sexta-feira, 2 de junho de 2017

Alimentando a esperança. José Mauricio de Carvalho




Ainda outro dia li um comentário que o Dr. André Dornelles Dangelo escreveu sobre políticos e filósofos inspirado em Olavo de Carvalho. Não pretendo polemizar com o amigo. Apenas tomei a inspiração para voltar ao tema.
Se for para ouvir filósofos, encontro melhor inspiração em Immanuel Kant e José Ortega y Gasset.  O primeiro o filósofo de Königsberg, que num pequeno ensaio intitulado Sobre a discordância entre a Moral e a Política, a propósito da paz perpetua, (Vozes, 1985) esclarece a diferença entre a moral e a política e com a experiência da modernidade supera a visão grega (platônica) e medieval (Santo Tomás) de que o dirigente político devia ser virtuoso.  Kant esclarece que se é inocência acreditar que A honestidade é a melhor política, é adequado assumir que (1985, p. 130): “a honestidade é melhor do que qualquer política (...), sendo mesmo condição indispensável da política”. Assim, ao mesmo tempo que descarta o governo de um moralista político (ao modo de Platão e dos moralistas católicos) já que não se pode ajustar a moral aos interesses do Estado, por outro lado é necessário o político moral, que concebe os princípios do Estado e do bem da sociedade fazendo-os coincidir com os interesses da moral. Desse modo, ele superou definitivamente a posição maquiavélica de que a Política é espaço contrário à moral, explicando que os princípios maquiavélicos: faz primeiro e desculpa depois, se fizer negue, divide e impera, etc. são (p. 140): “máximas políticas que (usadas por nossos políticos) não enganarão ninguém, pois são universalmente conhecidas”. Assim Kant recompõe as coisas. Se não é possível um governo de filósofos como queria Platão, também não o é o de um político que marche abertamente contra a moralidade e as leis.
Por sua vez, Ortega foi professor na Universidade de Madrid. Ele esclarece que a Política não é apenas espaço do pensamento, mas da ação. E num pequeno ensaio denominado Mirabeau o el político (O.C., Alianza, v. III, p. 601-637) mostra que esse personagem da Revolução Francesa conseguiu, com seu vigor, encontrar um caminho para a crise revolucionária da França. Por isso, Ortega descarta a presença do filósofo na vida política, pois o filósofo não é homem de ação. Em política não se pode ser como filósofo que contempla e analisa atos, quando é preciso agir. E, em seguida, diz (p. 622): “A vida de um grande homem político muda de aspecto no momento em que começa a atuar como homem público”. Porém, se ao agir o político é filósofo, sua missão é resolver as crises de seu povo e do seu tempo.
Nenhum dos dois filósofos patrocina a imoralidade, a corrupção contra os interesses da sociedade. Ou nenhum filósofo proclama o roubo da coisa pública não importa a ideologia. E ao voltar aos dois, pretendo primeiro dizer que todos os políticos corruptos devem ser presos e o dinheiro da propina devolvido integralmente aos cofres públicos. E para isso os corruptores que os levaram ao poder seriam os fiadores da dívida e companheiros de cela.
Por sua vez se não enterro a esperança de um país melhor sei que ele não virá sem algumas condições. Quando a elite sócio-econômica quis fazer entender que a culpa da crise era do PT, afirmei que a questão era mais ampla. O PT é parte do esquema, apenas não fazia o interesse dessa elite queixosa. E agora é hora de dizer, afastar Temer e colocar lá o Presidente da Câmara ou Senado adiantará pouco. Eleições diretas com as regras que aí estão não mudará nada: (dezenas de partidos, eleição cara, sem voto distrital, sem fidelidade partidária, sem uma lei dura contra a corrupção) 1. ou levará um novo ladrão à Presidência ou 2. alguém que, agindo honestamente, não governará. Portanto, é preciso acabar com o conluio entre maus empresários e políticos com uma duríssima lei anticorrupção, fazer novas regras eleitorais para a próxima eleição direta (que desencoraje a roubalheira) e ter um governo de transição com especialistas nas respectivas áreas e descolado da atual classe política. Tudo isso sem fugir da Constituição e do Estado de Direito. Nomes para liderar esse governo não faltam.



5 comentários:

  1. Beleza, grande aprendizagem.

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  2. Colocas todos os pontos que estão fragilizados e precisam mudar, só precisamos de boa vontade.

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  3. É a verdade, novas regras, transparência e ética.

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  4. Infelizmente temos que reconhecer que os políticos são frutos da sociedade.
    Portanto todos estamos adoecidos,iludidos pelo ter, acumulamos riquezas, nem nos perguntamos quem vai se beneficiar, dependendo nas mãos de quem receber, pode ser mais um golpe na ética. E assim vamos só querendo acumular. Na velhice o que conta para nosso bem viver, será quem conquistamos com nosso carinho e afeto.

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  5. Tudo que diz publico, deve ser em beneficio da sociedade, todos devem se beneficiar.

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