Ontem bateu à porta de casa uma
simpática menina vestida de bruxa. Ao ser atendida soltou logo: trick or treat. Consegui entender que
era a festa de Halloween. De início fiquei surpreso com a simpática bruxinha.
Preferi dar os doces já que não conhecia seu poder de fazer travessuras. Depois
comecei a pensar em quantas vezes em minha vida passei por situação semelhante
nesta antes cristã cidade de São João del-Rei. Não foi preciso muito tempo para
concluir que em meus quase sessenta anos de vida jamais passei pessoalmente por
semelhante situação. Vi coisas assim nos filmes norte americanos. As crianças
daqui se fantasiavam de anjos e seguiam as procissões durante o ano (31 de
outubro é o dia de Nossa Senhora do Rosário) ou de índios, odaliscas, piratas e
personagens como esses no carnaval.
E o que é a festa de Halloween da
simpática bruxinha? É uma comemoração de origem celta com mais ou menos 2500
anos de existência. Segundo a crença celta, em 31 de outubro, os espíritos saem
do cemitério para se encarnar nos vivos e voltar a vida, ocupando um corpo que
não lhes pertence. Tem origem celta os britânicos, norte americanos e
canadenses. Pois bem, conta a lenda que para assustar esses espíritos invasores
(e desocupados do além) os celtas decoravam as casas com o que acreditavam
seria capaz de espantar essas almas penadas: ossos, caveiras, abóboras enfeitas
com ossos e/ou representando figuras assustadoras. As crianças entravam na
festa se fantasiando de bruxas, dráculas e outras coisinhas semelhantes com o
mesmo propósito de espantar os espíritos vagantes. Como festa pagã jamais
entrou na Europa católica, sendo as pessoas acusadas de bruxaria mortas nas fogueiras.
Foi um triste capítulo do catolicismo medieval a queima das bruxas, espetáculo
de ignorância que não pode se repetir. Explica,contudo, porque a festa não
chegou a Europa continental e nem em suas colônias, pois representavam crenças
contrárias aos ensinamentos das igrejas cristãs. De todas elas. Porém, sobreviveu
entre os povos de origem celta, apesar de se converterem ao cristianismo. Ficou
como parte do folclore local, coisas de esquizofrenia cultural, que também
ocorre em outros povos. No caso, a festa é mais comemorada nos Estados Unidos
do que entre outros países de origem celta.
Nesses últimos anos, como forma de
difundir a dominação cultural norte- americana, os cursinhos de inglês promovem
entre seus alunos essa brincadeira macabra que nada tem a ver com a tradição
cultural de nosso país e/ou com nossas crenças. Na internet houve uma reação
tímida às comemorações do Halloween com referência ao dia do Saci. De fato 31
de outubro é o dia do Saci Perere, aquele moleque travesso criado pelo
imaginário das tribos indígenas do sul do Brasil, que acabou sendo representado
como negro, com gorrinho vermelho e cachimbo. Na transformação que sofreu o Saci
perdeu uma perna jogando capoeira. O Saci é a encarnação do menino travesso que
se diverte com animais e pessoas: queima o feijão da cozinheira, esconde
objetos pelas casas, assusta crianças e animais, etc.
Achei criativa a lembrança do Saci, mas o
foco, parece-me, deva ser outro. Não se trata de recusar tudo o que vem de
fora, seria xenofobia. Nem queimar bruxas, seria fazer piada com um triste
passado de que devemos pedir perdão. Porém é preciso receber os elementos
culturais importados com crítica. Dos americanos, por exemplo, podemos aprender
a limpeza, o amor ao trabalho, a
seriedade nos compromissos, a cidadania, o respeito aos símbolos nacionais.
Seria ótimo. Eles têm também filósofos como Ralph Waldo Emerson, Ernst Nagel,
Eric Voegelin, John Rawls e escritores criativos como Ernest Hemingway, F.
Scott Fitzgerald, Trumam Capote e John Hersey. Todos merecem ser lidos e estudados.
Há também músicos e cantores de talentos como Nat King Cole, Whitney Houston e
Sinatra que podemos apreciar. Nesse sentido, conclamo o cursinhos de língua
inglesa de nosso país a divulgar essa face universal da cultura americana, além
da língua inglesa, que é importante veículo de comunicação. Universal é aquilo
que atinge o mais alto e nobre do humano, para além da circunstância em que foi
produzido. Quanto a festa de Halloween melhor deixar os espíritos vagantes dos
celtas para lá. Temos coisas mais interessantes para aprender e viver.
Uma verdadeira aula, será quem sai por aí se fantasiado de bruxa sabe o significado?
ResponderExcluirQuerido, viu o que a ignorância faz,, melhor seria copiar o respeito as coisas publicas, á ética e amor a pátria.
ResponderExcluirTemos coisas mais interessantes para aprender e viver.
ResponderExcluirCOM CERTEZA TEMOS, DEIXARMOS DE SERMOS MACACOS IMITADORES.
Veja bem começou nos cursinhos, que cultura hein?
A palavra mais certa é mesmo SUBMISSÃO.
ResponderExcluirTodos grandes filósofos deveriam ser lidos concordo, mas veja bem, poucos são ensinados desde a infância a ler, o começo seriam as historinhas para as crianças, instigar a curiosidade, ensinar o amor aos livros.
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