos, embora tenham origem diversa, convergem na
filiação ao terrorismo e no uso da força para impor a Sharia, o terrível código de leis derivado do Corão. Em pouco tempo
aterrorizaram a população da parte oriental do Mali, impondo-lhes a lei
islâmica, enquanto as frágeis forças militares do país recuaram para a defesa
da capital.
Depois de ter
metade do território tomado pelos terroristas e o risco de perder o restante, o
governo de Bamako (capital do Mali) fez o que parecia inimaginável: solicitou
ajuda da antiga Metrópole. Encurralado pela circunstância e com antigos laços
com a ex-colonia, o governo francês lançou uma ofensiva contra os terroristas.
A França espera vencê-los rapidamente e passar o controle da ex-colonia a uma
força internacional formada pela Comunidade
Econômica dos Estados da África Ocidental.
A
instabilidade na África Ocidental afeta muitos interesses ocidentais inclusive
brasileiros, confiantes que estamos na retirada do petróleo do pré-sal. Dificilmente
nossa marinha conseguirá enfrentar em alto mar, sem apoio terrestre, piratas e
forças terroristas sediadas em algum país da África Ocidental controlado por
terroristas.
Esta é mais
uma razão para a aproximação entre países lusófonos, cujos interesses em torno
da língua comum, costumes parecidos e negócios emerge neste novo mundo de
configuração inimaginável há algumas décadas. Apenas para lembrar a
Guiné-Bissau (outro país lusófono) está ao lado da confusão no Mali e seus
dirigentes assistem preocupados os rumos do conflito.
Perfeito.Uma aula muito bem explicada.
ResponderExcluirMe senti muito ignorante,sabia muito pouco,obrigado.
ResponderExcluirUm mundo novo para sermos mais irmãos.
ResponderExcluirUm mundo novo e real,mas também contraditório.
ResponderExcluirOs mapas mudam,mas falta entendimento para as pessoas se olharem como irmãos.A Africa somos todos nós.
ResponderExcluirNovo mundo.será?
ResponderExcluirSempre que leio algo tão informativo,fico tentando entender sim,novo mundo para um povo alheio ao novo,sem expectativas.
ResponderExcluirInteressante.
ResponderExcluirÉ o admirável mundo novo nas tecnologias,só precisamos ser mais solidários.
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