O pensador polonês
Zygmunt Bauman é o autor da teoria da sociedade liquida.
Nasceu em 1925, em Poznán. Na II Guerra Mundial combateu no
exército russo. Pertenceu ao partido comunista polaco, mas desfilhou-se devido
às experiências fracassadas no leste europeu.
Graduado em sociologia
pela URSS chegou ao cargo de professor universitário. Inicia sua carreira
acadêmica na universidade de Varsóvia, mas é afastado devido aos seus escritos,
censurados pelo Partido Comunista. Sai da Polônia devido às perseguições
antissemitas e radica-se na Grã-Bretanha, como professor titular da Universidade
de Leeds. Durante sua carreira conquista vários títulos acadêmicos. Atualmente
está com 90 anos e participou de um debate em Burgos numa promoção do Foro da
Cultura em cujo evento, em novembro, dá uma entrevista. Várias questões lhe
foram postas. Destacaria algumas:
1.
A democracia diante do modelo político
democrático. É preciso haver um casamento entre poder e política. O primeiro é
a capacidade de atuar e o segundo selecionar o que é mais urgente ou
necessário. Na cidade-estado de Atenas origina-se a democracia que combina
perfeitamente poder e política. Aí, um grupo é considerado cidadãos iguais, a
democracia, os eupátridas. Funcionou principalmente por que havia identidade de
interesses do grupo local com as medidas políticas a serem adotadas pelo estado.
Na
idade moderna, o modelo grego recebeu a forma de democracia liberal cujo modelo
foi praticado na Inglaterra. Politicamente tinha como critério o censitário,
isto é, os mesmos interesses econômicos e políticos de grupos locais. Com isso,
tanto o local como o estado combinavam, pois o estado atendia os interesses
locais.
No
período contemporâneo, de nação-estado, surge a universalidade da participação
política criando uma dicotomia entre os interesses localizados e as políticas
globais. Neste modelo, a democracia entrou em crise, pois o poder é universal e
a política tem demanda local. Não há mais interdependência entre o poder e a
política. O todo não tem o querer local e o local não tem poder global. Concretamente
pode ser amenizado através do voto distrital que contempla algumas demandas sociais
locais e globais.
2.
A dicotomia entre liberdade e segurança.
Um dos temas que
Bauman atribui maior importância é o dilema entre liberdade e segurança. Pensa
o autor que são dois valores dificílimos de conciliar. Se quisermos segurança
deves renunciar certas liberdades e o inverso, se preferirmos liberdade,
ficamos expostos à insegurança. A crença na liberdade absoluta levou a
sociedade à orgia de consumo. Tudo estava ao alcance de todos mediante o
crédito. Este pode satisfazer a todos os desejos e o próprio sistema econômico
dissemina esta ideia. Mas, quando acaba o crédito, como acontece atualmente,
cai-se numa dura realidade. A classe média, então, foi a mais atingida, pois
passou a viver em situação de precariedade. Tudo era incerto, provisório: o emprego,
a empresa, os bens que se possui. O conflito de classe foi substituído pelo de
sociedade. A barreira não é mais a classe, mas a sociedade. E a falta se
segurança acabou atingindo a liberdade. Neste momento o homem perdeu a
liberdade e a segurança.
Outro tema caro de
Bauman é o ativismo das redes sociais. Acha que aquilo que é chamado de
identidade própria, como as comunidades das redes, é algo puramente imaginário
por que comunidade se tem ou não. O que se pode fazer é criar artificialmente
um substituto da comunidade. Nesta cada uma lhe pertence, nas redes a
comunidade lhe pertence. Todos podem acrescentar amigos, eliminá-los, podem
controlar sua comunidade. Mas na vida real não é assim, Há necessidade de
interagir com outras pessoas, há que se dialogar e aí volta o conflito que
parecia eliminado nas redes sociais. As redes sociais podem fazer bem, mas são
apenas engodos, cedo ou tarde, mostram sua artificialidade.
O pano de fundo do
pensamento de Bauman e sua matriz condutora é o conceito de sociedade liquida
em oposição à sociedade sólida. Parte da constatação do fim das ideologias
(comunismo, socialismo e capitalismo). Agora não há mais por que lutar, sonhar,
refletir, planejar. Em vez de o homem conduzir a história é o mercado que a
conduz. Este dita regras, estabelece comportamentos, derruba valores
existentes. A vida passa a ser desordenada, não há mais uma previsão de
comportamentos. Cada um se move conforme os apelos momentâneos do mercado.
Fonte: Estado de
crisis. Zygmunt Bauman y Carlo Bordoni. Traducción de Albino Santos
Mosquera. Paidós. Barcelona, 2016.
Vitor Hugo Gerhard é necessário continuar repensando os pilares da sociedade e da convivência humana. Sem isso corremos o risco de alguns naufrágios
ResponderExcluirEnfim meu preferido. Grande em conhecimento e humano.
ResponderExcluirNos tornamos uma sociedade de alienados, líquidos, facilmente manipuláveis, vivemos correndo e não paramos para pensar, não conhecemos a nós mesmos, como vamos valorizar e manter nossos relacionamentos? Aceitamos tudo como novo, não nos damos o privilégio de analisar se é bom, se é necessário? Afinal tudo é descartável. O tempo é um bom conselheiro, mas precisamos nos recolhemos para entender nossas dores e angustias. Medicamentos curam ou acalmam as dores do corpo, mas as dores da alma clamam pelo silêncio. Se tudo tem seu tempo, estamos chegando ao fim de algo que se desfaz, a liquidez está implodindo seres humanos, vidas inocentes. Estamos pagando um preço alto demais pelo consumismo, onde consumimos a nós mesmos.
ResponderExcluirUma interpretação e comentário com tanta propriedade só pode ser de alguém familiarizado com o tema. Parabéns.
ExcluirMuito bom e atual seu artigo.
ResponderExcluirToda ânsia por mudanças está nos tornando maquinas.
ResponderExcluirEliminamos amigos, acrescentamos e aceitamos amigos virtualmente. Conquistar e conservar amigos muito poucos conseguem.
ResponderExcluirÉ tanto destempero em nossa sociedade que, precisamos parar para não esquecer valores.
ResponderExcluirSociedade liquida, maleável e BURRA.
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