Pode-se falar de muitos aspectos de uma
jornada, do caminho percorrido, das impressões vividas no trajeto, da paisagem
com seus encantos e desafios, do olhar em perspectiva para tudo o que foi
experimentado no deslocamento, das lições que o percurso deixou. Sempre há o
que observar e relatar, pois isso que resultou do percurso é a vida já vivida,
a vida que se fez no tempo dessa jornada. Vida é mesmo esse que fazer no tempo.
Tempo é do que trataremos, o que nos tece e
nos torna diferentes do que éramos e, também, mesmo sendo distintos, ainda nos mantém
iguais ao que já fomos um dia. Um pouco fica e outro muda. E o que muda guarda
algo do que ficou. Melhor assim, quando estão unidas essas pontas que amarram o
não mais ao ainda surge um compromisso íntimo de jornada que não nos afasta do
que somos. Essa deliciosa experiência no tempo foi resumida pelo filósofo
espanhol Ortega y Gasset nos seus estudos sobre a vocação. Para ele, o homem só está seguro de si quando é fiel a
sua vocação. Contra o intento de ser o que não é, declara o filósofo, na
segunda parte de España Invertebrada, na fórmula de Píndaro (ORTEGA Y
GASSET, José. España Invertebrada. Obras
Completas. v. III, 2. reimpresión,
Alianza, Madrid: 1994, p. 102): “voltemos as costas para as éticas mágicas e
fiquemos com a única aceitável, que faz vinte e seis séculos resumiu Píndaro em
seu ilustre imperativo: torna-te o que és.”
Esse
tecido da existência, que é o tempo, une no momento presente tudo o que se
passou e se alimenta da esperança e responsabilidade pelo que virá. Assim é
quando está amarrado pela missão existencial que é a concretização social da
vocação. Se não estão presas as pontas do passado e do futuro as escolhas ficam
sem esse fio íntimo que lhes dê coerência e sustentação. É a esperança renovada
e a responsabilidade com o próprio destino que alimenta a vida e impede que o
passado seja simplesmente um cadáver, que possa ter sentido e ser o alimento de
novas coisas. Assim, enquanto a vida continua é a esperança de futuro,
recuperando o passado e alimentando o presente que tecem aquilo que chamamos história.
História que tem raízes na temporalidade do homem, nas escolhas que a vida
permite e nas alternativas que ficam abertas na circunstância, que é única, para
cada pessoa.
A vida humana é história, vivê-la de forma
consciente é assumir a responsabilidade pelo futuro. É essa consciência que
permite entender o passado como tecido de escolhas e não fatalizá-lo. Ao
reconhecer as alternativas anteriores, é possível avaliar as alternativas do
futuro.
Assim, a história já vivida não é apenas a
matéria-prima dos historiadores, mas a possibilidade ainda não criada e por criar.
O futuro não é um prolongamento do passado, mas a poesia a ser rimada a partir
do que se tem por viver.
Perfeito, maravilhoso, nós tecendo histórias.
ResponderExcluirQuando vc fala o que éramos, olhamos para trás e não nos reconhecemos, só o tempo e esta longa estrada chamada vida, consegue nos polir.
ResponderExcluirSe olhamos para trás temos uma história, o futuro um grande projeto, com a diferença que conseguiremos ter mais serenidade.
ResponderExcluirÉ profético, muito interessante, gostei.
ResponderExcluirA vida é um desafio, cada obstáculo uma aprendizagem.
ResponderExcluirA vida é uma responsabilidade, cada um planta o que quer e colhe o que plantou.
ResponderExcluirSe plantou ventos, colhe tempestades.
Olhar para o passado, ensina a não repetir os erros no presente.
ResponderExcluirÉ um belo texto, Reflexão.
ResponderExcluirAí o que pensar, avaliar, aprofundar, entender e talvez reescrever a história.
Não podemos mudar o passado, mas podemos ser melhores no presente.